quinta-feira, 27 de junho de 2013

Tradução de textos - D. Francisca de Aragão.-







D. Francisca de Aragão.

     D. Francisca de Aragão, (1525 – 1615) dama preferida da rainha D. Catarina da Áustria, mulher do rei D. João III, cheia de devoção, mas muito atormentada pelas práticas da inquisição encantara-se com o espirito, e vividez de D. Francisca. A dama que veio de moça do Algarve para o paço da Ribeira com outras jovens da sua família.
     Francisca, filha de Nuno Rodrigues Barreto, senhor da Quarteira e de D. Leonor Milan, filha de Afonso, mestre de calatrava e filho bastardo de D. João II de Aragão. Gente com sangue real, que se veio a justificar mais tarde pelo tratamento de sobrinha, por parte de d. Filipe III de Castela.
Francisca 6º filha entre sete irmãos, e sobrinha do famoso governador da Índia Francisco Barreto entre 1555-1558. – Segundo diz os investigadores contemporâneos.


     D. Nuno Rodrigues Barreto, alcaide-mor, de Faro e Loulé, fronteiro-mor, vedor da fazenda de toda a província algarvia.
Francisca, uma das mais lindas mulheres, entre as celebradas formusuras da corte, musa inspiradora de vários poetas, entre eles, Luiz Vaz de Camões, Andrade Caminha, do seu amante D. Manuel de Portugal, e de João Borja, com quem veio a casar pelo seu prestígio de embaixador em Portugal, homem com grandes serviços prestados a Castela, que veio a ser reconhecido por mérito, e a fez ser a primeira condessa de Ficalho.
E pelo que se diz, sempre foi uma mulher atiçada. «Da união com D. Juan de Borja e Castro ( Bellpuig , 1533 - El Escorial , 3 de Setembro de 1606 ).    tiveram  dez filhos, todos ilustres, com os seus nomes e brilho no seu brasão familiar.»

     D. Juan esteve ao serviço de Filipe II de Espanha. Veio para Portugal em 1569, como embaixador para mediar o casamento de D. Sebastião com Margarida de Valois (que nunca aconteceu) e para tentar dissuadir o rei Português de empreender sua planejada expedição África.
- Podemos aperceber que as senhoras da nobreza, inteligentes, cultas e atraentes, aproveitaram todas as oportunidades da vida nas suas épocas, e D. Francisca viveu na mais lustrosa da história de Portugal. A grande certeza está em D. Francisca de Aragão aparecer solteira ao lado de D. Catarina entre os grandes vultos da corte, sem que qualquer contexto tradicional de ser a mais cortejada das damas a destroçar corações. 
     - Titulo extinguido em 1692 com a morte do bisneto de D. Francisca de Aragão, sem descendência do 4.º conde.D. Carlos de Aragón Borja Alagón y Gurrea (1634 – 1692), 9.º duque de Villahermosa e 9.º conde de Sástago (títulos espanhóis)

    
     D. Manuel de Portugal viveu com D. Francisca uma romântica exaltação de homem apaixonado, como nunca tinha acontecido com as suas três esposas. Segundo Dizem as cronicas do conde de Sabugosa: «estonteou-se pela sua figura num lugar à parte, fora de todas as outras suas amantes.»
     Os historiadores recordam-na como amante de D. Manuel I, mulher muito assediada, vindo a ser esposa de D. Juan de Borja, e mãe de homens famosos na história: príncipe de Esquilache, o duque de Villahermosa, e D. Fernando de Borja y Aragón, comendador da Ordem de Montesa.


      Menciona-se na sua biografia as suas inclinações poéticas, e que se dedicara a fazer versos e organizar concertos e peças teatrais.
Manuel de Faria e Sousa, veio indicar que pelas escritas por si inspeccionadas, uma epístola em tercetos é dirigida ao rei D. Manuel I, que tem nela a autoria mais provável. Que faz passar um conteúdo de temáticos da voz masculina com razões muito convincentes, mas mais se parece com o género feminino como tantos outros cancioneiros que escreveu como anónima.  





                          FRANCISCA DE ARAGÓN
                                  Pues aquel gran amor que me tubiste
holgaste de mudar en otra parte,
yo soi contenta de lo qu’escogiste.
No sabrá ella como yo enojarte;
siempre te tractará de una manera
que no sé si será señal de amarte.
Será más estimado, que no fuera
el espíritu tuyo y alabado
más que quando de ti amada hera.
Mas no por essos bienes que ás hallado
en ella, dexará de dar espanto
de ver un coraçón anssí mudado.
No te quiero hablar en esto tanto
porque se huelga el que mal á hecho
de ver quel ofendido bive en llanto.
Tú estás a tu plaçer y satisfecho:
yo seré de amistad muy gran tu amiga,
dexando siempre a salvo mi derecho.
Que no quiero que nadie vea ni diga
la culpa tuya, ni que me ás dexado
de amar en verme que te só enemiga.

                                                Para conmigo quedas disculpado,
porque siempre te tube por mudable,
aunque a veçes me avías engañado;
Para mí es el dolor muy tolerable,
ningún cuidado tengas de mi pena;
afírmate, no seas variable,
Que no puede hallarse cossa buena
con quien haze mudanças cada día,
                                               dexando natural por cossa agena.
Aquesto que te escrivo no querría
que te aga penssar que quedo muerta,
pues más el daño a mí que a ti ofendía.
Que tú saves muy bien qu’es cossa çierta
el que va mill amigos procurando
que jamás amistad no se le açierta.

