domingo, 13 de outubro de 2013

A Historiografia

     
      A Historiografia



     Depois de acompanhar certos historiógrafos nas suas investigações, compreendi a sua minucia e rigor com que descrevem os seus informes públicos sobre fundações, edifícios canónicos, monumentos medievais, os ainda edificados e os desaparecidos, que tanto quanto se sabe pouco há publicado.
     Historiógrafos estudam com rigor heurístico e herméticas monografias e consultam manuscritos antigos em arquivos históricos. E da cópia de um conto acrescendo um ponto a fazerem de uma escrita hermética a metodológica renovada com factos da sua interpretação para dignificar a escrita.
     As descrições de uma personagem emerge em diferentes manuscritos, com cada fonte a pintar o seu retracto: “a do cavaleiro medieval idealizado: forte, valente, leal, justo e piedoso.” E outras fontes menos favoráveis, cuja forma é grosseira desgraciosa, funestam feia e pesada.
     Em algumas monografias copiadas foram-se rasurando e entrelinhando palavras a fazerem desaparecer o verdadeiro sentido ou acontecimento.
Exemplo:
     Encontra-se hospício ou casa de hóspedes rasurado ou entrelinhado a assinalar casa de acolhimento ou albergue, concordância com pousada, e estabelecimento de caridade para pessoas pobres, e recolhimento para doentes, para pessoas com perturbações mentais.

*Heurístico - que respeita à descoberta


                                                                         II




      Todos os volumes históricos actuais são traduções em português moderno. Os textos antigos, em parte fragmentados, foram conjugados pelos autores compiladores contemporâneos que, hoje abrangem uma obra completa de vários textos originais, que o espírito de um cronista que relatou os vários acontecimentos que se descrevem no presente numa sequência, através de pequenos resumos a intercalar o melhor sentido entre os textos assegurarem a continuidade.
     Com grande minicidade nas traduções, para que não se alterarem os termos, mentalidade e sensibilidade exprimidas nas escritas originais. Apesar que nem sempre é possível transmitir a verdadeira expressão em vocabulário moderno com as particularidades das épocas remotas, com escritas que fazem pouco sentido no tempo actual. Quanto mais antigo o texto pior a interpretação.


 As reminiscências da minha imaginação do tempo medieval


      A minha tendência é imaginar um vulto a mover-se na sua época com a sua espada. Imaginar é como se visiona-se a vida de grandes guerreiros como D. Afonso I com todo o seu equipamento militar para uma peleja.
Imaginei-o de elmo ou bacinete com uma viseira com uma grelha a defender-lhe o rosto. Dentro de uma armadura de ferro a resguardar o tronco; braçais a revestirem os braços com manoplas (luvas) de ferro articulado com que empunhavam a sua lança ou espada.
     Quando passo ao redor das muralhas de um castelo, recordando descrições antigas por mim lidas, entro na torre de menagem, e vou medindo o espaço em que os seus senhorios caminhavam com uma gorra na cabeça enfeitada com uma petulante pena de faisão, vestidos de gibão de fazenda grosseira – casaco ou jaqueta de cor de azul-escuro, grená ou verde lagarto com um saião curto, até aos joelhos desnudados, e pernas branquinhas á mostra com grevas a resguarda-las. Calcavam borzeguins bicudos com presilhas e cano acima do tornozelo  
      As lendas e os seus prestígios começam com a criação de vultos de antanho no seculo XII, e que levam as pessoas do nosso tempo que os nossos antepassados eram autênticos gigantes nos tempos remotos.


     Não podemos conceber que a população crista do condado Portucalense fosse de estatura meã, nem de vida enfermiça e curta. Os factos científicos comprovam pelo que demonstram os esqueletos dos homens medievais, geralmente muito mais franzinos dos que os homens de hoje, salvo as raras excepções como os germanos e escandinavos, a quem podemos atribuir uma estatura elevada às raças nórdicas, de pele branca ou rósea, olhos azuis ou verdes e barba ruiva de tom avermelhado.
A média de idade estava entre os trinta e os quarenta anos, apesar da teimosia da grande corpulência e longevidade exagerada por muitos descritos.
     Tive a experiencia como vulgar cidadão de entrar dentro de algumas armaduras de cavaleiros medievos do seculo XII no castelo de Carcassonne em Franca.

     D. Afonso Henriques não tem qualquer retracto ou busto, e todas as suas imagens foram desenhadas com a dedução dos seus autores. Sabendo-se que D. Afonso I era bisneto do rei de França D. Roberto, e que se fazia acompanhar por fidalgos da mais alta estirpe francesa, constituída por famílias que só se cruzavam entre elas. Os barões germanos e escandinavos que esfarraparam o império romano, assolaram o território europeu com a casta dominante, que veio dar origem à segunda dinastia monarquia Francesa.


