Poeta D. Afonso Sanches (24 de maio de
1289-02 de Novembro de1329) foi um nobre trovador, filho bastardo (depois
legitimado) e predilecto de Dinis I de Portugal, havido de Aldonça Rodrigues
Talha, e pretendente ao trono português.
«A obra poética de Afonso Sanchez
apresenta características das mais singulares dentro do âmbito da lírica
galaico-portuguesa. As nove líricas d’amor inscrevem-se, quanto à textura
formal, no número das mais requintadas do género, como exemplos de cantigas de
mestria à maneira provençal. Com efeito, os temas, a estrutura
métrico-estrófica e a retórica revelam um poeta culto e conhecedor da tradição
poética, embora capaz de variações por meio do registo irónico que, na última
cantiga, adquire um aberto carácter de troça do formalismo trovadoresco.»
Várias cantigas de amor de Afonso Sanches
são agora consideradas de grande qualidade, realçando-se a perfeição da sua
tenção com Vasco Martins de Resende, um dos seus escárnios de amor e a
paralelística que traz a sua assinatura.
O seu tema quase único era o amor. Um amor
no geral sem correspondência, apesar da grande coita (dor de amar e não ser
correspondido) que provoca, da sinceridade e empenho com que o vive o trovador.
Compreensivelmente, o núcleo principal da sua obra foi constituído pelas
cantigas de amor.
A
cantiga de amor era uma forma bastante fixa, em certo sentido comparável ao
soneto, até no tamanho. Mas ao contrário deste, muito fixo ao nível de
versificação e muito livre em relação ao tema, esta cantiga era bastante fixa
relativamente ao tema e oferecia certa margem de liberdade ao nível da
versificação.
Afonso Sanches tem várias cantigas dentro
do esquema da cantiga de amor ao modo provençal; mas tem outras, ditas
fragmentárias, que com bastante clareza se afastam dele.
Tematicamente, estas cantigas insistem no
serviço amoroso. Como é da convenção, o poeta assume uma atitude de grande
humildade frente à senhora que, no seu caso, parece ser sempre solteira –
refere uma vez «huna donzela que ey por Senhor», outra vez «a donzela/ por que
trobei» e, numa cantiga fragmentária de amigo, menciona-se «a donzela por que
sempre trobou» certo apaixonado. Tece-lhe o elogio, mas um elogio genérico, sem
particularização nem sequer ao nível psicológico-moral, quanto mais a nível
físico, como era da norma. O trovador pode dirigir-se à senhora, declarar-lhe a
sua «coita mortal», pode defender-se de «muitos» que lhe assacam que ele está a
receber favores da amada, mas é sempre uma retórica à volta de uma paixão que
não se consuma.
Estes poemas originalmente seriam de
grande perfeição formal; nas versões em que chegaram até nós, apresentam às
vezes falhas que desmotivam a leitura. As cantigas a que chamam fragmentárias –
apesar de, em termos temáticos, terem um evidente fechamento e de as suas
estrofes obedecerem, quase sem excepções, ao mesmo esquema rimático e métrico -
são, em certo sentido, mais convincentes.
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