                                      Yo te prometo que no vea llorando
jamás nadie mis hojos por aquesto,
ni el coraçón por ello sospirando
Ni la color mudada de mi gesto
el dolor que ‘ncubrir el alma suele
hará pareçer claro y manifiesto.
Está seguro que no me desvele,
cuidano de saber cómo te á ido
en este nuevo amor que aora te duele.




Que mil veçes te ás visto tan perdido,
jurando que no amaste ansí en tu bida,
y tú sabes muy bien dónde se an ido.
Mira que pues mereçe ser servida,
que lo sepas hazer sin apartarte,
como heziste de otra tan querida.
Perdóname que quiero aconsejarte
en cossa que consejo no rrequiere
ni seso ni rraçón jamás es parte.
Que conviene seguir lo que amor quiere,
digo quando el amor es verdadero,
que no el amor de quien por todas muere.
Escrivirte de mí nuevas no quiero,
que no las querrás ver de mano mía
ni tampoco de ti yo las espero.
Dios te dé con quien amas alegría,
y a tu coraçón dé contentamiento,
y te guarde de mala frenessía.
Aunque todas tus penas lleva el viento,
pues no son más de quanto estás presente,
qu’en partiendo te apartas de tormento.

No quiero seguir más este açidente
ni quiero declarar tus condiçiones
por no dar qué dezir de ti a la gente.
Digo que ás menester mill coraçones
para sufrir el mal que te procuras
si andas de verdad en tus passiones
o te án de ser contadas por locuras.


 FRANCISCA DE ARAGÓN - Cancionero de poesías varias, Ms. 617 de la Biblioteca Real de Madrid, ed. de J. J. Labrador, C. A. Zorita y R. A. Di Franco, Madrid, Visor, 1994, nº 430, pp. 458-461:

Cancionero sevillano de Toledo. Manuscrito 506 (fondo Borbón- Lorenzana). Biblioteca de Castilla-La Mancha, ed. de J. J. Labrador, C. A. Zorita y R. A. Di Franco, Sevilla: Universidad, 2006, nº 24, pp. 70-71: “Pues aquel gran amor que me tubiste”

     D. Catarina da Áustria, mulher de D. João III, neta dos reis católicos, cheia de devoção, mas muito atormentada pelas práticas da inquisição encantara-se com o espirito, e vividez de D. Francisca, filha do senhor da Quarteira, 5º senhor do Morgado da Quarteira -Nuno Rodrigues Barreto. Alcaide-mor de Faro e Loulé, fronteiro-mor, e vedor da fazenda de toda a província, e Filha de D. Leonor de Milan, e bisneta de D. João II rei de Aragão, a correr-lhe nas veias sangue real espanhol. - É recordada como sobrinha do governador da índia Francisco Barreto entre 1555-1558, Mesmo que se rejeite a ideia de Teófilo Braga, que sempre jogou entre a luz e a sombra, mas esta é a informação que dela nos contam.
         E com razão ou sem ela, lembram-na familiar de Francisco Barreto, Governador da Índia entre 1555 e 1558, que de facto era seu tio, avindo e desavindo de Diogo do Couto, na Década XVI, que diz ter convivido com D. Francisca após da morte de seu marido. Que só poderia ter sido depois de 1571 A realidade é que o poeta não a esqueceu. Os cronistas: João de Barros, Castanheda André Resende e D. Leonor Coutinho condessa da Vidigueira, não a mencionam nos seus documentos a não ser como uma dama de D. Catarina e da Infanta D. Maria.
     Muito estranho que Garcia Resende, quem mais frequentava a corte, quem fornecia letras de música, o que melhor conhecia todos os enredos e intrigas das antecâmaras da corte, onde as damas escreviam os seus diários de memórias, e lhes fez exclamações vagas, como o epigrama de frente aos seus retractos, de D. Francisca só nos deixa a informação de quera loura:
Do crespo ouro que tod’alma prende
Vossa cabeça rodeada seja

Que era branca e rosada:
A purpura formosa, a branca de neve
Que neste rosto amor tem repartido

Que os seus olhos eram claros:
                                 Aqueles vaios claros
Dos seus olhos formosos

O sacudir do corpo:

Algum tempo cuidei que não avia
Nada em vós , nem por vós que não criasse
N’alma brandura, e só contentamento.

Vejo agora que mal s’enganaria
Sem outra cousa de vós esperasse
Senão tristeza e dôr, pena e tormento

     Garcia Resende que esteve tao perto dela, e que pouco a cantou em verso, pouca mais nos resta que uma nota reveladora, a não ser que por entrelinhas insonsas adivinhemos alternativas do nosso agrado ou de desdém com que ele era acolhido por ela.
     Por D Francisca ter sido muito discutida por Camões e Andrade Caminha a rivalidade entre Camonista e o camareiro do infante D. Duarte, estavam descritas e cheias de comentários, conjecturas e interpretações de textos e intrigas literárias palacianas. Andrade enfurecia-se de ciúme com a preferência a Camões. De olhos desconfiados o mesureiro vate, consagrado pela fama, via em Andrade Caminha um moço turbulento.

