Historicamente, os dados que tenho
figura-me uma certeza significativa dada há pouca atenção da época e aos
redigidos de uma letra uniforme, da mesma mão, cronologicamente muito pouco
precisa, com poucos dados referidos…
Acidez, repasse de tinta e folhas
destacadas de algumas encadernações truncadas e também rasgadas com omissão de
texto, prejudica a leitura.
Tendo alguns escritores
supostamente terem feito a sua história para melhor defenderam os seus
interesses… a deixarem em causa algumas controvérsias. A época a que
correspondem estes acontecimentos é profundamente marcada por constantes
revoltas com pouca ou nenhuma autoridade. Alguns conteúdos por mim lidos estão
significativamente comprometidos deixando-me entre o mito e a realidade quando as
vicissitudes históricas põem apenas hipóteses… por não termos conhecimentos
subsequentes.
Diz-nos a história:
Vila Pouca da Beira foi o
local escolhido para erguer uma casa conventual, cuja invocação foi muito
difundida na centúria de Setecentos. As razões para a escolha deste lugar de
implantação, terão sido «a beleza do sítio, a amenidade dos ares, a abundância
de água, a abundante vegetação, a fauna e flora paradisíacas e, o esplendor de
uma desafogada paisagem» - opinião vista Bispo Conde de Coimbra, D. Francisco
Lemos de Faria Pereira, Coutinho, testemunhada pela descrição arquivística e
inventário espólio documental do cartório da Mitra Episcopal de Coimbra.
Vila Pouca da Beira
Povoação Vila Pouca da Beira recebe a
carta de foral atribuída a 20 de Dezembro de 1519 pelo rei D. Manuel I, já com
tradição religiosa com a referida a existência da primitiva «ermida de S. José,
sob um largo com um pelourinho, a escassa centena de metros num pequeno cabeço
isolado, sobre a colina fronteira ao rio Alva». Foi possivelmente demolida ou
incluída numa das dependências da singela arquitectura do convento.
A primitiva ermida de S. José com
vicissitudes desconhecidas, ao fim de algum tempo, a fim de prover as
necessidades de espaço para a comunidade monástica alargou-se o edifício até á
construção vigente?
As construções começavam com
um pequeno templo de nave única, preparada para poder de futuro ser refeita.
O desenvolvimento das
povoações fazia com que se alargassem os locais de culto. Construída uma capela,
acrescentava-se uma nova dependência á velha construção.
Vila Pouca da Beira, foi vila e sede de
concelho até ao início do século XIX, constituída apenas pela freguesia da sede
com uma população 402 habitantes em 1801, depois, acabou por ser anexada ao
concelho de Avô, e que hoje, são duas freguesias do conselho de Oliveira do
Hospital. Vila Pouca da Beira em 1848 tinha 3000 pessoas, tendo hoje menos que
no começo do seculo XIX.
A mitra de Coimbra possuía o privilégio de
jurisdição cível e crime em diversos coutos do bispado de Coimbra, como
Arganil, Avô, Barrô, Candosa, Coja, Lourosa, Midões, Santa Comba Dão, etc., nos
quais nomeava juízes, ouvidores, meirinhos, alcaides, inquiridores, escrivães e
tabeliães. Eram os juízes dos seus coutos e vilas que dirimiam todas as
questões judiciais, mas em Coimbra as decisões eram tomadas no Auditório ou
Relação Eclesiástica.
Convento do Desagravo da Villa Pouca da
Beira começa a ser erguido no último quartel do século XVIII. A licença de construção
refere: Convento de Desagravo do Santíssimo Sacramento de Vila Pouca da Beira,
concedido pelo Bispo Conde de Coimbra, D. Francisco Lemos de Faria Pereira,
Coutinho, (1735 — 1822) a 19 de Agosto de 1780, conforme a Provisão Régia e
Episcopal, - como proprietário, era quem podia autorizar as instituições
monásticas na Beira.
