O
Massacre de 1506 em Lisboa
O
Massacre de 1506 ficou como que apagado da memória colectiva, um pedaço de
história esquecida que não está nos livros de História, caiu no esquecimento e
são poucos os historiadores que lhe fazem referência. O horror e a violência
foram descritos e reproduzidos por Damião de Góis, Alexandre Herculano,
Oliveira Martins, Garcia de Resende, Salomon Ibn Verga e Samuel Usque.
Este episódio, conhecido como o Massacre
de Lisboa, acentuou o clima de crescente anti-semitismo em Portugal
Os cristãos-novos que permaneceram fiéis à
sua religião judia, considerados criptojudeus, inventaram todas as formas de
esconderem a sua convicção religiosa. Consta-se que chegarão a mudar os hábitos
de alimentação; fizeram enchidos de carne de aves para imitar os tradicionais
chouriços de carne de porco, proibida aos judeus.
O rei João III influenciado pela igreja
sentiu-se usurpado, e manda instalar a Inquisição em Portugal em 1536, e ao
estabelecimento de uma política severa e castigos em relação aos
cristãos-novos. Os tribunais do santo ofício fizeram cerca de 1.500 vítimas
mortais, que influiu no desaparecimento dos ofícios nas regiões de
Trás-os-Montes e Beiras, onde os judeus eram os dinamizadores da produção de
têxteis, sedas e lanifícios.
Samuel Usque (que escreveu a famosa
Consolação às Tribulações de Israel) e a Bíblia de Ferrara, dedicada a Dona
Gracia Mendes ou Gracia Nassi,(1) natural de Lisboa, mecenas e protectora dos
judeus da Diáspora depois do Decreto de Alhambra, Pedro Nunes (matemático),
Abraão Usque (editor e tradutor), Garcia de Orta (médico e naturalista),
António José da Silva (dramaturgo), Ribeiro Sanches (médico) e Rodrigues Lobo
(poeta) são alguns dos cristãos-novos portugueses com dimensão histórica e
cultural nas áreas do pensamento, técnica, artes e letras. Muitos foram
perseguidos por isso: Matias Pereira e Pedro Nunes Pereira, netos de Pedro
Nunes, foram acusados de judaísmo e presos pela Inquisição em 1623; António
José da Silva foi garrotado antes de ser queimado num auto-de-fé em Lisboa em
Outubro de 1739; após a morte de Garcia de Orta, as suas ossadas foram
descobertas e queimadas numa macabra cerimónia da Inquisição que deitou as
cinzas ao mar. A sua irmã Catarina Orta, obrigada a acusar toda a comuna judia
de Goa, sobre tortura, e em mau estado, com o corpo mutilado é queimada viva
num auto-de-fé em Goa em 1569.
(1) -
Gracia Mendes ou Gracia Nassi, (1510-1569), conhecida também simplesmente como
A Senhora, foi uma empresária portuguesa, filantropa, protectora de outros
portugueses de religião judaica que como ela fugiram de Portugal no século XVI.
Gracia salvou centenas de cristãos-novos e marranos da morte e das perseguições
anti-semitas. A sua benevolência para com os outros judeus sefarditas ficou
especialmente patente em Antuérpia, para onde foi viver depois de deixar
Lisboa. Cidades seguintes na sua fuga às perseguições que lhe foram movidas
foram Veneza, Ferrara e finalmente Constantinopla.
Alves Fernandes
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