quinta-feira, 27 de março de 2014

Joana da Gama

Joana da Gama – (Viana do Alentejo, 1520?- Évora, 1586)

Joanna da Gama. Naceo em a Villa de Viana do Alentejo de Pays nobres quais erão Manoel Casco, e Filippa da Gama. Como se visse livre do vinculo conjugal por morte de seu marido com quem fora casada anno e meyo anhelando a estado mais perfeito fundou na cidade de Evora hum Recolhimento intitulado do Salvador do Mundo onde recolhida com algumas companheiras de que erão as principaes Catherina de Aguiar, e Brites Cordeira observavão a Regra de S. Francisco sendo seus Directores os filhos d'este grande Patriarcha. Ao tempo, que esperava da benevolencia do Cardial D. Henrique estabilidade para o novo edificio foy demolido por sua ordem para mayor extensão do Collegio dos Padres Jesuitas ordenando às Recolhidas fossem viver em casa de seus parentes até lhe fundar outra habitação. Com excessivo sentimento deixou Joanna da Gama o lugar, que o seu espirito elegera para se dedicar a Deos, fallecendo a 21 de Setembro de 1586. Jaz sepultada na Igreja da Misericordia de Evora em sepultura propria. Compoz.

     São poucos os historiadores que se dignam falar da literatura Joana da Gama, «por consideram uma escritora menor.» No entanto a sua obra, muito pessoal, surge num período decisivo no que diz respeito à promoção feminina em Portugal, porque nos Cancioneiros da poesia medieval não há indício nenhum da existência de mulheres poetizas, e o amor foi um tema de predilecção.
     No fim do século XV as coisas vão mudando e no primeiro quarto do século XVI, modificaram-se as mentalidades da nobreza e da plebe mais instruída. As senhoras da nobreza, sobretudo as que frequentam a corte progridem, em torno das rainhas D. Leonor, mulher de D. João II, de D. Maria, esposa de D. Manuel I, e de sua filha mais nova Infanta D. Maria de Portugal- duquesa de Viseu. E, um grupo de senhoras instruídas da nova geração que pretendem ser iguais aos homens, e tratam de adquirir uma cultura humanista, chegando a estudar literatura línguas e artes, e algumas tentam viver da sua pena.
     Entretanto o grande impulsionador da cultura portuguesa, Garcia de Resende (1516), não se sabendo se na cidade Lisboa ou Évora, nomeia entre cerca de 300 poetas de um Cancioneiro vinte cinco damas, salvo erro.


Joana da Gama, não era uma dama da corte nem uma mulher muito culta. Provavelmente viveu quase toda a sua vida na "província", em Évora. Mas teve a sorte de gozar de uma independência excepcional. O facto de ter vivido em Évora deu-lhe a incidência de uma grande formação. Évora deixara de ser uma Cidade provinciana, sendo muitas vezes visitada por gente da corte: Infanta D. Maria de Portugal; Cardeal-Infante D. Henrique que ali residiu depois de ter sido nomeado arcebispo, apesar de se comportar como um mecenas, favorecendo a literatura e as artes.
      Uma das informações sobre a escritora é, obviamente um testamento assinado por Joana da Gama, conservado no Arquivo da Misericórdia de Évora. Tito de Noronha, que editou a obra de Joana da Gama em 1872, indica um manuscrito conservado na Biblioteca de Évora onde é qualificada como solteira, embora a aprovação do testamento diga que é viúva. Talvez Tito de Noronha não tenha visto ele próprio os documentos citados, e tenha utilizado uma transcrição incompleta. Não sendo assim, ele teria falado com certeza duma disposição particular do testamento, cujo original se perdeu.
O texto que se encontra no Arquivo do Distrito de Évora é uma cópia, com letra muito cuidada e data de 14 de Abril de 1597. Abre com esta declaração:


     Em nome de Deos Amen. Saibão os que esta cedola e testamento, e ultima vontade virem como eu Joana da Gama beata por não fazer profissão e estar sempre na posse de minha fazenda posso testar della e por não saber a çerteza da hora em que nosso Sñr me querera levar desta vida prezente sendo moradora nesta çidade de Evora estando sãa e em meu perfeito juizo e entendimento temendo a morte faço e ordeno esta minha çedola e testamento nesta maneira seguinte.

Públia Hortência de Castro

Públia Hortência de Castro
 Vila Viçosa, 1548 - Évora, 1595?