Seguindo todas as fontes coevas, com a
morte de D. Francisco Lemos de Faria Pereira, Coutinho, sucede-lhe o Patriarca
de Lisboa Francisco de São Luís Saraiva, que levou a construção do «Convento do
Desagravo a estar apto a ser habitado onze anos mais tarde do começo da sua
construção, embora não totalmente concluído, apenas faltando a finalização de
pequenos trabalhos.» O que leva a crer depois de consultar alguns documentos,
que o convento estaria habitado entre finais de 1800 e 1801, a ultima data está
gravada em um dos sinos. O ponto final da construção exibe-se na data 1817 de
um segundo sino.
Uma
segunda versão: “A construção deverá ter começado a ser construído por volta de
1780 e ter ficado pronta cerca de 1800, quando chegaram “duas irmãs clarissas
do convento do Louriçal, alojadas no hospício, parte do edifício já acabada.”
Provisão Régia
e Episcopal citam que, o convento estava sobre a alçada do ordenamento do
administrador da concelhia local, vivendo com as esmolas do povo, da semeadura
dos seus terrenos e das dotações da nobreza de Vila Pouca da Beira.
Os eclesiásticos nos séculos anteriores
tinham o hábito de rasurar nos documentos as palavras e
entrelinhar um duplo sentido de interpretação complexa como hospício,
recolhimento, - que possivelmente queria dizer casa de hóspedes. O hospício do
Convento do Desagravo de Vila Pouca da Beira dava guarida temporária ao
Bispo-conde de Coimbra e recebeu titulares de dioceses.
Existe a versão lendária de
que a verdadeira criadora do convento:
«Mulher analfabeta do povo, fundadora e
dinamizadora, “Soror” Genoveva Maria do Espírito Santo, falecida a 31 de
Dezembro de 1821. Recolheu esmolas, não só no país como na corte no Brasil
recebendo jóias das mãos da Rainha D. Carlota Joaquina, e que ambas comprovam
em documentos escritos, e da mesma forma.» - Sem que se refira quais as fontes
e onde se encontram.». Cria-se aqui uma confusão com a aia de D. Pedro IV, D.
Maria Genoveva do Rêgo e Matos, irmã de D. Maria Constância do Rêgo Matos,
sendo o único nome mais parecido.
A lenda de Genoveva Maria do Espírito
Santo, não tem qualquer credibilidade. Os transportes eram lentos, e
dispendiosos para qualquer pessoa da classe media baixa. Só os homens bem
renumerados, comerciantes empresários ou titulares hierárquicos podiam dar-se
ao luxo de sair de casa para qualquer ponto distante do país. Dificilmente
senão impossível uma mulher do povo analfabeta atravessar o oceano duas vezes,
a não ser que fosse criada da realeza. Que partiram em 1808 e regressaram em
1821, quando o convento já estava edificado. As viagens por mar ao Brasil,
lisboa, Rio de Janeiro levavam quatro a cinco meses. As doenças a bordo faziam
transtornos de toda a ordem. Os infectados a bordo duravam pouco e eram
sepultados no oceano.
Canonicamente descreve-se uma lenda em que
as abadessas fundadoras são, Soror Maria do Lado e Soror Maria Barbara, mas a
primeira simplesmente foi a verdadeira inspiradora do convento do Louriçal(1),
e faleceu em 1632, já teria sido estigmatizada um pouco antes de morrer, fora
considerada prelada perpétua e venerável desde 1720. Soror Maria Barbara viria
a ser abadessa, que tomara a direcção do convento do Desagravo do Santíssimo
Sacramento de Vila Pouca da Beira com freiras clarissas em “compromisso
perpétuo”, que implicava os votos de obediência, pobreza, castidade e clausura.
A ordem religiosa deu grande contributo para o desenvolvimento da região.