     Sabemos que, Camões não passava despercebido perante a formusura de uma mulher. Deixava-se cativar pelo seu encanto. Mas a percepção inteligente de D, Francisca soube sempre distinguir tudo o que se movia à sua volta, como todas as mulheres de instinto seguro que o distinguiu simplesmente com admiração pelo seu talento, assim como veio a fazer com Ribaldo frei Ribeiro (chiado) também alcunhado pelo “trinca fortes” que dirigia versos e cartas e requestava ostensivamente as damas.

     Camões, viveu sempre melindrado, arriscando no terreno galanteios a D. Francisca de Aragão, com os seus sentimentos “que não andavam a um só remo” por facilmente se deixar cativar como aconteceu com “Catarina Atalaíde e pela Infanta Maria de Portugal,” que não surpreende.


     Segundo afiança José Maria Rodrigues, - Luiz Vaz de Camões era um poeta educado na veneração do classicismo, grande admirador que servia as regras da etiqueta, manejador de hipérboles, e vezeiro a utilizar a mitologia, e consagrado de fama galanteadora, passou a ser o centro de atenções das damas da corte pertencentes a mais alta esfera da nobreza, pavoneando-se a pregoar as suas rimas perante Francisca de Aragão criando com isso inimizades e ciúmes de outros poetas terem que passar a ser figuras de segundo plano.
     Como era normal, a sua acessibilidade ao paço real fizeram com que alguns olhos desconfiassem …
     Camões não passava despercebido à formusura de D. Francisca de Aragão, - altiva camareira da Rainha D. Catarina, que casou com D. João de Borja, e com quem, por certo, Camões se correspondeu.
     - Era habitual na época os poetas elogiarem a beleza notável de uma mulher, por si ou por outro admirador apaixonado. Com vilancetes, glosas, cantigas, sonetos, epigramas balatas e sextinas, ressaltavam o enlevo amoroso que os poetas fizeram às suas musas inspiradoras!

     Os actos de espirito e a beleza de D. Francisca deixou estupefactos os olhares dos poetas e dos cortesãos, incendiou os corações dos nobres mais ricos, cultos e engenhosos. Inspirou Camões, Andrade caminha, e o seu “doce Jorge Montemor, que a deixou muito lisonjeada ao evoca-la no seu canto de Orfeu! – segundo as palavras de Teófilo Braga
- Desta mulher de celebrada beleza, nenhum testemunho físico nos resta. Mas subsistem vestígios que são história em si mesmos. De facto, fazem-se ouvir vozes, aqui e ali, que a mantêm ligada a Camões pela vida fora e que a dão por perto, mesmo quando ele estanciava na Índia. É no cancioneiro de Andrade Caminha que se podem ler os únicos elogios a D. Francisca de Aragão. 
     Por final, subjugou-se com o prestígio altaneiro do embaixador D. João Borja, filho do cardeal, são Francesco de Borja, dos mais conceituados homens ricos de Castela, numa altura em que terminara o enlace de D. Francisca e D. Duarte, neto de D. Manuel de Portugal.


 - Podemos dizer que D. Francisca atravessou uma das épocas mais curiosas do seculo XVI, em que a historia nos conta episódios das epopeias de heróis, narrativas de gloriosos, e ecos das seroes palacianas, joaninos, manuelinos; a maior popularidade da cultura portuguesa nunca anteriormente alcançada.  A obra das lusíadas de Luís Vaz de Camões está cheia de vozes sobre Francisca de Aragão, o que faz com que ela seja uma importante ressonância nas memórias camonianas.

     A mudança de D. Francisca foi abrupta. A vida tranquila das paisagens da serra de Monchique, dos figueirais, das amendoeiras floridas a perfumar as primaveras para a tumultuosa cidade de lisboa mal cheirosa, que se fazia circular nas galerias, salas e varandas do Paço. Foi um flagrante contraste entre a simplicidade do viver num palácio rustico e o fervilhar de gente da corte animada com a sociedade intelectual, de capitães, navegadores, cronistas, poetas, eclesiásticos, embaixadores e família real.
     D. catarina - na sua época em pleno renascimento cuidou dos estudos eruditos e das cogitações teológicas e filosóficas ao lado de sua sobrinha Infanta D. Maria, Luiza Sigea e muitas outras onde fazia parte D. Francisca de Aragão.
     Criou a escola “ fina da galanteria” de onde saíram “mestres da frívola arte de agradar” com o romantismo a representar os graciosos dramas de amor com a prodigalidade de alegorias metafisicas, a servir a passa tempo da aristocracia portuguesa.
     As tardes da primavera e de verão tornaram-se teatros áulicos de aventuras, inventavam-se jogos engenhosos ou motes glosados com os versos do cancioneiro de Resende, do Sá Miranda e de Camões
Os jardins dos palácios, eram autênticos centros intelectuais, como verdadeiras academias. O palácio do infante D. Duarte, da infanta D. Maria, do duque de Aveiro, e dos condes do redondo, Vimioso, linhares e sortelha, entremeavam-se derradeiras representações dos autos de Gil vicente, pecas de Luiz Vaz de Camões, que alguém chamou com acerto: -escola fina da galanteria.