     Públia Hortência de Castro, primeira mulher licenciada e que falou em público, perante os homens mais eruditos do seu tempo.
     Na sua terra natal aprendeu as primeiras letras. Devido à inteligência e capacidade demonstrada, foi estudar sob a protecção do seu parente Arcebispo D. José de Melo, que a matriculou Universidade de Évora no curso de filosofia ainda com 17 anos de idade. Que já assombrava com as suas capacidades de raciocínio os seus doutos professores.
     Em 1571, prestou as provas finais para alcançar o grau de licenciada, tendo ficado célebre a sua argumentação, que impressionou fortemente as doutas personalidades que a inquiriram. André de Resende, seu mestre, que rendeu-se às qualidades da sua discípula espantado com a sua capacidade demonstrada. Mais tarde passou a estudar com o seu irmão na Universidade de Coimbra tendo aí estudado Retórica, Humanidades e Metafísica.
     Depois começou a defender as suas teses sujeitando-se a todas as críticas e interrogações. Embora tivesse publicado sob a cobertura do anonimato, é a primeira mulher com obra original em língua portuguesa de que há conhecimento.
     A grande capacidade cultural de Hortência de Castro chegou á corte portuguesa, e passou fronteiras, e chegou à Infanta Maria de Portugal, como sua leitora, com também passou a conviver nos Paço Real de Évora, e no Paço ducal De Vila Viçosa, palco de debates literários tertúlias, saraus de poesia, música e teatro, onde apareciam nobres de várias cortes europeias. Que competia com os maiores centros de cultura:
escorial de Paris e Bolonha. Depressa espalhou a notícia do prodígio, por entre os sábios estrangeiros dos círculos culturais de Espanha, França e Itália, que causou assombro e despertou a curiosidade das mais insignes figuras da época.
     Os Ditos de Hortência de Castro, trovas, vilancetes, sonetos, cantigas, romances, foram publicados, segundo se crê, pela primeira vez antes de ser monja, e depois, com reflexões morais.
     Como aconteceu com todas outras mulheres, antes e depois dela, geralmente ignoradas ou desprezadas pelos historiadores da filosofia e da literatura, com mais motivos de desinteresse do que desatenção como pareceram revelar
     Com o desastre de Alcácer-Quibir, e com o falecimento da infanta Maria de Portugal ocorrido á um ano atras, a cidade de Évora ficou nas mãos dos jesuítas e da santa inquisição. Públia com os seus 33 anos, solteira sem fortuna e poder, a sua cultura de nada servia no meio da magistralidade da igreja.

     Num alvará da torre do tombo datado em 1581, Públia Hortência de Castro, que continuava solteira recebe, do rei Filipe I de Portugal 15000 reis de tença anual para se sustentar e recolher-se no mosteiro dos Agostinhos de Évora com a sua solidão a escrever versos com cariz filosófica e religiosa. Faleceu no mosteiro com quarenta e sete anos, encontrando-se no mesmo lugar sepultada.

Poeta D. Afonso Sanches

    Poeta D. Afonso Sanches (24 de maio de 1289-02 de Novembro de1329) foi um nobre trovador, filho bastardo (depois legitimado) e predilecto de Dinis I de Portugal, havido de Aldonça Rodrigues Talha, e pretendente ao trono português.
     «A obra poética de Afonso Sanchez apresenta características das mais singulares dentro do âmbito da lírica galaico-portuguesa. As nove líricas d’amor inscrevem-se, quanto à textura formal, no número das mais requintadas do género, como exemplos de cantigas de mestria à maneira provençal. Com efeito, os temas, a estrutura métrico-estrófica e a retórica revelam um poeta culto e conhecedor da tradição poética, embora capaz de variações por meio do registo irónico que, na última cantiga, adquire um aberto carácter de troça do formalismo trovadoresco.»

    Várias cantigas de amor de Afonso Sanches são agora consideradas de grande qualidade, realçando-se a perfeição da sua tenção com Vasco Martins de Resende, um dos seus escárnios de amor e a paralelística que traz a sua assinatura.
     O seu tema quase único era o amor. Um amor no geral sem correspondência, apesar da grande coita (dor de amar e não ser correspondido) que provoca, da sinceridade e empenho com que o vive o trovador. Compreensivelmente, o núcleo principal da sua obra foi constituído pelas cantigas de amor.
A cantiga de amor era uma forma bastante fixa, em certo sentido comparável ao soneto, até no tamanho. Mas ao contrário deste, muito fixo ao nível de versificação e muito livre em relação ao tema, esta cantiga era bastante fixa relativamente ao tema e oferecia certa margem de liberdade ao nível da versificação.