                   A minha Viagem na Idade Média



      A história de Portugal começa com o primeiro rei D. Afonso I, e com o aspecto político-social, o Feudalismo, gerador de laços de dependência enraizados na terra, caracterizava a sociedade medieval. Assentava num sistema de obrigações e deveres simbolizado pela homenagem prestada por um vassalo ao seu suserano. Esta consistia num acto físico em que o vassalo se ajoelhava diante do seu soberano, colocava a sua mão na dele e prometia ser-lhe leal e servi-lo na guerra. A vassalagem, exigindo confiança mútua, proporcionou durante séculos alguma estabilidade à Europa.
     O sistema feudal gerou um código de cavalaria em que a lealdade e a coragem física se destacavam na lista das virtudes… Originou, também, uma nobreza habituada às armas e aos cavalos. Em troca do serviço militar, recebia o seu feudo.
     Depois do primeiro rei D. Afonso I, apareceram uma prole de congéneres com diferentes posturas. Os magníficos, os boémios os artistas, os penulários, os esforçados e os arruaceiros de má índole.

 A representação do Paraíso no imaginário clerical medieval



     Gradualmente, porém, a cavalaria adoptou um código complicado obrigando todo o homem que conquistasse as suas esporas a defender atá à morte o seu senhor feudal, a sua fé em Deus ou a honra da sua dama.
     Esta classe guerreira, abandonando tudo e todos, em nome da fé em Deus, alistou-se nas grandes Cruzadas quer do Oriente, quer do Ocidente (Península Ibérica), pondo à prova a sua valentia. Após as Cruzadas, e graças a uma economia florescente, a Provença torna-se viveiro de Trovadores, intérpretes dos sentimentos amorosos, segundo dizem os historiadores Fernanda Costa e Rogério de Castro, que também assinalam que a Igreja desempenhou, na época medieval, um importante papel quer na salvaguarda e transmissão da cultura, quer na sua criação. «As catedrais eram mais do que centros de culto; eram, simultaneamente, teatro e palco, biblioteca, galeria de arte e escola. A Idade Média foi, de facto, uma era de Fé: teocêntrica, concebia a vida terrena como um penoso caminhar em direcção ao além. A arte, compreendida como um processo de elevação e purificação do homem, estava directamente relacionada com a religião.»

     O historiador Roberto Lopez faz passar a ideia de que «tomava-se Deus por testemunha de qualquer compromisso; pedia-se a bênção para todo o empreendimento; procurava-se um pretexto piedoso para toda a distracção; media-se o tempo pelas horas canónicas. Havia um exorcismo para todas as doenças, uma fórmula para esconjurar os insectos que devoravam as searas. Deus era chamado a estabelecer a verdade nos processos, pelo duelo em relação aos nobres, pelas provas da água a ferver, do ferro em brasa e do fogo em relação aos servos; ou, se estes métodos eram afastados a fim de "não tentar Deus", pelo "sacramento" ou juramento dos interessados sobre os Evangelhos ou as relíquias.»

Enquanto os guerreiros procediam à ocupação militar, os monges efectuavam a penetração cultural.
     A maioria da população Europeia, inclusive uma grande parte dos nobres, eram analfabetos a viver mergulhados numa cultura oral, que passava de pais para filhos com as manifestações menos pragmáticas. Dessa cultura ou tradição, construíram-se narrativas e cantigas, que os jograis difundiam nas ocasiões festivas. Produções nas línguas nacionais de origem, vistas hoje em literaturas europeias. a literaturas propriamente dita  começara nos séculos XI e XII na península ibérica, com a poesia trovadoresca; com a poesia provençal e as canções de gesta, actual território a sul de França.
     Os homens distinguiam-se pela sua sabedoria vinda pela sua formação literária. Os letrados eram quase sempre oriundos da burguesia ou membros do clero. Desempenhavam na sociedade tarefas especializadas para as quais adquiriram formação específica: físicos (médicos), boticários, tabeliães... a ocupavam frequentemente posições importantes da administração régia. 

     Na sociedade medieval, o povo era uma classe homogénea de homens livres chamados a plebe ou vilãos, entre eles havia os mais abastados, que tendiam o comércio e riqueza, chegando alguns a ascender à nobreza enquanto outros viveram pobremente. Fora desses havia os servos que não tinham o mesmo grau de liberdade dos vilãos. Estavam dependentes de um senhor, nobre ou religioso, para o qual tinham de trabalhar. À medida que os séculos passaram os servos foram ascendendo à condição de homens livres, com grandes serviços prestados em batalhas, receberam a liberdade e engrossaram as fileiras dos vilãos.
Os escravos foram sempre em número reduzido. Basicamente este grupo era constituído por cativos de guerra (mouros) que trabalhavam tanto no campo como na cidade.

      A cultura literária era quase exclusiva do clero. O ensino estava dentro das catedrais, mosteiros e conventos até ao século XV. Os "livros" eram todos «manu scriptum», (manuscritos) e, por isso, extremamente caros. As oficinas de copistas funcionavam em alguns mosteiros que se dedicavam a produzir textos em latim com um conteúdo essencialmente religioso, só para uso da Igreja.
  A partir do século XII, a cultura literária começou a sair para fora das catedrais e dos mosteiros. Pouco e pouco foram surgindo nas grandes cidades escolas particulares, onde um mestre ensinava aos seus discípulos. Igreja procurou controlar essa actividade, autorizando o ensino apenas àqueles que possuíssem a "licentia docendi" (daí o termo "licenciado") a burguesia, instruídos por uma autoridade eclesiástica,reitor. Depois surgiram as universidades ("universitas scholarium et magistrorum"), a primeira em Paris (1215), e logo de seguida várias outras como Lisboa, (1288-1290) transladada para a cidade de Coimbra.


