Os criados da corte
Os criados da corte sofreram grandes privações
através do tempo que serviram a casa real, com poucos a usufruírem de glória. A
maioria levava uma vida amarga cheia de apertos a fazerem papel de idiotas, a
não ser que caíssem nas boas graças de um membro da família real.
A criadagem plebe não era
feliz. Muitas vezes eram maltratados pela prepotência de quem estavam
dispostos, que por inveja lhes assombravam a carreira acusando-os de algo
incorrecto, falsamente.
Escravos executavam as tarefas da lavagem do chão e das roupas, das cloacas e Movimentação do estrume para as terras.
O livro – Lisboa dos
nossos avós – de Júlio DANTAS
Os cocheiros e
segeiros de boleia bebiam com convicção, e os desastres eram relativamente
frequentes nas ruas de Lisboa -
Os criados dormiam
distribuídos por diversos quartos existentes na casa, muitas vezes, dentro de
armários ou compartimentos; “despensa da Escada, dispensa da cozinha, ou no
estábulo com os lacaios de estrebaria.
Estes, recebiam duas mantas, das quais ficavam responsáveis.
“Dormem ou no chão ou sobre fardos de palha”
A iluminação era um
bem muito escasso, Os criados que viviam em anexos tinham direito á iluminação,
recebiam um quartilho de Azeite combustíveis líquidos (petróleo) e sólidos
(carquejas) e lenha pertencente á propriedade da casa. Os servos não
tinham direito a castiçais e velas.
Os palácios ou residência enorme com um número de leitos em
geral, significativamente baixo.
Marian Baillie registou na casa do marquês de Marialva com “cinquenta criados a postos; a casa do marquês de Fronteira havia oitenta pessoas” entre amos e criados; casas do marquês de Castelo Melhor existiam cerca de quarenta criados. No entanto, o mais comum seria um número nunca nem inferior a duas dezenas, incluindo Pardas e Pretas.
Os menos ricos nas suas residências tinham um número de criados menores. Quase todos escravos a fazerem os serviços com competência.
E ficavam nos inventários de herança que fazia
conflitos entre herdeiros, querendo todos ficar com os mais valiosos dos 16 aos
30 anos.
Marianne Baillie toma como
exemplo, o registo de despesas pertencente à casa do duque de Lafões, D. João
Carlos de Bragança e Ligne de Sousa Tavares Mascarenhas da Silva, 2º duque de
Lafões. referente aos salários, e ao ano de 1798, sabemos que a despesa
mensal relativa despesa paga aos criados que serviam o senhor da casa totaliza 26$600 réis e para os que
estavam sob as ordens da duquesa, D. Henriqueta Maria Júlia de Lorena e
Menezes, despendia-se 28$600 réis.
A mesada do duque de
Lafões era 200$000 réis e a duquesa recebia
112$00 réis, fazendo a despesa
total 428$560 réis. - Cf. Arquivo A.H.S.-ICS NGM 003, Caixa anno 1800.
Os fardamentos representam uma parcela importante, quanto aos gastos da casa
de Lafões. O ano de 1801, foi gasta na aquisição de fardas a quantia de 805$940
réis, e em 1803, voltou a despender 580$340 réis.
As librés eram constituído por calções, meias de seda, sapato de fivela, casaca à moda da época e, em logar da cabelleira loura, uma coifa preta com lantejoulas da mesma cor”. As librés indicavam a situação económica de uma determinada casa e, o estatuto na corte e um sinal de riqueza para o exterior do país.
D. José Trazimundo, marquês de Fronteira e d’Alorna visitou a casa do senhor de Murça, o 1º conde de Murça, D. Miguel António de melo Abreu Soares de Brito Barbosa Vasconcelos (1736-1836) , sendo recebido por um porteiro vestido no rigor como antigos guarda-portões das casas dos fidalgos. os restantes criados vestiam de libré à moda do tempo do primeiro dono da casa.
os criados mais inferiores, que trabalhavam nas zonas de
serviço e não frequentavam as salas, os
corredores e não se cruzassem com
os donos da casa, não tinham direito a
farda. Estes não podiam prestar serviço aos convidados, nem podiam substituir
um criado fardado em caso de doença. O criado fardado só poderia ser
substituído por “hum outro criado de farda”
as o casiões especiais, nomeadamente aquando da realização de um evento festivo, envolvendo um grande número de convidados, o número de criados podia alterar-se. O duque de Lafões teve a necessidade de contratar “ cozinheiros de fora”.
Devemos considerar, consoante o poder económico das casas, que, anualmente ou de dois em dois anos, vestiam os criados com novas fardas. Para além das librés, também os sapatos eram comparticipados na totalidade pela casa de Lafões, como sucedeu com um pagamento feito pelo duque de Lafões, que tinha “ nove creados para os remontes de Botas” importadas no valor de 18$000 réis.
Esta regra não abrange todas as casas. Os creados calsão à sua custa - casa do conde de Rio Maior. O 6º conde de Vila Nova de Portimão D. José Maria Xavier de Lancastre (1742-1779), estava fora de todos esses privilégios…
D. José Trazimundo
Os palacetes
tinham dois “tinellos”, ou um com duas mesas: a dos criados graves, e dos
criados inferiores, que, serviam os criados graves.
A alimentação
diária era determinada pela importância do cargo do creado, e muitas vezes pelo
tempo de serviço na casa.
Todos eram contratados tinham direito a «reção singela” de
prato do meio e 20 reais de pan»- de má qualidade. Os criados novos recebem pão de custo de 620 réis,
mensal, enquanto outros mais
velhos auferem uma ração dobrada e 1$420
de pão a mensal.
A comida dos criados era tabelada. Surgem os que haviam
estabelecido direito a quaisquer refeições, e os de salários mais elevados que
trabalhavam “a seco”.
Os que queriam trabalhar “a seco” alimentavam-se há sua
custa como queriam.
Esse processo ainda era utilizado pelos camponeses do
seculo XX que trabalhavam à jorna. O que ganhava menos era recompensado na
alimentação que, por vezes não era satisfatória. As refeições eram tomadas no
“tinello”- “casa com mesa para criados.
diz D. José Trazimundo : - Nem todos os fidalgos eram recebidos pelo rei de braços abertos. Não generalizando, os reis recebiam os da sua maior confiança em quem acreditavam, fossem eles falsos, a sua palavra valia mais que um numero de pessoas a jurarem verdade.
As salas tinham cortinados amarelos, azuis, verdes, bordô de tafetá. O luxo e o rigor da vestimenta dos criados era um efeito cénico com uma mancha unívoca e inconfundível.
As Cadeiras de brocado , cravejada de pregos de prata faziam parte do luxuoso mobiliário
os quartos íntimos, e as zonas sociáveis ficavam sempre
longe da intimidade dos oratórios.
A proximidade seria
profanadora.
Os oratórios As camas da realeza dos paços eram soberbas, suportando
um colchão de lã meirinho e, por travesseiros e almofadas de lã.
Os cobertores eram
adornados com o brasão de D. Manuel a fio de prata e ouro. As cobertas feitas
de damasco.
É frequente as grandes casas nobres haver só uma cama de casal, tendo os filhos que dormir em colchoes no chão - Panorama de Lisboa no ano de 1796. Os serviços completos de loiça incluíam facas, fruteiras, e a companhavam toalhas de mesa com oito metros, guardanapos e, toalhas de mão bordadas a fio de ouro e prata.
Retalhos retirados da casa do Marquesado da Fronteira, Julio Dantas e de Marianne Baillie