        Consta-se em alguns ditos e tradições que, as festas portuguesas eram assíduas por gente do outro lado da fronteira como o conde de Alba, e a filha do duque de Vilahermosa, que deixou o convento onde professava como freira para se refugiar no centro da aristocracia portuguesa. O pedido da monarquia espanhola e por seu pai, pressionando a sua expulsão ao rei D. Sebastião, que pelo que se consta, apaixonou-se pela formosa freira, que a deu como desaparecida. Pensa-se que viveu com novo nome no meio da sociedade nobre portuguesa.
     O paço real da ribeira, o palácio de Vila Viçosa, eram centros requintados de luxo e preciosismo que, desabrocharam a “ flor da graça” a elegância da cultura, que consagrou a beleza pela vivacidade das suas réplicas e altivez das maneiras, o encanto que o país nunca tinha vivido.
     As festas intimam com concertos de música com instrumentos tangidos pelos melhores músicos, entre eles. Paula Vicente, acompanhando cantigas vilancetes, éclogas, elegias ou chistes. Pelos mesmos salões, passavam vários pares de leve a dançarem com o langor arrastado ou com a graciosa denguice. As refeições eram acompanhadas com espectáculos dos bobos gracejadores sacudindo as corcundas a desencadear o bom humor dos convidados sentados à mesa.

     Pelo que se consta D. Francisca de natureza maleável adaptou-se ao meio requintado de forma mimosa com todos os intervenientes da alta sociedade, tornando-se a dama preferia de D. Catarina. E, que a descreve: «mulher rígida, e com a disposição de bondade, com o destino a fazer padecer de muito sangrar com a morte sucessiva dos seus novos filhos. Quando depois de viúva e senhora do poder, revela firmeza no seu pulso com qualidades sólidas a governar com a colaboração de Pires de Távora».

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Topónimos Actuais

 Topónimos Actuais

     Os nomes topónimos actuais vieram com a evolução semântica das palavras, e com a origem da forma clássica do vocábulo arcaico.
     Embora muitas vezes os vestígios arqueológicos não permitam concluir a origem para que se faça a semelhança do que sucedeu no outrora, surgem um elevado numero de topónimos. Cada um revela a sua versão fantasiosa que nos leva a excluir a possibilidade da verdadeira designação.
     Os nomes, topónimos actuais, apareceram com a evolução da semântica das palavras, com a origem clássica do vocábulo arcaico.
     Embora não exista explicação plausível para a origem do nome de certas localidades, há quem opine, embora com pouca convicção. Tudo se relaciona com vocábulo arcaico com varias interpretações, em termos latinos e árabes. Entre várias hipóteses existe a mais provável, que sustenta a designação mais credível.
     A origem dos topónimos possivelmente pudera sido todavia outros.
     Segundo, existem muitos estudiosos e várias versões, todas elas a sintonizarem-se por diferentes vocábulos e suas teses, argumentadas pelo estudo de documentos com origens e designações de topónimos em galo-celta, árabe e latim. A maioria remete a origem dos topónimos para a presença romana, defendendo as versões vindas do vocábulo do latim, mas há quem discorde dos seus antropónimos e os considere fito topónimos. Quanto a outros investigadores continuam sem saberem dar resposta consensual, deixando a lendas descreverem-se por si.
       Uma grande parte das actuais cidades teria sido anteriormente povoadas com fortificações pré-históricas, romanizadas, sucessivamente ocupadas pelos visigóticos, árabes, mais tarde acastelados e circunvizinhados por judeus e moçárabes.
     A actual cidade de Seia, documentada fundada há 2400 anos pelos túrdulos sob a dominação de “ Oppidum Sena” que na reconquista cristã passou a chamar-se “Civitatem Senam.” Fundada por pastores vindos do norte da europa em direcção ao sul, que procuravam um lugar com bom pasto para se fixarem com os seus rebanhos e suas famílias. Faziam-se crer de um mito que, os Deuses conduziam os seus animais até que eles decidissem parar. E este lugar seria o escolhido. Com o ajuntamento de muitas famílias no mesmo lugar veio a constituição de “ Oppidum Sena.”



     Podem-se ver em vários documentos antigos –“pesquisadores procuravam o melhor lugar para assentar a construção de um mosteiro ou castelo. Escolhiam um lugar favorável aos seus augúrios, e lançavam os seus fundamentos: ” os castelos eram construídos em lugares de difícil acesso, a permitir a defesa e o espaço aberto de vigia ao horizonte.
     Avis, foi escolhido por terem sido encontradas duas aguias sobre uma azinheira. O primeiro edifício a ser edificado era uma torre muito elevada, a alcáçova, - o único reduto de resistência mesmo da seguintes construções, as muralhas à sua volta.
     Em certas localidades das províncias da Beira, aparecem desígnios de corvos gravados em pedra, e pelo estudo, aquelas aves que ali teriam existido eram consideradas pássaros divinos. O corvo era uma ave profética sagrada – símbolo, segundo as crenças antigas, “de um mau agoiro, que pressentiam a morte e a transmitiam com o seu gosmar.”

Muitos nomes provêm de forma genitiva antemedieval, do antropónimo germânio, como Sesmordi para Sermonde

Topónimos      – nome de uma localidade
Étimo              – palavra considerada como origem de outra
Fito topónimo – propósito que se pensa do nome de uma localidade
Homónimos    – o que tem o mesmo nome
Antropónimos - nome próprio, sobrenome ou apelido

Frádigas – (freguesia. De Vide conselho De Seia) - um povoado que suscita muita polemica quanto a várias interpretações…
Topónimo associado a “Frádiques”  - povoação ou local  pertencente a uma comuna  de frades. Mas há quem remeta para a existência de fragas: rocha escarpada, penhasco, rochedo, e superfície pedregosa com altos e baixos. Não ficando por essas possibilidades, porque, pode-se também associar a “aforádigas”- vocábulo do português arcaico, que é um lugar com a concepção de uso e fruto de propriedade por longo prazo mediante de uma renda paga através de” lagarádigas” produtos vinícolas, ou “eirádigas” produtos de cultura, renda abolida no seculo XVII.

