A Historiografia
Depois de acompanhar certos historiógrafos nas suas
investigações, compreendi a sua minucia e rigor com que descrevem os seus
informes públicos sobre fundações, edifícios canónicos, monumentos medievais,
os ainda edificados e os desaparecidos, que tanto quanto se sabe pouco há
publicado.
Historiógrafos estudam com rigor
heurístico e herméticas monografias e consultam manuscritos antigos em arquivos
históricos. E da cópia de um conto acrescendo um ponto a fazerem de uma escrita
hermética a metodológica renovada com factos da sua interpretação para
dignificar a escrita.
As descrições de uma personagem emerge em
diferentes manuscritos, com cada fonte a pintar o seu retracto: “a do cavaleiro
medieval idealizado: forte, valente, leal, justo e piedoso.” E outras fontes
menos favoráveis, cuja forma é grosseira desgraciosa, funestam feia e pesada.
Em algumas monografias copiadas foram-se
rasurando e entrelinhando palavras a fazerem desaparecer o verdadeiro sentido
ou acontecimento.
Exemplo:
Encontra-se hospício ou casa de hóspedes rasurado ou entrelinhado a
assinalar casa de acolhimento ou albergue, concordância com pousada, e
estabelecimento de caridade para pessoas pobres, e recolhimento para doentes,
para pessoas com perturbações mentais.
*Heurístico - que
respeita à descoberta
Todos os volumes históricos actuais são
traduções em português moderno. Os textos antigos, em parte fragmentados, foram
conjugados pelos autores compiladores contemporâneos que, hoje abrangem uma
obra completa de vários textos originais, que o espírito de um cronista que
relatou os vários acontecimentos que se descrevem no presente numa sequência,
através de pequenos resumos a intercalar o melhor sentido entre os textos
assegurarem a continuidade.
Com grande minicidade nas traduções, para
que não se alterarem os termos, mentalidade e sensibilidade exprimidas nas
escritas originais. Apesar que nem sempre é possível transmitir a verdadeira
expressão em vocabulário moderno com as particularidades das épocas remotas,
com escritas que fazem pouco sentido no tempo actual. Quanto mais antigo o
texto pior a interpretação.
As reminiscências da minha imaginação
do tempo medieval
A minha tendência é imaginar um vulto a
mover-se na sua época com a sua espada. Imaginar é como se visiona-se a vida de
grandes guerreiros como D. Afonso I com todo o seu equipamento militar para uma
peleja.
Imaginei-o
de elmo ou bacinete com uma viseira com uma grelha a defender-lhe o rosto.
Dentro de uma armadura de ferro a resguardar o tronco; braçais a revestirem os
braços com manoplas (luvas) de ferro articulado com que empunhavam a sua lança
ou espada.
Quando passo ao redor das muralhas de um
castelo, recordando descrições antigas por mim lidas, entro na torre de
menagem, e vou medindo o espaço em que os seus senhorios caminhavam com uma
gorra na cabeça enfeitada com uma petulante pena de faisão, vestidos de gibão
de fazenda grosseira – casaco ou jaqueta de cor de azul-escuro, grená ou verde
lagarto com um saião curto, até aos joelhos desnudados, e pernas branquinhas á
mostra com grevas a resguarda-las. Calcavam borzeguins bicudos com presilhas e
cano acima do tornozelo
As lendas e os seus prestígios começam com a
criação de vultos de antanho no seculo XII, e que levam as pessoas do nosso
tempo que os nossos antepassados eram autênticos gigantes nos tempos remotos.
Não
podemos conceber que a população crista do condado Portucalense fosse de
estatura meã, nem de vida enfermiça e curta. Os factos científicos comprovam
pelo que demonstram os esqueletos dos homens medievais, geralmente muito mais
franzinos dos que os homens de hoje, salvo as raras excepções como os germanos
e escandinavos, a quem podemos atribuir uma estatura elevada às raças nórdicas,
de pele branca ou rósea, olhos azuis ou verdes e barba ruiva de tom
avermelhado.
