domingo, 17 de setembro de 2023

Maria Armanda Falcão, (Vera Lagoa) e Natália Correia,

 


Maria Armanda Falcão, (Vera Lagoa)  e Natália Correia 

1974

      Em 1974, com os meus quinze anos, vivi momentos polémicos e ferventes como esquerdista, e admirador de Zeca Afonso, Sérgio Godinho e outros que cantavam as músicas liberdade.

       As ruas e travessas da baixa de lisboa encheram-se de pessoas. Há que estugar o passo para seguir atras da multidão. Os de trás empurram os da frente que não conseguem avançar…

Eu sinto uma cotovelada e um pedido de desculpas… -foi sem querer.

Não tarda muito tempo, a ser acicatado por quem me pede desculpa, e sofro um pisão de uma sola de bota cardada e por outro pedido de desculpa. Pensei que mais podia acontecer…

O meu corpo e as minhas pernas começam a fraquejar com tanto encontrão.

 

    Comecei a passear com vaidade pelos salões de festa a comemorar o 25 de Abril de 1974 a brincar aos revolucionários com palpitações cardíacas. 

     Conheci os maiores provocadores da época: Maria Armanda Falcão, (Vera Lagoa) mulher de José Tengarrinha, Natália Correia, Arons de Carvalho e o medico António Duarte Arnaut a meados de 1974, no hotel Metrópole onde se encontrava “exilado o médico  Fernando Bissaya Barreto   Rosa”.

       Entre os registos fotográficos da minha memória correndo a geração dos anos setenta, tenho hoje à minha frente as fotografias desse tempo, sobretudo dos finais dos anos 60, em que Natália Correia (1923-1993) - «musa da Esquerda,  no PS e PRD  e da direita no PSD» tinha ao seu lado os provocadores, Luiz Pacheco, Almada Negreiros, Mário Cesariny e o travesti Guida Scarllaty, o poeta e declamador José Carlos Ary dos Santos, (1937- 1984), o actor Mário Viegas (1948 — 1996), Fernando Dacosta (1940) e sua amiga, Maria Armanda Falcão (Vera Lagoa) (1917 – 1996), a sereia da Direita. Esta surge incandescente, com uma determinação no olhar, tornando-se célebre; amada para uns e temida e odiada pelos que a esperavam nas encruzilhadas. À medida que a idade avançava tornou-se cada vez mais azeda e amarga com a alma virada do avesso.

Natália Correia e Maria Armanda Falcão  tinham o  espírito inquieto.  Natália Correia faleceu de madrugada, vinda de uma noitada, «algo que uma senhora de respeito, sinceramente, não faz…»

A vida agitada surpreendeu Natália Correia com morte na madrugada de 16 de Março de 1993. Vera Lagoa faleceu em Lisboa a 19 de Agosto de 1996 de ataque cardíaco. 

      As duas frequentavam as festas da alta sociedade. Natália Correia e Vera Lagoa foram convidadas para a festa do milionário Boliviano Antenor Patiño em 1968, segundo a opinião pública: «mostrou ser uma mulher de bom garfo (...)

       Conheci Vera Lagoa (1917-1996) com 57 anos após do 25 de Abril de 1974, naquela fase da sua vida em que me preocupava aconselhar-me com todas as ideologias políticas, opondo-se à crescente dominação ditatorial. Maria Armanda Falcão tinha a energia de um vulcão cheio de talento e imaginação, que só estava habituado a ver nos homens excepcionais. Estive perto dela à distância. O meu interesse nesse dia era conhecer Byssaia Barreto.

      Maria Armanda Falcão era considerada mulher de mau feitio por crispar por igual os moralistas da direita e da esquerda. Assumia a mordacidade na sua escrita ou com elegância e postura antagónica, atacava as grandes elites com desprezo.

    Tinha os momentos em que era divertida, versátil e muito expressiva quanto a tudo que achava ser nobre. Não lhe faltava a doçura e a generosidade em pessoa, e Natália Correia, não lhe ficava atrás. Era experiente, e conhecia muito bem a minha timidez e a pequenez dos homens.