     Afonso Sanches tem várias cantigas dentro do esquema da cantiga de amor ao modo provençal; mas tem outras, ditas fragmentárias, que com bastante clareza se afastam dele. 
     Tematicamente, estas cantigas insistem no serviço amoroso. Como é da convenção, o poeta assume uma atitude de grande humildade frente à senhora que, no seu caso, parece ser sempre solteira – refere uma vez «huna donzela que ey por Senhor», outra vez «a donzela/ por que trobei» e, numa cantiga fragmentária de amigo, menciona-se «a donzela por que sempre trobou» certo apaixonado. Tece-lhe o elogio, mas um elogio genérico, sem particularização nem sequer ao nível psicológico-moral, quanto mais a nível físico, como era da norma. O trovador pode dirigir-se à senhora, declarar-lhe a sua «coita mortal», pode defender-se de «muitos» que lhe assacam que ele está a receber favores da amada, mas é sempre uma retórica à volta de uma paixão que não se consuma.

     Estes poemas originalmente seriam de grande perfeição formal; nas versões em que chegaram até nós, apresentam às vezes falhas que desmotivam a leitura. As cantigas a que chamam fragmentárias – apesar de, em termos temáticos, terem um evidente fechamento e de as suas estrofes obedecerem, quase sem excepções, ao mesmo esquema rimático e métrico - são, em certo sentido, mais convincentes.

Frei Miguel da Cruz - Inquisidor


Frei Miguel da Cruz - Inquisidor


     De madrugada ao nascer do sol, saía um fumo espesso dos campos, e um inebriante mau cheiro vindo do rio tejo a fazer-se sentir entre o incenso dentro das igrejas.
     Os jardins do palácio da Ribeira eram palmilhadas por aparições, ditas por quem os podia ver entre as estátuas e bancos de pedra. Referidos pelos rústicos, a meretriz, o tecelão e o menestrel.
     Os frades rodeavam-se com os fiéis mais íntimos. Grupos de mulheres passavam o seu tempo em leitura de oração, aliviar os padecimentos da alma e os males do corpo. O único frade de boa saúde que professava igualmente a profissão de cozinheiro no mosteiro, de faces coradas do lume do braseiro da cozinha, limpava as suas mãos trémulas ao avental.
O mosteiro num dos seus cantos recatado com duas salas , davam apoio aos peregrinos , doentes e a todos que precisassem de mercês de hospedagem , na cura do corpo amparo das almas.
     Os médicos e os físicos aliviavam os achaques da população com unguentos, xaropes e clisteres.

     Frei Miguel da Cruz vivia com alucinações dos seus veredictos, actos de fé do tribunal inquisitorial por si aclamado. Ouvia os gritos dos que por si foram condenados. Com o corpo debilitado, mal andava a não ser a um desconforme de ritmo compassado. As Lagrimas corriam-lhe pelos cantos dos olhos com um fio de baba entre os lábios.
     Diziam os seus companheiros que o frei fora condenado por todos os judeus conversos, hereges, mouriscos, blasfemos e feiticeiras com a força do demónio a corroer-lhe o corpo aos poucos, sem que já conseguisse abrir a boca para pedir perdão.
     O frei ajoelhava-se lajeando o frio da igreja da Sé de Lisboa, com uma cruz entre os dedos a murmurar palavras entrecortadas!
     À noite ouviam-se as carpideiras a velarem os mortos, entoando as suas ladainhas em voz baixa. Estas que se dizia fazerem feitiços e encantamento no secreto sossego da noite.
      Desde que se tornara freire que enchia o peito de ar pondo-se em bicos de pé, arregalava os olhos na sua altivez com o rosto encarniçado, gritando para lhe serem solicitados os seus pedidos à divindade. Fraco com um copito de vinho a mais ou com o sangue vivo no rosto da aguardente de medronho que o anestesiava, e que ao segundo copo bebia a goles com as suas mãos tremulas, e a balbuciar.

