quinta-feira, 27 de março de 2014

Brianda de Sólis

 Brianda de Sólis



      A deusa de Luiz Vaz de Camões, que ludibriou a inquisição. Foi musa de Camões que o inspirou a escrever a obra “ deusa da ilha dos amores” do seu poema épico Os Lusíadas.
      Brianda de Sólis, nascida nesta terra alentejana, filha de Henrique de Solis e Ana Álvares, uma família castelhana de origens judaicas que se viram obrigados a refugiarem-se me Portugal a fim de escaparem à perseguição dos Reis Católicos, vindo para Alter do Chão, veio a partir para a Índia em 1541, quando já vivia em Lisboa, acompanhada de sua família e de Francisco Xavier, futuro apóstolo das Índias e santo, em cuja viagem ia perdendo a vida, já que a nau em que seguiam sofreu um violento naufrágio, nele perecendo muitos dos passageiros.
     Chegado ao destino, viria a casar com Garcia de Orta, também ele alentejano, de Castelo de Vide e de origem judaica, já passado dos quarenta anos, do qual teve duas filhas.

     O historiador Luís de Albuquerque, acreditando na língua afiada de Catarina de Góis, cunhada de Brianda, escreveu que “o casamento foi pouco feliz, porque a mulher era avara e arrogante, desprezando o seu marido por ser inferior a ela”, o que parece inconciliável com o estatuto de Garcia de Orta, próspero comerciante de pedras preciosas, eminente cientista e médico muito conceituado na Índia, inclusive pela própria Inquisição, que o trata sempre por “doutor”. O historiador Prof. Augusto da Silva Carvalho, também com base na mesma fonte, acrescenta-lhe o labéu de infiel e intratável.

    Outras versões postas a circular, acusam Brianda de comer carne em dias proibidos pela Igreja Católica e de ser portadora de doenças venéreas (que teria transmitido ao marido), nunca tal se provando, segundo a investigação da própria Inquisição.
     A fama de severa e irascível seria desmentida ao conceder a alforria à sua escrava, pagando-lhe a viagem de regresso à sua terra, Benguela, em Angola, a fim de se juntar à família.

     Ainda assim, não se livrou da áurea de forreta, ao recusar amortalhar o cadáver do seu marido em pano novo. Tratou-se, afinal, de simples precaução, já que tal prática era sinónimo de judaísmo e o Santo Ofício de Goa era implacável. Que o digam as ossadas do marido, desenterradas doze anos após o funeral e queimadas em auto-de-fé!
     Mais falsa ainda, era a acusação posta a circular por Catarina de Góis, segundo a qual a cunhada teria recusado a entrada de Luís de Camões em sua casa, na ilha de Bombaim, da qual era senhora, a única que o épico conheceu, transformando-a na deusa da ilha crismada dos Amores, episódio relatado no Canto IX dos Lusíadas, estrofe 85: “uma delas maiores a quem se humilha todo o coro das Ninfas e obedece. “
     Brianda abandonou a Índia, talvez em direcção à Holanda, escapando à terrível Inquisição de Goa.


Sem comentários:

Enviar um comentário