Brianda de
Sólis
A deusa de Luiz Vaz de Camões, que
ludibriou a inquisição. Foi musa de Camões que o inspirou a escrever a obra “
deusa da ilha dos amores” do seu poema épico Os Lusíadas.
Brianda de Sólis, nascida nesta terra
alentejana, filha de Henrique de Solis e Ana Álvares, uma família castelhana de
origens judaicas que se viram obrigados a refugiarem-se me Portugal a fim de
escaparem à perseguição dos Reis Católicos, vindo para Alter do Chão, veio a partir
para a Índia em 1541, quando já vivia em Lisboa, acompanhada de sua família e
de Francisco Xavier, futuro apóstolo das Índias e santo, em cuja viagem ia
perdendo a vida, já que a nau em que seguiam sofreu um violento naufrágio, nele
perecendo muitos dos passageiros.
Chegado ao destino, viria a casar com
Garcia de Orta, também ele alentejano, de Castelo de Vide e de origem judaica,
já passado dos quarenta anos, do qual teve duas filhas.
O historiador Luís de Albuquerque,
acreditando na língua afiada de Catarina de Góis, cunhada de Brianda, escreveu
que “o casamento foi pouco feliz, porque a mulher era avara e arrogante,
desprezando o seu marido por ser inferior a ela”, o que parece inconciliável
com o estatuto de Garcia de Orta, próspero comerciante de pedras preciosas,
eminente cientista e médico muito conceituado na Índia, inclusive pela própria
Inquisição, que o trata sempre por “doutor”. O historiador Prof. Augusto da
Silva Carvalho, também com base na mesma fonte, acrescenta-lhe o labéu de
infiel e intratável.
Outras versões postas a circular, acusam
Brianda de comer carne em dias proibidos pela Igreja Católica e de ser
portadora de doenças venéreas (que teria transmitido ao marido), nunca tal se
provando, segundo a investigação da própria Inquisição.
A fama de severa e irascível seria
desmentida ao conceder a alforria à sua escrava, pagando-lhe a viagem de
regresso à sua terra, Benguela, em Angola, a fim de se juntar à família.
Ainda assim, não se livrou da áurea de
forreta, ao recusar amortalhar o cadáver do seu marido em pano novo. Tratou-se,
afinal, de simples precaução, já que tal prática era sinónimo de judaísmo e o
Santo Ofício de Goa era implacável. Que o digam as ossadas do marido,
desenterradas doze anos após o funeral e queimadas em auto-de-fé!
Mais falsa ainda, era a acusação posta a
circular por Catarina de Góis, segundo a qual a cunhada teria recusado a
entrada de Luís de Camões em sua casa, na ilha de Bombaim, da qual era senhora,
a única que o épico conheceu, transformando-a na deusa da ilha crismada dos
Amores, episódio relatado no Canto IX dos Lusíadas, estrofe 85: “uma delas
maiores a quem se humilha todo o coro das Ninfas e obedece. “
Brianda abandonou a Índia, talvez em
direcção à Holanda, escapando à terrível Inquisição de Goa.
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