     «O frei morreu tolhido das mãos que lhe tremiam tanto, que nem conseguia levar a sopa à boca. Morreu sozinho numa tristeza, sujo e roto». Como testemunhou o camareiro ao seu senhor. 

Gomes Eanes de Azurara

     Gomes Eanes de Azurara (ou Zurara), nascido depois de 1410 e morto entre 1473 e 1474, sucedeu a Fernão Lopes em 1454, e intentou continuar-lhe o plano de escrever a crónica de todos os reis portugueses até àquela data. Para tanto, acrescentou a 3.ª parte à Crónica de D. João I (também chamada de Crónica da Tomada de Ceuta, certamente sua obra mais importante, à altura das do seu predecessor). Escreveu ainda: Crónica do Infante D. Henrique ou Livro dos Feitos do Infante, Crónica de D. Pedro de Meneses, Crónica de D. Duarte de Meneses, Crónica dos Feitos de Guiné, Crónica de D. Fernando, Conde de Vila-Real (desaparecida).
      Literariamente menos dotado que Fernão Lopes, teve ainda a prejudicá-lo o facto de relatar acontecimentos mais ou menos contemporâneos, socorrendo-se apenas de testemunhos orais, embora os submetesse a escrupuloso exame. Azurara vale sobretudo como iniciador da historiografia da expansão ultramarina, com a Crónica acerca da tomada de Ceuta (efectuada em 1415). Numa linha ufanista que culminará n’ Os Lusíadas (1572).
     Seu método historiográfico difere do de Fernão Lopes em alguns pontos essenciais, e significa, até certo ponto, um retrocesso: preocupa-se com pessoas, individualidades, e não com grupos sociais, atestando uma concepção meio cavaleiresca da História, quer dizer, em que a acção isolada do cavaleiro predomina sobre à da massa popular. Além disso, já se mostra permeável à influência da cultura clássica, visível nas citações e em certos torneios fraseológicos. Tal pendor para a erudição, nem sempre bebida na fonte originária, e para ver suas personagens como "exemplos" morais, acabou por comprometer-lhe as últimas crónicas, até fazê-las descritivas e algo monótonas.

Retractando claramente a atmosfera pré-renascentista que se ia formando na segunda metade do século XV, Azurara trabalhou cerca de 20 anos. Sucedeu-o Vasco Fernandes de Lucena, que nada escreveu apesar de ocupar o cargo mais ou menos 30 anos.

Francisco Manuel do Nascimento,

Francisco Manuel do Nascimento, conhecido por Filinto Elísio (Lisboa, 23 de Dezembro de 1734 - Paris, 25 de Fevereiro de 1819), foi um poeta, e tradutor, português do Neoclassicismo. O seu verdadeiro nome é e foi sacerdote. O seu pseudónimo, Filinto Elísio, ou também Niceno, foi-lhe atribuído pela Marquesa de Alorna (a quem ensinou latim quando se encontrava reclusa no Convento de Chelas), dado Francisco Manuel do Nascimento ter pertencido a uma sociedade literária - Grupo da Ribeira das Naus -, cujos membros adoptavam nomes simbólicos.

     Filinto Elísio nasceu em Lisboa, de origens humildes. Os pais, o pescador Manuel Simões e a peixeira Maria Manuel, eram naturais de Ílhavo, mas imigraram para a capital na sequência da decadência da faina pesqueira por que passou a região de Aveiro após o fecho do canal que liga o rio Vouga ao mar, provocando o encerramento do porto.
     Foi ordenado padre em 1754, e influenciado pelo arcadismo e pelo iluminismo. As suas ideias liberais levaram a que fosse denunciado à Inquisição, em 22 de Junho de 1778, pelo padre José Manuel de Leiva, que o acusou de «afirmações e leituras heréticas proibidas». Disfarçado de vendedor, conseguiu fugir de Portugal e exilar-se em Paris, onde chegou a 15 de Agosto desse ano. Na capital francesa conheceu, entre outros, o poeta Alphonse de Lamartine
     A vida em Paris foi difícil, e teve que traduzir obras francesas para subsistir. As suas poesias foram publicadas, ainda em sua vida, em Paris, entre 1817 e 1819. Só depois da sua morte, as suas obras seriam publicadas em Lisboa, entre 1836 e 1840. Em 1843 os seus restos mortais foram transladados para Lisboa, onde se encontra sepultado, no cemitério do Alto de São João.
     Sua influência é vasta e se deu de forma mais directa no Pré-Romantismo, sobre autores como Almeida Garrett. Tal influência aparece sob a denominação de "filintismo". Foi um autor único em sua visão dos clássicos, pois dava relevo ao maravilhoso e até mesmo ao fantástico, pressentindo tendências modernas em meio ao racionalismo de seu tempo. Filinto tinha simpatia pelas ideias de Rousseau, pelos ideais da Revolução Francesa e por Franklin e George Washington. A queda da Bastilha lhe trouxe um sentimento positivo e seu sentimento por sua nação, ao contrário, parecia frequentemente negativo, com resquícios de rancor contra a Inquisição que o exilou.


