quinta-feira, 27 de março de 2014

Gomes Eanes de Azurara

     Gomes Eanes de Azurara (ou Zurara), nascido depois de 1410 e morto entre 1473 e 1474, sucedeu a Fernão Lopes em 1454, e intentou continuar-lhe o plano de escrever a crónica de todos os reis portugueses até àquela data. Para tanto, acrescentou a 3.ª parte à Crónica de D. João I (também chamada de Crónica da Tomada de Ceuta, certamente sua obra mais importante, à altura das do seu predecessor). Escreveu ainda: Crónica do Infante D. Henrique ou Livro dos Feitos do Infante, Crónica de D. Pedro de Meneses, Crónica de D. Duarte de Meneses, Crónica dos Feitos de Guiné, Crónica de D. Fernando, Conde de Vila-Real (desaparecida).
      Literariamente menos dotado que Fernão Lopes, teve ainda a prejudicá-lo o facto de relatar acontecimentos mais ou menos contemporâneos, socorrendo-se apenas de testemunhos orais, embora os submetesse a escrupuloso exame. Azurara vale sobretudo como iniciador da historiografia da expansão ultramarina, com a Crónica acerca da tomada de Ceuta (efectuada em 1415). Numa linha ufanista que culminará n’ Os Lusíadas (1572).
     Seu método historiográfico difere do de Fernão Lopes em alguns pontos essenciais, e significa, até certo ponto, um retrocesso: preocupa-se com pessoas, individualidades, e não com grupos sociais, atestando uma concepção meio cavaleiresca da História, quer dizer, em que a acção isolada do cavaleiro predomina sobre à da massa popular. Além disso, já se mostra permeável à influência da cultura clássica, visível nas citações e em certos torneios fraseológicos. Tal pendor para a erudição, nem sempre bebida na fonte originária, e para ver suas personagens como "exemplos" morais, acabou por comprometer-lhe as últimas crónicas, até fazê-las descritivas e algo monótonas.

Retractando claramente a atmosfera pré-renascentista que se ia formando na segunda metade do século XV, Azurara trabalhou cerca de 20 anos. Sucedeu-o Vasco Fernandes de Lucena, que nada escreveu apesar de ocupar o cargo mais ou menos 30 anos.

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