A
média de idade estava entre os trinta e os quarenta anos, apesar da teimosia da
grande corpulência e longevidade exagerada por muitos descritos.
Tive a experiencia como vulgar cidadão de
entrar dentro de algumas armaduras de cavaleiros medievos do seculo XII no
castelo de Carcassonne em Franca.
D. Afonso Henriques não tem qualquer
retracto ou busto, e todas as suas imagens foram desenhadas com a dedução dos
seus autores. Sabendo-se que D. Afonso I era bisneto do rei de França D.
Roberto, e que se fazia acompanhar por fidalgos da mais alta estirpe francesa,
constituída por famílias que só se cruzavam entre elas. Os barões germanos e
escandinavos que esfarraparam o império romano, assolaram o território europeu
com a casta dominante, que veio dar origem à segunda dinastia monarquia
Francesa.
A minha Viagem na Idade Média
A
história de Portugal começa com o primeiro rei D. Afonso I, e com o aspecto
político-social, o Feudalismo, gerador de laços de dependência enraizados na
terra, caracterizava a sociedade medieval. Assentava num sistema de obrigações
e deveres simbolizado pela homenagem prestada por um vassalo ao seu suserano.
Esta consistia num acto físico em que o vassalo se ajoelhava diante do seu
soberano, colocava a sua mão na dele e prometia ser-lhe leal e servi-lo na
guerra. A vassalagem, exigindo confiança mútua, proporcionou durante séculos
alguma estabilidade à Europa.
O sistema feudal gerou um código de
cavalaria em que a lealdade e a coragem física se destacavam na lista das
virtudes… Originou, também, uma nobreza habituada às armas e aos cavalos. Em
troca do serviço militar, recebia o seu feudo.
Depois do primeiro rei D. Afonso I,
apareceram uma prole de congéneres com diferentes posturas. Os magníficos, os
boémios os artistas, os penulários, os esforçados e os arruaceiros de má
índole.
A
representação do Paraíso no imaginário clerical medieval
Gradualmente, porém, a cavalaria adoptou
um código complicado obrigando todo o homem que conquistasse as suas esporas a
defender atá à morte o seu senhor feudal, a sua fé em Deus ou a honra da sua
dama.
Esta classe guerreira, abandonando tudo e
todos, em nome da fé em Deus, alistou-se nas grandes Cruzadas quer do Oriente,
quer do Ocidente (Península Ibérica), pondo à prova a sua valentia. Após as
Cruzadas, e graças a uma economia florescente, a Provença torna-se viveiro de
Trovadores, intérpretes dos sentimentos amorosos, segundo dizem os
historiadores Fernanda Costa e Rogério de Castro, que também assinalam que a
Igreja desempenhou, na época medieval, um importante papel quer na salvaguarda
e transmissão da cultura, quer na sua criação. «As catedrais eram mais do que
centros de culto; eram, simultaneamente, teatro e palco, biblioteca, galeria de
arte e escola. A Idade Média foi, de facto, uma era de Fé: teocêntrica,
concebia a vida terrena como um penoso caminhar em direcção ao além. A arte,
compreendida como um processo de elevação e purificação do homem, estava
directamente relacionada com a religião.»
O historiador Roberto Lopez faz passar a
ideia de que «tomava-se Deus por testemunha de qualquer compromisso; pedia-se a
bênção para todo o empreendimento; procurava-se um pretexto piedoso para toda a
distracção; media-se o tempo pelas horas canónicas. Havia um exorcismo para
todas as doenças, uma fórmula para esconjurar os insectos que devoravam as
searas. Deus era chamado a estabelecer a verdade nos processos, pelo duelo em
relação aos nobres, pelas provas da água a ferver, do ferro em brasa e do fogo
em relação aos servos; ou, se estes métodos eram afastados a fim de "não
tentar Deus", pelo "sacramento" ou juramento dos interessados
sobre os Evangelhos ou as relíquias.»