Frei Fernão de Oliveira

Frei Fernão de Oliveira

      Fernão de Oliveira (Aveiro, 1507 – 1581), algumas vezes dito Fernando de Oliveira, frade, gramático, construtor bélico-naval renascentista, foi um dos expoentes renascentistas  

     Foi ordenado frade dominicano. Em virtude de suas posições heterodoxas, logo caiu no desagrado do Tribunal da Santa Inquisição, tendo sido preso várias vezes por determinação daquele tribunal. Com efeito, consta que, em 26 de Outubro de 1555, entre tantas outras prisões, "[...] Deu entrada nas masmorras da Inquisição, em Lisboa, o insigne aveirense Padre Fernão de Oliveira, clérigo dominicano e diplomata, escritor e filólogo, marinheiro e soldado, aventureiro e perseguido, «o primeiro gramático da língua portuguesa e porventura o primeiro tratadista naval de todo o mundo» [...]"(Rangel de Quadros, Aveirenses Notáveis, I, fl. 9).
Intelectual amplo, publicou a reputada primeira gramática portuguesa, a conhecida Grammatica da lingoagem portuguesa, editada em Lisboa, em 1536, e que tem no frontispício o brasão de armas dos Almadas por ele a ter dedicado a D. Fernando de Almada.
Trabalhou ainda em um variado conjunto de atividades, sobressaindo a de piloto. Foi ainda teórico da guerra e da construção naval. Precisamente nestas duas áreas — arte bélica e construção naval — destacou-se sobremaneira.
As suas contribuições aí, com efeito, deram as bases da hegemonia portuguesa em diversos oceanos no século XVI.

     Em "Na arte da guerra do mar" (Coimbra, 1555), além do texto teórico, tece considerações morais condenatórias sobre a escravidão, o comércio de escravos e sobre a invenção e utilização de armas de fogo, devido à sua capacidade de destruir vidas humanas.
A "Ars nautica" (1570 [?]) é o primeiro tratado enciclopédico mundial de matérias referentes à navegação, guerra naval e construção de embarcações. O último tema foi substancialmente desenvolvido na obra seguinte, "Livro da fábrica das naus" (1580 [?]), em que fornece regras teóricas para a construção de navios e sublinha, sempre em diálogo com os autores clássicos, nomeadamente Plínio, as significativas contribuições lusitanas para o progresso nos métodos de construção naval.
Pouco antes de falecer, em (1580), defendeu António I de Portugal, Prior do Crato, contra Filipe II, com duas obras historiográficas a sustentarem a legitimidade do candidato português e contestarem a solução da Monarquia Dual, aprovada nas Cortes de Tomar (1581).
Estêvão Rodrigues de Castro, cristão-novo, nasceu em Lisboa em finais de 1559 e faleceu em Florença em 30 de Junho de 1738. Segundo se sabe, nunca regressou a práticas judaizantes, mantendo-se católico toda a vida. Foi estudar para Coimbra em data não conhecida, mas sabe-se que obteve o grau de Bacharel em Artes em 3 de Março de 1584 e de Licenciado na mesma “Faculdade” em 18 de Maio de 1585 e que se licenciou em Medicina em 26 de Outubro de 1588.

