terça-feira, 25 de junho de 2013

O Massacre de 1506 em Lisboa



O Massacre de 1506 ficou como que apagado da memória colectiva, um pedaço de história esquecida que não está nos livros de História, caiu no esquecimento e são poucos os historiadores que lhe fazem referência. O horror e a violência foram descritos e reproduzidos por Damião de Góis, Alexandre Herculano, Oliveira Martins, Garcia de Resende, Salomon Ibn Verga e Samuel Usque.
     Este episódio, conhecido como o Massacre de Lisboa, acentuou o clima de crescente anti-semitismo em Portugal
     Os cristãos-novos que permaneceram fiéis à sua religião judia, considerados criptojudeus, inventaram todas as formas de esconderem a sua convicção religiosa. Consta-se que chegarão a mudar os hábitos de alimentação; fizeram enchidos de carne de aves para imitar os tradicionais chouriços de carne de porco, proibida aos judeus.
 O rei João III influenciado pela igreja sentiu-se usurpado, e manda instalar a Inquisição em Portugal em 1536, e ao estabelecimento de uma política severa e castigos em relação aos cristãos-novos. Os tribunais do santo ofício fizeram cerca de 1.500 vítimas mortais, que influiu no desaparecimento dos ofícios nas regiões de Trás-os-Montes e Beiras, onde os judeus eram os dinamizadores da produção de têxteis, sedas e lanifícios. 



     Samuel Usque (que escreveu a famosa Consolação às Tribulações de Israel) e a Bíblia de Ferrara, dedicada a Dona Gracia Mendes ou Gracia Nassi,(1) natural de Lisboa, mecenas e protectora dos judeus da Diáspora depois do Decreto de Alhambra, Pedro Nunes (matemático), Abraão Usque (editor e tradutor), Garcia de Orta (médico e naturalista), António José da Silva (dramaturgo), Ribeiro Sanches (médico) e Rodrigues Lobo (poeta) são alguns dos cristãos-novos portugueses com dimensão histórica e cultural nas áreas do pensamento, técnica, artes e letras. Muitos foram perseguidos por isso: Matias Pereira e Pedro Nunes Pereira, netos de Pedro Nunes, foram acusados de judaísmo e presos pela Inquisição em 1623; António José da Silva foi garrotado antes de ser queimado num auto-de-fé em Lisboa em Outubro de 1739; após a morte de Garcia de Orta, as suas ossadas foram descobertas e queimadas numa macabra cerimónia da Inquisição que deitou as cinzas ao mar. A sua irmã Catarina Orta, obrigada a acusar toda a comuna judia de Goa, sobre tortura, e em mau estado, com o corpo mutilado é queimada viva num auto-de-fé em Goa em 1569.

(1)        - Gracia Mendes ou Gracia Nassi, (1510-1569), conhecida também simplesmente como A Senhora, foi uma empresária portuguesa, filantropa, protectora de outros portugueses de religião judaica que como ela fugiram de Portugal no século XVI. Gracia salvou centenas de cristãos-novos e marranos da morte e das perseguições anti-semitas. A sua benevolência para com os outros judeus sefarditas ficou especialmente patente em Antuérpia, para onde foi viver depois de deixar Lisboa. Cidades seguintes na sua fuga às perseguições que lhe foram movidas foram Veneza, Ferrara e finalmente Constantinopla.


Alves Fernandes




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