sábado, 24 de setembro de 2022

Os criados da corte

 Os criados da corte




       Os criados da corte sofreram grandes privações através do tempo que serviram a casa real, com poucos a usufruírem de glória. A maioria levava uma vida amarga cheia de apertos a fazerem papel de idiotas, a não ser que caíssem nas boas graças de um membro da família real.

     A criadagem plebe não era feliz. Muitas vezes eram maltratados pela prepotência de quem estavam dispostos, que por inveja lhes assombravam a carreira acusando-os de algo incorrecto, falsamente.

Escravos executavam as tarefas da lavagem do chão e das roupas, das cloacas e Movimentação do estrume para as terras.    




 Marianne Baillie (1788-1831) foi uma viajante, poetisa e autora inglesa do século XIX , veio de Devonshire (Inglaterra) para  visitar   Portugal  a meados de  Junho de 1820 , e viveu cerca de dois anos numa residência em Lisboa e Cintra,   mencionou as “estufas” de viagem; as clássicas liteiras, com os machos ás varas, em marcha, em geral devagar;  os florões, os estufins e as seges andarem  depressa, apresentando além disso o inconveniente de se equilibrarem mal nos correões e nos rodados altos.

O livro  – Lisboa dos nossos avós – de  Júlio DANTAS

       Os cocheiros e segeiros de boleia bebiam com convicção, e os desastres eram relativamente frequentes nas ruas de Lisboa -

       Os criados dormiam distribuídos por diversos quartos existentes na casa, muitas vezes, dentro de armários ou compartimentos; “despensa da Escada, dispensa da cozinha, ou no estábulo com os lacaios de estrebaria.

Estes, recebiam duas mantas, das quais ficavam responsáveis. “Dormem ou no chão ou sobre fardos de palha”

     A iluminação era um bem muito escasso, Os criados que viviam em anexos tinham direito á iluminação, recebiam um quartilho de Azeite combustíveis líquidos (petróleo) e sólidos (carquejas) e lenha pertencente á propriedade da casa. Os servos não tinham   direito a castiçais e velas.

Os palácios ou residência enorme com um número de leitos em geral, significativamente baixo.


Marian Baillie registou na casa do marquês de Marialva com  “cinquenta criados a postos; a casa do marquês de Fronteira havia oitenta pessoas” entre amos e criados; casas do marquês de Castelo Melhor existiam cerca de quarenta criados. No entanto, o mais comum seria um número nunca nem inferior a duas dezenas, incluindo Pardas e Pretas. 

Os menos ricos nas suas residências tinham um número de criados menores. Quase todos escravos a fazerem os serviços com competência.

 E ficavam nos inventários de herança que fazia conflitos entre herdeiros, querendo todos ficar com os mais valiosos dos 16 aos 30 anos. 

  Marianne Baillie toma  como exemplo, o registo de despesas pertencente à casa do duque de Lafões, D. João Carlos de Bragança e Ligne de Sousa Tavares Mascarenhas da Silva, 2º duque de Lafões. referente aos salários, e ao ano de 1798, sabemos que a despesa mensal  relativa despesa paga aos  criados que serviam o senhor da casa  totaliza 26$600 réis e para  os  que estavam sob as ordens da duquesa, D. Henriqueta Maria Júlia de Lorena e Menezes,  despendia-se 28$600 réis.

A mesada do duque de Lafões era 200$000 réis e a duquesa recebia  112$00 réis, fazendo   a despesa total 428$560 réis. - Cf. Arquivo A.H.S.-ICS NGM 003, Caixa anno 1800.

     Os fardamentos representam uma  parcela importante, quanto aos gastos da casa de Lafões. O ano de 1801, foi gasta na aquisição de fardas a quantia de 805$940 réis, e em 1803, voltou a despender 580$340 réis.

    As  librés eram constituído por calções, meias de seda, sapato de fivela, casaca à moda da época e, em logar da cabelleira loura, uma coifa preta com lantejoulas da mesma cor”. As librés indicavam a situação económica de uma determinada casa e, o estatuto na corte e um sinal de riqueza para o exterior do país.