Regressou a Lisboa para exercer Medicina, o que terá feito durante cerca de vinte anos. Não era, porém, pessoa para se considerar realizado apenas com a medicina e a cura dos seus doentes. Já então cultivava e poesia e deverá ser dessa época o poema De Simulato Rege Sebastiano e muitos outros poemas em latim, português e espanhol que depois foram publicados por seu filho Francisco. Casou com Genoveva Figueira e teve quatro filhos. Francisco (que sobreviveu aos pais), António, médico em Florença, falecido em 13 de Maio de 1633, contagiado quando curava os atingidos pela peste, Maria e Martinho.
Dr. João Rodrigues (Castelo Branco, 1511 — 1568) vulgarmente conhecido como Amato Lusitano foi um notável médico português de religião judaica que viveu no Século XVI. Estudou Medicina na Universidade de Salamanca, tendo regressado a Portugal em 1529. Por ser judeu, foi impedido de regressar a Portugal devido às perseguições da Inquisição, o que o levou a viajar para Antuérpia (1534), onde publicou o seu primeiro livro Index Dioscoridis (1536). É aí que adopta o nome de Amato Lusitano, com o qual passa a assinar as suas obras. Estabelece-se na cidade de Ferrara (1541) em Itália, onde foi Professor de Anatomia na Universidade e assistente do então famoso Cananus. Aí inicia a escrita da primeira Centúria que dedica a Cosme de Médici.

Foi médico do Papa Júlio III, Ancona (1547), Pesaro(1555) com a nomeação do Papa Paulo IV — forçaram-no a abandonar a Itália e buscar refúgio no Império Otomano em Tessalónica, hoje Salónica, Grécia, cidade com grande população judaica; então parte do Império Otomano, onde escreveu a sua sétima e última Centúria, local onde pereceu, em 1569, com 57 anos, vitimado pela peste que tentou combater.

Brianda de Sólis

 Brianda de Sólis



      A deusa de Luiz Vaz de Camões, que ludibriou a inquisição. Foi musa de Camões que o inspirou a escrever a obra “ deusa da ilha dos amores” do seu poema épico Os Lusíadas.
      Brianda de Sólis, nascida nesta terra alentejana, filha de Henrique de Solis e Ana Álvares, uma família castelhana de origens judaicas que se viram obrigados a refugiarem-se me Portugal a fim de escaparem à perseguição dos Reis Católicos, vindo para Alter do Chão, veio a partir para a Índia em 1541, quando já vivia em Lisboa, acompanhada de sua família e de Francisco Xavier, futuro apóstolo das Índias e santo, em cuja viagem ia perdendo a vida, já que a nau em que seguiam sofreu um violento naufrágio, nele perecendo muitos dos passageiros.
     Chegado ao destino, viria a casar com Garcia de Orta, também ele alentejano, de Castelo de Vide e de origem judaica, já passado dos quarenta anos, do qual teve duas filhas.

     O historiador Luís de Albuquerque, acreditando na língua afiada de Catarina de Góis, cunhada de Brianda, escreveu que “o casamento foi pouco feliz, porque a mulher era avara e arrogante, desprezando o seu marido por ser inferior a ela”, o que parece inconciliável com o estatuto de Garcia de Orta, próspero comerciante de pedras preciosas, eminente cientista e médico muito conceituado na Índia, inclusive pela própria Inquisição, que o trata sempre por “doutor”. O historiador Prof. Augusto da Silva Carvalho, também com base na mesma fonte, acrescenta-lhe o labéu de infiel e intratável.

    Outras versões postas a circular, acusam Brianda de comer carne em dias proibidos pela Igreja Católica e de ser portadora de doenças venéreas (que teria transmitido ao marido), nunca tal se provando, segundo a investigação da própria Inquisição.
     A fama de severa e irascível seria desmentida ao conceder a alforria à sua escrava, pagando-lhe a viagem de regresso à sua terra, Benguela, em Angola, a fim de se juntar à família.

     Ainda assim, não se livrou da áurea de forreta, ao recusar amortalhar o cadáver do seu marido em pano novo. Tratou-se, afinal, de simples precaução, já que tal prática era sinónimo de judaísmo e o Santo Ofício de Goa era implacável. Que o digam as ossadas do marido, desenterradas doze anos após o funeral e queimadas em auto-de-fé!
     Mais falsa ainda, era a acusação posta a circular por Catarina de Góis, segundo a qual a cunhada teria recusado a entrada de Luís de Camões em sua casa, na ilha de Bombaim, da qual era senhora, a única que o épico conheceu, transformando-a na deusa da ilha crismada dos Amores, episódio relatado no Canto IX dos Lusíadas, estrofe 85: “uma delas maiores a quem se humilha todo o coro das Ninfas e obedece. “
     Brianda abandonou a Índia, talvez em direcção à Holanda, escapando à terrível Inquisição de Goa.