Sesimbra- há quem defenda que a designação Sesimbra, provem de Zambra de origem romana, mas os estudiosos recuaram mais no tempo, e afirmam que o nome primitivo “Sesimbrigue” de origem Celta Zimbro-celtibera ou caspiana numa grafia geográfica ptolemaica que se situava estendida alem da periferia da serra da Arrábida. Que se tornou a tese mais provável, escrita num documento do seculo IV a referir pela primeira vez “Ceupsi briga” ou “Censi briga” de origem celta, o burgo de Cempsos que, de origem celta. Chegando aos tempos de hoje através de vários vocábulos a Sesimbra. - Segundo Carlos Tavares da Silva, encontrou e registou material do Outeiro Redondo em Sesimbra, sugerindo um período de ocupação situado cronologicamente por volta de 2500/2400 a.C.

     Castelo Mendo – A população que vivia numa povoação de menor altitude, transferiu-se para o Castelo Mendo, pelo ataque de uma praga de formigas. Praga essa que também faz parte das origens lendárias de castelo Novo, Castelo Rodrigo, Idanha-a-Velha e Piódão.
     Castelo Novo – conselho do fundão – terá havido um castelo velho a poente  do castelo novo, onde ainda restam vestígios de uma fortificação no alto da serra.

Adicionar legenda


Beja                  – Pax Julia – Latim
Castelo Branco – Castra Leuça, elevada a cidade em 1771 pelo rei D. José que lhe fez a mudança do nome.
Braga                – Bracara Augusta – Latim
Buçaco             – teve varias grafias como Bruzzarcro
Alfarim             – lugar sagrado para mulheres
Alcobaça          – teria sido Alcoboxa em latim e Helcobatie em árabe.
Benquerenças – lugar defensor dos fracos e dos pobres perante os poderosos
Castelo Viegas, como tudo indica, provém da existência de um castelo antiguíssimo do seculo XII pertencente a Salvador Viegas.

     No entanto, o topónimo «Granja», segundo Almeida Fernandes, apenas terá começado a ser utilizado em Portugal aquando da entrada da Ordem de Cister em Portugal – primeiro em Tarouca entre 1138 e 1143, e depois em São Pedro das Águias, tratando-se pois de um topónimo de origem monástica referente ao latino «granu-», adaptado para a língua franco-francesa, e que designa as quintas fundadas dentro dos coutos dos mosteiros de Cister.

terça-feira, 25 de junho de 2013

Diogo de Couto (1542 – 10-12- 1616)


Diogo de Couto  

Nasceu em Lisboa (1542 – 10-12- 1616) morreu com 74 anos em Goa com ocupação de historiador.
Estudou Latim e Retórica no Colégio de Santo Antão e Filosofia no Convento de Benfica. Em 1559 vai para a Índia, donde só regressaria uma década depois. Amigo íntimo de Luís Vaz de Camões, vai descobri-lo na Ilha de Moçambique em 1569, com dívidas e sem dinheiro para voltar. Diogo de Couto e outros amigos disponibilizam-se para ajudar o poeta, que deste modo poderá apresentar na capital a sua maior obra, os Lusíadas.



Chegam a Lisboa em Abril de 1570 na nau Santa Clara: fundeada a nau em cascais sem que fosse permitida a entrada no Tejo, porque Lisboa estava fechada com a peste. Só com uma autorização solicitada a el-rei por Diogo de Couto, que de cavalo se deslocou a Almeirim, quando regressou e lhe foi onde autorizada a entrada no Tejo

 Entendeu que a história deve conter as "verdades" sem restrições, acaba por sofrer repressões, dizendo como objectividade incomodava muita gente cujos antepassados estavam envolvidos nos acontecimentos que narrava. Este historiador criticou os abusos, a corrupção e as violências correntes na Índia, protestando abertamente contra eles.

Entendeu que a história deve conter as "verdades" sem restrições, acaba por sofrer repressões, dizendo como objectividade incomodava muita gente cujos antepassados estavam envolvidos nos acontecimentos que narrava. Este historiador criticou os abusos, a corrupção e as violências correntes na Índia, protestando abertamente contra eles.
Além das "Décadas", de orações congratulatórias e comemorativas que proferiu em solenidades no Oriente, e do relato do naufrágio da Nau S. Tomé, escrito na História trágico-marítima, escreveu também o célebre Diálogo do Soldado Prático, que contém uma crítica mordaz ao funcionalismo na Índia, pondo a descoberto a ambição da riqueza, o amor ao luxo, a opressão aos pobres, a falta de dignidade e a deslealdade nas informações ao Rei.

Joana da Gama

Joana da Gama – (Viana do Alentejo, 1520?- Évora, 1586)




Joanna da Gama. Naceo em a Villa de Viana do Alentejo de Pays nobres quais erão Manoel Casco, e Filippa da Gama. Como se visse livre do vinculo conjugal por morte de seu marido com quem fora casada anno e meyo anhelando a estado mais perfeito fundou na cidade de Evora hum Recolhimento intitulado do Salvador do Mundo onde recolhida com algumas companheiras de que erão as principaes Catherina de Aguiar, e Brites Cordeira observavão a Regra de S. Francisco sendo seus Directores os filhos d'este grande Patriarcha. Ao tempo, que esperava da benevolencia do Cardial D. Henrique estabilidade para o novo edificio foy demolido por sua ordem para mayor extensão do Collegio dos Padres Jesuitas ordenando às Recolhidas fossem viver em casa de seus parentes até lhe fundar outra habitação. Com excessivo sentimento deixou Joanna da Gama o lugar, que o seu espirito elegera para se dedicar a Deos, fallecendo a 21 de Setembro de 1586. Jaz sepultada na Igreja da Misericordia de Evora em sepultura propria. Compoz.