                D. José Trazimundo, marquês de Fronteira e d’Alorna visitou  a  casa do senhor de Murça, o 1º conde de Murça, D. Miguel António de melo Abreu Soares de Brito Barbosa Vasconcelos (1736-1836) , sendo    recebido por um  porteiro  vestido no rigor como  antigos guarda-portões das casas dos fidalgos. os restantes criados  vestiam  de libré à moda do tempo  do primeiro dono da casa.

os criados mais inferiores, que trabalhavam nas zonas de serviço e não frequentavam as salas, os  corredores e não se cruzassem  com os donos da casa, não  tinham direito a farda. Estes não podiam prestar serviço aos convidados, nem podiam substituir um criado fardado em caso de doença. O criado fardado só poderia ser substituído por “hum outro criado de farda”

    as o casiões especiais, nomeadamente aquando da realização de um evento festivo, envolvendo um grande número de convidados, o número de criados podia alterar-se. O duque de Lafões teve a necessidade de contratar “ cozinheiros de fora”.

       Devemos considerar, consoante o poder económico das casas, que, anualmente ou de dois em dois anos, vestiam os criados com novas fardas. Para além das librés, também os sapatos eram comparticipados na totalidade pela casa de Lafões, como sucedeu com um pagamento feito pelo duque de Lafões, que tinha “ nove creados para os remontes de Botas” importadas no valor de 18$000 réis.

Esta regra não abrange todas as casas. Os  creados  calsão à sua custa - casa do conde de Rio Maior. O 6º conde de Vila Nova de Portimão D. José Maria Xavier de Lancastre (1742-1779), estava fora de todos esses  privilégios…

 

D. José Trazimundo


      Os palacetes tinham dois “tinellos”, ou um com duas mesas: a dos criados graves, e dos criados inferiores, que, serviam os criados graves.

    A alimentação diária era determinada pela importância do cargo do creado, e muitas vezes pelo tempo de serviço na casa.

Todos eram contratados tinham direito a «reção singela” de prato do meio e 20 reais de pan»- de má qualidade.  Os criados novos recebem pão de custo de  620 réis,  mensal,  enquanto outros mais velhos  auferem uma ração dobrada e 1$420 de  pão a mensal.   

A comida dos criados era tabelada. Surgem os que haviam estabelecido direito a quaisquer refeições, e os de salários mais elevados que trabalhavam “a seco”.

Os que queriam trabalhar “a seco” alimentavam-se há sua custa como queriam.

Esse processo ainda era utilizado pelos camponeses do seculo XX que trabalhavam à jorna. O que ganhava menos era recompensado na alimentação que, por vezes não era satisfatória. As refeições eram tomadas no “tinello”-  “casa com mesa  para criados.

diz    D. José Trazimundo : - Nem todos os fidalgos eram recebidos pelo rei de braços abertos. Não generalizando, os reis recebiam os da sua maior confiança em quem  acreditavam, fossem eles falsos, a sua palavra valia mais que um numero de pessoas a jurarem verdade. 

 As salas tinham cortinados amarelos, azuis, verdes, bordô de tafetá. O luxo e o rigor da vestimenta dos criados era um efeito cénico com uma mancha unívoca e inconfundível.

As Cadeiras de brocado , cravejada de pregos de prata  faziam parte do luxuoso  mobiliário

os  quartos  íntimos, e as zonas sociáveis ficavam sempre longe da intimidade dos  oratórios. A    proximidade seria profanadora. 

Os oratórios As camas da realeza dos paços eram soberbas, suportando um colchão de lã meirinho e, por travesseiros e almofadas de lã.

     Os cobertores eram adornados com o brasão de D. Manuel a fio de prata e ouro. As cobertas feitas de damasco.

 É frequente as grandes casas nobres haver só uma cama de  casal, tendo os filhos que dormir em colchoes no chão - Panorama de Lisboa no ano de 1796. Os serviços completos de loiça incluíam facas, fruteiras, e a companhavam toalhas de mesa com oito metros, guardanapos e, toalhas de mão bordadas a fio de ouro e prata.


Retalhos retirados  da casa do Marquesado  da Fronteira, Julio Dantas e de  Marianne Baillie