 «Manu scriptum» - documento escrito ou copiado à mão sobre um suporte físico - pele de animal, geralmente de cabra, carneiro, cordeiro ou ovelha, preparada para nela se escrever




As igrejas

Uma igreja medieval não se destinava apenas a lugar de culto, servia também de ponto de reunião e de recinto de diversões. A igreja era a sede do concelho de uma povoação, para deliberarem sobre os mais diversos assuntos. - Normalmente nas aldeias os paroquianos interpelassem o padre sobre furtos ou perdas que haviam tido.

 Nos recintos das igrejas eram palcos de divertimento; dançava-se e ouviam-se trovadores e jograis, e representações de autos e "mistérios". O espaço interior
Uma igreja medieval não se destinava apenas a lugar de culto. Na falta de outros edifícios públicos, servia também de ponto de reunião e até de recinto de diversões. Na igreja congregavam-se muitas vezes os vizinhos de um concelho para deliberarem sobre os mais diversos assuntos. Na igreja dançava-se, ouviam-se trovadores e jograis, representavam-se autos e "mistérios". Na igreja havia um espaço destinado a refeitório e acolhimento, segundo diz o historiador Oliveira Marques: «A Sociedade Medieval Portuguesa comia, bebia e dormia na igreja quando necessário». 

  As Escritas Seculares

     As escritas seculares com as suas piedosas crenças de santos prodigiosos por frades com a configurar lendas por ensejos galanteadores em poesia, afastava a verdadeira historia, para construir uma cheia de crendices que têm resistido de pé a todas as violentas tempestades sociais dos últimos séculos. 
     - Eu que tantas vezes me responsei aos santos, mas eles nunca me quiseram ouvir. Nunca houve responso que me valesse ou ninguém acudiu às minhas rezas. Mas houve quem ao meu olhar tivesse um milagre feito, quando ainda não tinha passado meia hora, depois de ter pedido a um sacerdote que fizesse a seu favor um responso, uma ovelha desaparecida á dias saía pela mão do sacristão da casa do ferrador, que era habitual roubar. Salvo seja a alegria, fez com que a senhora se tornasse mais devota e viesse a chorar comovida.
Tive que sorrir a socapa da ingenuidade da velha senhora e da fé que tinha do padre.
As crenças arreigadas, antigas, vindas com os séculos  de tradição familiar rústica do povo com hábitos religiosos que desconheciam os padres mercadores. «Gente rústica simples de coração aberto de crenças enraizadas. Viviam a medrar entre as classes a que se subordinavam montados em muares (burros)»
     Ainda hoje nas aldeias as mulheres rezam responsos para que ele faça aparecer o que lhe sumiu, e disso se valiam os padres

     O nosso passado é hoje contado como um momento de entusiasmo febril, muito longe da realidade, que por ser uma grande era poética com “Os Lusíadas”, não deixa de ser agonizante. Com a morte de Luiz Vaz de Camões, fechou-se o ciclo de um povo que entra em desespero com a alma rendida pelas forças perdidas à beleza apagada numa época infeliz dita afortunada.
      Roma também teve a sua grandeza e a sua época de expansão, e sem que se saiba como, dado a tantas crendices existentes, só podemos imaginar que, houve de repente uma digestão apologética de doença e cansaço que terminou com a dureza do espírito numa noite negrume.
Luiz Vaz de Camões, esteve em todas as obras cíclicas, entre elas a lenda de Inês de Castro, e muitas outras histórias com repto da eloquência tribunícia.

     O século XV era uma época em que o povo português vivia na pobreza, na ignorância e no medo com a exploração da igreja, de quem recebiam em troca do seu dinheiro um papel, certificado da salvação.
A Alemanha, dividiu-se por ser um povo com uma visão mais aberta, com o maior número de pessoas a virarem-se contra o papado ao lado do monge Lutero, que foi esclarecendo ao povo as atrocidades e as falsas profecias da igreja.

      O país que mais lucrou no mundo. Os que mais fizeram pelo comércio foram os ingleses, porque os portugueses só lhes abriram os caminhos tenebrosos a contemplarem a glória em poesia lírica sem astucia mercantil. Os rendimentos líquidos pertenciam aos britânicos, flamengos, que foram levando todo o ouro.
A expiação do heroísmo português ficou gravada na face da magnanimidade de uma medalha manchada de nódoas, coberta de pó.  
     No século XV e XVI havia a dita classe da arraia-miúda, que vivia basicamente da pesca e da agricultura de subsistência. Os nobres viviam das rendas que cobravam pelas suas terras aos camponeses. E o tesouro real era sustentado pelos mercadores, os que compravam sedas, corais, marfim, ouro, e especiarias do oriente, para venderem aos países do norte da Europa.