     São poucos os historiadores que se dignam falar da literatura Joana da Gama, «por consideram uma escritora menor.» No entanto a sua obra, muito pessoal, surge num período decisivo no que diz respeito à promoção feminina em Portugal, porque nos Cancioneiros da poesia medieval não há indício nenhum da existência de mulheres poetizas, e o amor foi um tema de predilecção.
     No fim do século XV as coisas vão mudando e no primeiro quarto do século XVI, modificaram-se as mentalidades da nobreza e da plebe mais instruída. As senhoras da nobreza, sobretudo as que frequentam a corte progridem, em torno das rainhas D. Leonor, mulher de D. João II, de D. Maria, esposa de D. Manuel I, e de sua filha mais nova Infanta D. Maria de Portugal- duquesa de Viseu. E, um grupo de senhoras instruídas da nova geração que pretendem ser iguais aos homens, e tratam de adquirir uma cultura humanista, chegando a estudar literatura línguas e artes, e algumas tentam viver da sua pena.
     Entretanto o grande impulsionador da cultura portuguesa, Garcia de Resende (1516), não se sabendo se na cidade Lisboa ou Évora, nomeia entre cerca de 300 poetas de um Cancioneiro vinte cinco damas, salvo erro.




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Joana da Gama, não era uma dama da corte nem uma mulher muito culta. Provavelmente viveu quase toda a sua vida na "província", em Évora. Mas teve a sorte de gozar de uma independência excepcional. O facto de ter vivido em Évora deu-lhe a incidência de uma grande formação. Évora deixara de ser uma Cidade provinciana, sendo muitas vezes visitada por gente da corte: Infanta D. Maria de Portugal; Cardeal-Infante D. Henrique que ali residiu depois de ter sido nomeado arcebispo, apesar de se comportar como um mecenas, favorecendo a literatura e as artes.
      Uma das informações sobre a escritora é, obviamente um testamento assinado por Joana da Gama, conservado no Arquivo da Misericórdia de Évora. Tito de Noronha, que editou a obra de Joana da Gama em 1872, indica um manuscrito conservado na Biblioteca de Évora onde é qualificada como solteira, embora a aprovação do testamento diga que é viúva. Talvez Tito de Noronha não tenha visto ele próprio os documentos citados, e tenha utilizado uma transcrição incompleta. Não sendo assim, ele teria falado com certeza duma disposição particular do testamento, cujo original se perdeu.
O texto que se encontra no Arquivo do Distrito de Évora é uma cópia, com letra muito cuidada e data de 14 de Abril de 1597. Abre com esta declaração:

     Em nome de Deos Amen. Saibão os que esta cedola e testamento, e ultima vontade virem como eu Joana da Gama beata por não fazer profissão e estar sempre na posse de minha fazenda posso testar della e por não saber a çerteza da hora em que nosso Sñr me querera levar desta vida prezente sendo moradora nesta çidade de Evora estando sãa e em meu perfeito juizo e entendimento temendo a morte faço e ordeno esta minha çedola e testamento nesta maneira seguinte.

     A seguir, a testadora organiza as próprias exéquias, indica os legados que destina aos seus criados, enumera as herdades que possui e as rendas delas e designa como herdeira universal a sua sobrinha Isabel da Gama. Também funda uma notável instituição que se tornará efectiva depois da morte de Isabel: ordena que se pague uma renda vitalícia a três merceeiras (de mercê), mulheres de 40 a 50 anos, elegidas pela sua piedade e bons costumes pelos irmãos da Misericórdia – que também serão pagos por tal missão – a obrigação das merceeiras consiste em ouvir uma missa mensal em que rezarão pela alma da sua benfeitora. No fim, ela louva a amizade da sua sobrinha Isabel, encarregada de cumprir as suas últimas vontades.

