Gomes Eanes de Azurara (ou Zurara), nascido depois de 1410 e morto
entre 1473 e 1474, sucedeu a Fernão Lopes em 1454,
e intentou continuar-lhe o plano de escrever a crónica de todos os reis
portugueses até àquela data. Para tanto, acrescentou a 3.ª parte à Crónica de
D. João I (também chamada de Crónica da Tomada de Ceuta, certamente sua obra
mais importante, à altura das do seu predecessor). Escreveu ainda: Crónica do
Infante D. Henrique ou Livro dos Feitos do Infante, Crónica de D. Pedro de
Meneses, Crónica de D. Duarte de Meneses, Crónica dos Feitos de Guiné, Crónica
de D. Fernando, Conde de Vila-Real (desaparecida).
Literariamente menos dotado que Fernão Lopes,
teve ainda a prejudicá-lo o facto de relatar acontecimentos mais ou menos
contemporâneos, socorrendo-se apenas de testemunhos orais, embora os submetesse
a escrupuloso exame. Azurara vale sobretudo como iniciador da historiografia da
expansão ultramarina, com a Crónica acerca da tomada de Ceuta (efectuada em
1415). Numa linha ufanista que culminará n’ Os Lusíadas (1572).
Seu
método historiográfico difere do de Fernão Lopes em alguns pontos essenciais, e
significa, até certo ponto, um retrocesso: preocupa-se com pessoas,
individualidades, e não com grupos sociais, atestando uma concepção meio
cavaleiresca da História, quer dizer, em que a acção isolada do cavaleiro
predomina sobre à da massa popular. Além disso, já se mostra permeável à
influência da cultura clássica, visível nas citações e em certos torneios
fraseológicos. Tal pendor para a erudição, nem sempre bebida na fonte
originária, e para ver suas personagens como "exemplos" morais, acabou
por comprometer-lhe as últimas crónicas, até fazê-las descritivas e algo
monótonas.
Retractando claramente a atmosfera
pré-renascentista que se ia formando na segunda metade do século XV, Azurara
trabalhou cerca de 20 anos. Sucedeu-o Vasco Fernandes de Lucena, que nada
escreveu apesar de ocupar o cargo mais ou menos 30 anos.
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