Enquanto
os guerreiros procediam à ocupação militar, os monges efectuavam a penetração
cultural.
A maioria da população Europeia, inclusive
uma grande parte dos nobres, eram analfabetos a viver mergulhados numa cultura
oral, que passava de pais para filhos com as manifestações menos pragmáticas.
Dessa cultura ou tradição, construíram-se narrativas e cantigas, que os jograis
difundiam nas ocasiões festivas. Produções nas línguas nacionais de origem,
vistas hoje em literaturas europeias. a literaturas propriamente dita começara nos séculos XI e XII na península
ibérica, com a poesia trovadoresca; com a poesia provençal e as canções de
gesta, actual território a sul de França.
Os homens distinguiam-se pela sua
sabedoria vinda pela sua formação literária. Os letrados eram quase sempre
oriundos da burguesia ou membros do clero. Desempenhavam na sociedade tarefas
especializadas para as quais adquiriram formação específica: físicos (médicos),
boticários, tabeliães... a ocupavam frequentemente posições importantes da
administração régia.
Na sociedade medieval, o povo era uma
classe homogénea de homens livres chamados a plebe ou vilãos, entre eles havia
os mais abastados, que tendiam o comércio e riqueza, chegando alguns a ascender
à nobreza enquanto outros viveram pobremente. Fora desses havia os servos que
não tinham o mesmo grau de liberdade dos vilãos. Estavam dependentes de um
senhor, nobre ou religioso, para o qual tinham de trabalhar. À medida que os
séculos passaram os servos foram ascendendo à condição de homens livres, com
grandes serviços prestados em batalhas, receberam a liberdade e engrossaram as
fileiras dos vilãos.
Os
escravos foram sempre em número reduzido. Basicamente este grupo era
constituído por cativos de guerra (mouros) que trabalhavam tanto no campo como
na cidade.
A
cultura literária era quase exclusiva do clero. O ensino estava dentro das
catedrais, mosteiros e conventos até ao século XV. Os "livros" eram
todos «manu scriptum», (manuscritos) e, por isso, extremamente caros. As
oficinas de copistas funcionavam em alguns mosteiros que se dedicavam a
produzir textos em latim com um conteúdo essencialmente religioso, só para uso
da Igreja.
A partir do século XII, a cultura literária
começou a sair para fora das catedrais e dos mosteiros. Pouco e pouco foram
surgindo nas grandes cidades escolas particulares, onde um mestre ensinava aos
seus discípulos. Igreja procurou controlar essa actividade, autorizando o
ensino apenas àqueles que possuíssem a "licentia docendi" (daí o
termo "licenciado") a burguesia, instruídos por uma autoridade
eclesiástica,reitor. Depois surgiram as universidades ("universitas
scholarium et magistrorum"), a primeira em Paris (1215), e logo de seguida
várias outras como Lisboa, (1288-1290) transladada para a cidade de Coimbra.
«Manu
scriptum» - documento escrito ou copiado à mão sobre um suporte físico - pele
de animal, geralmente de cabra, carneiro, cordeiro ou ovelha, preparada para
nela se escrever
As
igrejas
Uma
igreja medieval não se destinava apenas a lugar de culto, servia também de
ponto de reunião e de recinto de diversões. A igreja era a sede do concelho de
uma povoação, para deliberarem sobre os mais diversos assuntos. - Normalmente
nas aldeias os paroquianos interpelassem o padre sobre furtos ou perdas que
haviam tido.
Nos recintos das igrejas eram palcos de
divertimento; dançava-se e ouviam-se trovadores e jograis, e representações de
autos e "mistérios". O espaço interior
Uma
igreja medieval não se destinava apenas a lugar de culto. Na falta de outros
edifícios públicos, servia também de ponto de reunião e até de recinto de
diversões. Na igreja congregavam-se muitas vezes os vizinhos de um concelho
para deliberarem sobre os mais diversos assuntos. Na igreja dançava-se,
ouviam-se trovadores e jograis, representavam-se autos e "mistérios".