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     Joana da Gama morreu a 21 de Setembro. A sobrinha sobreviveu-lhe onze anos. Só então a Santa Casa da Misericórdia, depois de ter deliberado, aceitou o legado e o cargo de organizar as Mercearias, e mandou copiar o testamento num livro em que cada merceeira devia assinar o seu compromisso. A instituição funcionou ao longo de mais de três séculos: a última merceeira assinou a 5 de Junho de 1908. Quer dizer que a fortuna de Joana da Gama foi importante, e gerida com sabedoria.
     O testamento não diz nada da filiação, da idade, das actividades literárias da testadora. Morta em 1586, deverá ter nascido por volta de 1520. É curioso que ela não fale do seu marido. Mas, segundo Barbosa, só foi casada ano e meio. Designa-se a si própria como "beata". O que é certo, é que vive em casa própria, não tem filhos, administra pessoalmente a sua fazenda.
     O documento, apesar da linguagem convencional e das fórmulas oficiais, revela uma personalidade muito firme, que já se nota na declaração inicial. Se a devoção da "beata" não inspira a menor dúvida, ela manifesta uma certa ostentação, perceptível nos detalhes das exéquias, em que irão, por exemplo, doze pobres com tochas acesas. Joana da Gama é uma senhora habituada a ser obedecida. O seu modelo feminino é definido pelas virtudes de paciência, obediência e submissão. Barbosa declara que é filha de pais nobres.
     Possivelmente até pertencer à família do navegador Vasco da Gama, natural do Alentejo. Tal origem familiar poderia explicar que tenha recebido uma boa educação, mas ignora-se tudo da sua formação intelectual.
     A sua obra dá alguns indícios sobre a sua formação, em que a música e a leitura desempenharam um papel importante. Essa obra teve pelo menos duas edições no século XVI, ambas anónimas, ainda que Barbosa Machado a atribua formalmente a Joana da Gama. Mas nenhuma das duas edições conhecidas traz autor, lugar, editor, ou data.
     Joana da Gama não podia ignorar a animação da cidade, ouvia falar dos grandes personagens, dos artistas, dos escritores, dos estudantes e professores que frequentavam a Universidade, fundada em 1558 e os jesuítas assentes em Évora, a inquisição terá considerado os poemas Joana da Gama um divertimento indigno de ser impresso ao lado de reflexões sérias, ou possivelmente registados com nome de homem. Na realidade são poucos os versos de sua autoria que nos chegaram ao nosso tempo. 




     Os temas dos aforismos são muito diversos. Deve ser notada a importância das rúbricas «Amor», «Discriçam», «Molher», «Pessoas diversas», «Tempo». A autora manifesta uma liberdade de tom rara na época. Quanto ao estilo, que neste género de escrita impõe brevidade e concisão, revela Joana da Gama um real talento de expressão. Ao longo da obra, o leitor pode ver que a pessoa que se dissimula atrás do nome de «freira» e pretende não saber mais que o ABC conhece porém alguns princípios da arte de escrever: revela uma predilecção pelos anacolutos, cortes sintácticos muito frequentes no discurso oral, mas que utiliza conscientemente e com acerto; tem o sentido do ritmo, das fórmulas proverbiais muitas vezes ornadas de rimas, expressa o seu pensamento habilmente, sabe renovar quando necessário um lugar-comum com uma reflexão que o transforma. Em suma, embora aquela mulher não faça alarde duma cultura humanista, como os seus contemporâneos masculinos ou as senhoras da roda da Infanta D. Maria, ela sabe aproveitar com inteligência uma instrução que, a acreditar no que diz, foi apenas sumária. De maneira espontânea ou não, escolhe as técnicas que convêm à sua sensibilidade, e os seus aforismos são muitas vezes cheios de poesia.
     Dor de viver, melancolia, fugir do tempo: eis os seus temas favoritos, em que não se inclui o amor, que percorre a poesia lírica dos contemporâneos. A natureza é quase ausente, salvo num delicado vilancete. Os diálogos, em oito estrofes de oito versos, são muito interessantes, não apenas porque se inserem na tradição dos debates poéticos — as tenções medievais ou os desafios dos improvisadores do paço —, mas sobretudo porque põem em cena abstracções personificadas («Velhice», «Razão», «Sentimento», «Razão»), como no teatro medieval ou no de Gil Vicente.

     Em conclusão, as tentativas literárias de Joana da Gama revelam uma sensibilidade deliberadamente feminina, que se afirma à margem das vias e das modas dirigidas pelos homens do seu tempo. Se a ausência de mestres a levou a cometer alguns erros de versificação, também lhe permitiu do mesmo modo conservar uma inspiração fresca e sincera. Uma voz modesta, sem dúvida, mas que merece ser ouvida.



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Joana da Gama (1520? - 1586), nascida em Viana do Alentejo e «moradora nesta Cidade de Evora» (como consta do seu testamento), embora tivesse publicado sob a cobertura do anonimato, é a primeira mulher com obra original em língua portuguesa de que há conhecimento. Os seus Ditos da Freira, reflexões morais seguidas de Trovas, vilancetes & sonetos, cãtigas & romances, foram publicados, segundo se crê, em 1555. Saiu uma segunda edição ainda no século XVI, expurgada porém dos textos em verso.
 A escritora, falecida a 21 de Setembro de 1586, geralmente ignorada ou desprezada pelos historiadores da filosofia e da literatura, tem mais motivos de interesse do que essas desatenções parecem revelar.



Onde acharei sofrimento
Para vida tão penada?
Não me deixa meu tormento
Com a dor desesperada;
Tem-me feito tanto dano
Que me tem a alma chagada;
No meio do coração
Tristeza aposentada;
Não lhe posso fugir, não,
Que comigo vai pegada;
Têm-me as potências somadas
Que me não servem de nada;
Nenhuma cousa de gosto
Em mim pode ter entrada;
Se alguma hora prazer vejo
Faz-me ser mais enojada;
Mil gritos dão meus sentidos
Quando eu estou calada.