(1) -As irmãs clarissas do Louriçal pertencem a uma Congregação
fundada em 1631 e que, posteriormente, foi agregada à Segunda Ordem Franciscana
(Ordem de Santa Clara), em 1709, tomando a designação de Clarissas do
Desagravo.
A presença das freiras clarissas
fizeram crescer vários aglomerados populacionais que em seu redor fixaram
residência, e mais tarde se tornarem freguesias.
A falta de crescimento populacional fez
com que migrassem de zonas mais povoadas para locais de fraca demografia. O
número de mortes superava todos os anos em mais de metade das crianças
falecidas. A mortalidade, quer adulta, quer infantil, ficou a dever-se à
trilogia da fome, da peste, doenças sazonais e por final das guerras. O número
elevado de mortos estava entre as camadas mais pobres, que faleciam em
palheiros com condições degradantes e desumanas.
A invasão Francesa
A invasão Francesa a Portugal a 15 de
Setembro de 1810 pela Beira, com o objectivo de alcançar rapidamente Lisboa
através de Coimbra, acabou por sacrificar o Convento do Desagravo do Santíssimo
Sacramento de Vila Pouca da Beira. O exército francês mais numeroso das três
invasões francesas a Portugal com um efectivo total de 65.050 homens, oficia,
sargentos e soldados, comandados pelo general Massena, que contava unidades de
apoio dos desertores portugueses, Pedro Almeida, Marquês de Alorna e muitos
outros exilados que optaram por ficar em França.
Convento do Desagravo resistiu à fúria das
invasões francesas, e mais tarde das leis liberais que ditaram o encerramento
dos conventos.
A extinção das ordens
religiosas em 1834
As Cortes Constituintes do reinado de D.
João VI por Decreto de 18 de Outubro de 1822, proíbe a admissão de noviços nos
conventos e reduz as casas conventuais. Essas determinações foram suspensas
depois da contra-revolução de 1823, mas não "saiu do espírito dos liberais
a ideia de executarem uma nova reforma eclesiástica de futuro a seu modo".
A
contra-revolução ao movimento político português de 1820 começa, por assim
dizer, no próprio momento em que se dá o levantamento do Porto de 24 de Agosto,
vai crescendo no decorrer do processo revolucionário e tem o seu momento
vitoriosono golpe da Vilafrancada, ocorrido em 27 de Maio de 1823.
1834
-
Surge o decreto de extinção das Ordens Religiosas pelo Ministro da Justiça,
Joaquim António de Aguiar, que redigiu o texto do Decreto assinado por Pedro IV
de Portugal, foi publicado em 30 de maio de 1834. Por esse diploma, eram
declarados extintos todos os conventos, mosteiros, colégios, hospícios, e
quaisquer outras casas das ordens religiosas sendo os seus bens secularizados e
incorporados à Fazenda Nacional, à excepção dos vasos sagrados e paramentos que
seriam entregues aos ordinários das dioceses.
O diploma afirma ainda que seria concedida
uma pensão anual aos religiosos que não obtivessem benefício ou emprego público
o que nunca veio acontecer Esta lei valeu a António de Aguiar o apelido de
"Mata Frades".
Todas as instalações conventuais do país
foram sucessivamente ocupadas pelos mais diversos serviços e organizações do
estado ou foram vendidas à semelhança de tantas outras restantes em hasta
pública.
Quanto às ordens religiosas femininas
continuaram a existir sem poderem admitir noviças. Ficando assente em 1862, que
os conventos e mosteiros femininos seriam extintos por óbito da última
religiosa, sendo os bens da instituição incorporados na Fazenda Nacional.
A extinção das ordens religiosas em 1834
veio interromper a vida conventual da ordem das irmãs Clarissas, mas a
instituição permaneceu até que embora a última freira faleceu em 1889, data em
que o convento foi de facto encerrado.