Na igreja havia um espaço destinado a refeitório e acolhimento, segundo diz o
historiador Oliveira Marques: «A Sociedade Medieval Portuguesa comia, bebia e
dormia na igreja quando necessário».
As
Escritas Seculares
As escritas seculares com as suas piedosas
crenças de santos prodigiosos por frades com a configurar lendas por ensejos
galanteadores em poesia, afastava a verdadeira historia, para construir uma
cheia de crendices que têm resistido de pé a todas as violentas tempestades
sociais dos últimos séculos.
- Eu que tantas vezes me responsei aos
santos, mas eles nunca me quiseram ouvir. Nunca houve responso que me valesse
ou ninguém acudiu às minhas rezas. Mas houve quem ao meu olhar tivesse um
milagre feito, quando ainda não tinha passado meia hora, depois de ter pedido a
um sacerdote que fizesse a seu favor um responso, uma ovelha desaparecida á
dias saía pela mão do sacristão da casa do ferrador, que era habitual roubar.
Salvo seja a alegria, fez com que a senhora se tornasse mais devota e viesse a
chorar comovida.
Tive
que sorrir a socapa da ingenuidade da velha senhora e da fé que tinha do padre.
As
crenças arreigadas, antigas, vindas com os séculos de tradição familiar rústica do povo com hábitos religiosos que desconheciam os padres mercadores.
«Gente rústica simples de coração aberto de crenças enraizadas. Viviam a medrar
entre as classes a que se subordinavam montados em muares (burros)»
Ainda hoje nas aldeias as mulheres rezam
responsos para que ele faça aparecer o que lhe sumiu, e disso se valiam os
padres
O nosso passado é hoje contado como um
momento de entusiasmo febril, muito longe da realidade, que por ser uma grande
era poética com “Os Lusíadas”, não deixa de ser agonizante. Com a morte de Luiz
Vaz de Camões, fechou-se o ciclo de um povo que entra em desespero com a alma
rendida pelas forças perdidas à beleza apagada numa época infeliz dita
afortunada.
Roma também teve a sua grandeza e a sua
época de expansão, e sem que se saiba como, dado a tantas crendices existentes,
só podemos imaginar que, houve de repente uma digestão apologética de doença e
cansaço que terminou com a dureza do espírito numa noite negrume.
Luiz
Vaz de Camões, esteve em todas as obras cíclicas, entre elas a lenda de Inês de
Castro, e muitas outras histórias com repto da eloquência tribunícia.
O século XV era uma época em que o povo
português vivia na pobreza, na ignorância e no medo com a exploração da igreja,
de quem recebiam em troca do seu dinheiro um papel, certificado da salvação.
A
Alemanha, dividiu-se por ser um povo com uma visão mais aberta, com o maior
número de pessoas a virarem-se contra o papado ao lado do monge Lutero, que foi
esclarecendo ao povo as atrocidades e as falsas profecias da igreja.
O país que mais lucrou no mundo. Os que
mais fizeram pelo comércio foram os ingleses, porque os portugueses só lhes
abriram os caminhos tenebrosos a contemplarem a glória em poesia lírica sem
astucia mercantil. Os rendimentos líquidos pertenciam aos britânicos,
flamengos, que foram levando todo o ouro.
A
expiação do heroísmo português ficou gravada na face da magnanimidade de uma
medalha manchada de nódoas, coberta de pó.
No século XV e XVI havia a dita classe da
arraia-miúda, que vivia basicamente da pesca e da agricultura de subsistência. Os
nobres viviam das rendas que cobravam pelas suas terras aos camponeses. E o
tesouro real era sustentado pelos mercadores, os que compravam sedas, corais,
marfim, ouro, e especiarias do oriente, para venderem aos países do norte da Europa.