      É precisamente num contexto eborense aparece Dona Joana da Gama, nobre eborense, celebrizada autora dos Ditos da freira, criou na sua residência um recolhimento da Ordem Terceira de São Francisco, onde se desenvolve o culto ao Senhor Salvador do Mundo. O Convento do Salvador do Mundo torna-se no primeiro edifício conventual com este título pertencente à Ordem Franciscana.
     As primeiras instalações do convento fazem-se em casas dos ascendentes de Dona Joana da Gama, que ficavam no cômoro do terreiro do Noviciado do Colégio da Companhia de Jesus, as quais tiveram de abandonar, por determinação do Cardeal-Infante D. Henrique, pois este desejava construir no local uma igreja da Companhia de Jesus (a igreja do Espírito Santo), pelo que conseguiu incentivar as religiosas a cederem as casas. O denominado Salvador Velho é consequentemente demolido, para conceder espaço envolvente à nova construção, após a expropriação do local por compra pública, segundo escritura de 22 de Outubro de 1567. A comunidade muda-se definitivamente, em 11 de Fevereiro de 1604 (1605), com o acompanhamento de clérigos precedidos do prelado D. Alexandre de Bragança, nomeado no ano de 1602 por Filipe II de Portugal, e do Bispo de Nicomedia, para uma parte do grandioso palácio dos Martins da Silveira, Paço dos Condes de Sortelha, que a fundadora Dona Joana da Gama e a segunda abadessa, Soror Catarina Aguiar, conseguiram adquirir por compra.
     Évora, no século XVI e XVII, diocese e cidade, enriqueceram-se da presença de palácios, de igrejas, de conventos e de muitas obras de arte, devido à multiplicidade de conventos, à formação de um requintado círculo de humanistas e artistas e à fundação da universidade.
     O testamento não diz nada da filiação, da idade, das actividades literárias da testadora. Morta em 1586, deverá ter nascido por volta de 1520. É curioso que ela não fale do seu marido. Mas, segundo Barbosa, só foi casada ano e meio. Designa-se a si própria como "beata". O que é certo, é que vive em casa própria, não tem filhos, administra pessoalmente a sua fazenda.

     O documento, apesar da linguagem convencional e das fórmulas oficiais, revela uma personalidade muito firme, que já se nota na declaração inicial. Se a devoção da "beata" não inspira a menor dúvida, ela manifesta uma certa ostentação, perceptível nos detalhes das exéquias, em que irão, por exemplo, doze pobres com tochas acesas. Joana da Gama é uma senhora habituada a ser obedecida. O seu modelo feminino é definido pelas virtudes de paciência, obediência e submissão. Barbosa declara que é filha de pais nobres.
O Massacre de 1506 em Lisboa



O Massacre de 1506 ficou como que apagado da memória colectiva, um pedaço de história esquecida que não está nos livros de História, caiu no esquecimento e são poucos os historiadores que lhe fazem referência. O horror e a violência foram descritos e reproduzidos por Damião de Góis, Alexandre Herculano, Oliveira Martins, Garcia de Resende, Salomon Ibn Verga e Samuel Usque.
     Este episódio, conhecido como o Massacre de Lisboa, acentuou o clima de crescente anti-semitismo em Portugal
     Os cristãos-novos que permaneceram fiéis à sua religião judia, considerados criptojudeus, inventaram todas as formas de esconderem a sua convicção religiosa. Consta-se que chegarão a mudar os hábitos de alimentação; fizeram enchidos de carne de aves para imitar os tradicionais chouriços de carne de porco, proibida aos judeus.
 O rei João III influenciado pela igreja sentiu-se usurpado, e manda instalar a Inquisição em Portugal em 1536, e ao estabelecimento de uma política severa e castigos em relação aos cristãos-novos. Os tribunais do santo ofício fizeram cerca de 1.500 vítimas mortais, que influiu no desaparecimento dos ofícios nas regiões de Trás-os-Montes e Beiras, onde os judeus eram os dinamizadores da produção de têxteis, sedas e lanifícios. 



     Samuel Usque (que escreveu a famosa Consolação às Tribulações de Israel) e a Bíblia de Ferrara, dedicada a Dona Gracia Mendes ou Gracia Nassi,(1) natural de Lisboa, mecenas e protectora dos judeus da Diáspora depois do Decreto de Alhambra, Pedro Nunes (matemático), Abraão Usque (editor e tradutor), Garcia de Orta (médico e naturalista), António José da Silva (dramaturgo), Ribeiro Sanches (médico) e Rodrigues Lobo (poeta) são alguns dos cristãos-novos portugueses com dimensão histórica e cultural nas áreas do pensamento, técnica, artes e letras. Muitos foram perseguidos por isso: Matias Pereira e Pedro Nunes Pereira, netos de Pedro Nunes, foram acusados de judaísmo e presos pela Inquisição em 1623; António José da Silva foi garrotado antes de ser queimado num auto-de-fé em Lisboa em Outubro de 1739; após a morte de Garcia de Orta, as suas ossadas foram descobertas e queimadas numa macabra cerimónia da Inquisição que deitou as cinzas ao mar. A sua irmã Catarina Orta, obrigada a acusar toda a comuna judia de Goa, sobre tortura, e em mau estado, com o corpo mutilado é queimada viva num auto-de-fé em Goa em 1569.

(1)        - Gracia Mendes ou Gracia Nassi, (1510-1569), conhecida também simplesmente como A Senhora, foi uma empresária portuguesa, filantropa, protectora de outros portugueses de religião judaica que como ela fugiram de Portugal no século XVI. Gracia salvou centenas de cristãos-novos e marranos da morte e das perseguições anti-semitas. A sua benevolência para com os outros judeus sefarditas ficou especialmente patente em Antuérpia, para onde foi viver depois de deixar Lisboa. Cidades seguintes na sua fuga às perseguições que lhe foram movidas foram Veneza, Ferrara e finalmente Constantinopla.


Alves Fernandes