quinta-feira, 27 de março de 2014

Joana da Gama

Joana da Gama – (Viana do Alentejo, 1520?- Évora, 1586)

Joanna da Gama. Naceo em a Villa de Viana do Alentejo de Pays nobres quais erão Manoel Casco, e Filippa da Gama. Como se visse livre do vinculo conjugal por morte de seu marido com quem fora casada anno e meyo anhelando a estado mais perfeito fundou na cidade de Evora hum Recolhimento intitulado do Salvador do Mundo onde recolhida com algumas companheiras de que erão as principaes Catherina de Aguiar, e Brites Cordeira observavão a Regra de S. Francisco sendo seus Directores os filhos d'este grande Patriarcha. Ao tempo, que esperava da benevolencia do Cardial D. Henrique estabilidade para o novo edificio foy demolido por sua ordem para mayor extensão do Collegio dos Padres Jesuitas ordenando às Recolhidas fossem viver em casa de seus parentes até lhe fundar outra habitação. Com excessivo sentimento deixou Joanna da Gama o lugar, que o seu espirito elegera para se dedicar a Deos, fallecendo a 21 de Setembro de 1586. Jaz sepultada na Igreja da Misericordia de Evora em sepultura propria. Compoz.

     São poucos os historiadores que se dignam falar da literatura Joana da Gama, «por consideram uma escritora menor.» No entanto a sua obra, muito pessoal, surge num período decisivo no que diz respeito à promoção feminina em Portugal, porque nos Cancioneiros da poesia medieval não há indício nenhum da existência de mulheres poetizas, e o amor foi um tema de predilecção.
     No fim do século XV as coisas vão mudando e no primeiro quarto do século XVI, modificaram-se as mentalidades da nobreza e da plebe mais instruída. As senhoras da nobreza, sobretudo as que frequentam a corte progridem, em torno das rainhas D. Leonor, mulher de D. João II, de D. Maria, esposa de D. Manuel I, e de sua filha mais nova Infanta D. Maria de Portugal- duquesa de Viseu. E, um grupo de senhoras instruídas da nova geração que pretendem ser iguais aos homens, e tratam de adquirir uma cultura humanista, chegando a estudar literatura línguas e artes, e algumas tentam viver da sua pena.
     Entretanto o grande impulsionador da cultura portuguesa, Garcia de Resende (1516), não se sabendo se na cidade Lisboa ou Évora, nomeia entre cerca de 300 poetas de um Cancioneiro vinte cinco damas, salvo erro.


Joana da Gama, não era uma dama da corte nem uma mulher muito culta. Provavelmente viveu quase toda a sua vida na "província", em Évora. Mas teve a sorte de gozar de uma independência excepcional. O facto de ter vivido em Évora deu-lhe a incidência de uma grande formação. Évora deixara de ser uma Cidade provinciana, sendo muitas vezes visitada por gente da corte: Infanta D. Maria de Portugal; Cardeal-Infante D. Henrique que ali residiu depois de ter sido nomeado arcebispo, apesar de se comportar como um mecenas, favorecendo a literatura e as artes.
      Uma das informações sobre a escritora é, obviamente um testamento assinado por Joana da Gama, conservado no Arquivo da Misericórdia de Évora. Tito de Noronha, que editou a obra de Joana da Gama em 1872, indica um manuscrito conservado na Biblioteca de Évora onde é qualificada como solteira, embora a aprovação do testamento diga que é viúva. Talvez Tito de Noronha não tenha visto ele próprio os documentos citados, e tenha utilizado uma transcrição incompleta. Não sendo assim, ele teria falado com certeza duma disposição particular do testamento, cujo original se perdeu.
O texto que se encontra no Arquivo do Distrito de Évora é uma cópia, com letra muito cuidada e data de 14 de Abril de 1597. Abre com esta declaração:


     Em nome de Deos Amen. Saibão os que esta cedola e testamento, e ultima vontade virem como eu Joana da Gama beata por não fazer profissão e estar sempre na posse de minha fazenda posso testar della e por não saber a çerteza da hora em que nosso Sñr me querera levar desta vida prezente sendo moradora nesta çidade de Evora estando sãa e em meu perfeito juizo e entendimento temendo a morte faço e ordeno esta minha çedola e testamento nesta maneira seguinte.

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