Cronologia Da utilização das instalações do Convento
1889 – A 20 de Julho faleceu
a ultima religiosa do convento de Vila Pouca, depois as instalações de uma
parte do convento foram adaptados e ampliados para hospital para fazer face á
doença da tuberculose com o empenhamento da Rainha D. Amélia, do seu médico D.
António de Lencastre e doutor Sousa Martins, ficando o Doutor, Lopo de
Carvalho, responsável pelos centros onde residiam ou estabeleciam doentes,
praticando a chamada cura livre – vivência em clima de montanha, sem
acompanhamento médico regular.
1928 A 1935 -
Encontrava-se instalado o Posto Agrário do Mondego, extinto em 1935. Estava
destinado a promover o aperfeiçoamento e os processos de cultura. O emprego das
adubações e seleccionar sementes. Ensino do processo adequado para produção de
cereais.
1935- Arrendado às religiosas
Doroteias, que ali se instalaram em 1936 um colégio, encerrando o mesmo em
1939, e deixado a vila a 13 de Dezembro do mesmo ano. Dois anos mais tarde, o
edifício é aberto e documenta-se num livro da diocese de Coimbra que, o
Convento do Desagravo do Santíssimo Sacramento de Vila Pouca da Beira
encontra-se muito desagradado, sem condições para habitar.
1942 – O convento recebeu obras de
sustentação. As obras centraram-se na implantação de uma estrutura de protecção
das águas da chuva, consolidação da estrutura principal do edifício e cobertura
de paredes expostas aos elementos. Toda a zona envolvente foi alvo de regulares
intervenções ao nível da limpeza dos terrenos e arranjo dos seus acessos.
Depois das reparações, estiveram em trânsito um grupo de irmãs Dominicanas,
após realizarem o noviciado no Mosteiro de Prouille, França, para expressarem a
misericórdia e a compaixão para com a humanidade com gestos de solidariedade e
na educação. Permaneceram pouco tempo, esperando serem colocadas na Casa de S.
Domingos do Santíssimo Rosário, em Fátima, ainda em construção, onde permaneceu
até 1984, que foi transferida novamente para a Casa de S. José, Quinta do
Ramalhão, em Sintra.
1952 – Instala-se a Junta
Geral da Província da Beira, com o código Administrativo desde 1836: Juntas
Gerais de Distrito - órgãos de administração regional do território,
desenvolviam actividades de assistência infantil, hospital, e colonia de férias
“Ar e Sol”. Bissaya Barreto tomou posse como presidente da Junta Geral do
Distrito de Coimbra em 1927, dando continuidade às obras antituberculosa,
protecção às grávidas e, defesa das crianças, até 1959, quando o Código
Administrativo das províncias foram extintas como autarquias e, substituídas
pelos distritos, que passaram a dispor de dois órgãos: o Conselho de Distrito,
formado por procuradores de cada um dos municípios do respectivo distrito, e a
Junta Distrital, eleita pelo Conselho.
1959- Quanto às informações
superficiais sabemos, que inicialmente o espaço emblemático do convento
parcialmente utilizado como hospício, passa a ser utilizado para prestar
serviços de carácter social, mas ligado à assistência infantil da Fundação
Bissaya Barreto, constituída em 1958 com um património inicial de 1.200 contos
de réis, inscrito pelo patrono, acrescentando um valioso património imobiliário
(urbano e rústico) localizado em diversos concelhos da região do centro do
país.
1975 A 1983 serviu de alojamento
de algumas famílias desalojadas das antigas colonias.
2000 – Depois colonia de férias
para crianças, pautou-se pela adaptação do mesmo a uma unidade hoteleira, como
nos é apresentada nos dias de hoje.
Fundação Bissaya Barreto inicia obras de
recuperação e de adaptação de convento a unidade hoteleira, actualmente com
todo o espaço revitalizado a funcionar como pousada a partir de Julho do ano
2000. - Integrada no conjunto das Pousadas de Portugal.