quarta-feira, 11 de maio de 2022

Dicionário Beirão / antigo- Moderno

 

Dicionário Beirão / antigo- Moderno


A

 Alavoeiro — Beira Baixa — ajudante do pastor.

Alpiche — Beira Alta — água de vegetação da azeitona, carregada de albumina e de matéria negra e amarga, resultante da acção da água das chuvas e mesmo do orvalho e dos princípios amoniacais que contêm, sôbre o oleo e que com êle saem na espremedura

Alvado — lugar do cortiço

Alvarelhos — bagos de uva

Alvergue ou Alguergue  — diz-se assim o prato da prensa que espreme o bagaço da azeitona.

Abegão - Caseiro que tem a seu cargo a lavoura e a abegoaria de uma propriedade agrícola.

Amussar— o mesmo que estorcegar o linho.

Aguadeiros — o mesmo que lagueiros

Alavão — conjunto de cabeças de gado lanígero, de diferentes proprietários, de que um dado pastor toma conta e pastoreia em pascigos que arrendou na serra de S. João ou nas de S. Macário, Montemuro, da Nave, etc., e onde êsse gado se conserva até ao fim de Agosto, mediante certa quantia por cabeça, paga pelo dono respectivo — 110 réis, em tempos idos.   A câmara municipal de Ceia arrendava, noutros tempos, pastagens a 40 réis por cabeça.

Alavoeiro —   ajudante do pastor.

Alagar o linho  enriar o  linho.

Alavão  — denomina-se assim o conjunto de cabeças de gado lanígero, de diferentes proprietários, de que um dado pastor toma conta e pastoreia em pascigos que arrendou na serra,  onde êsse gado se conserva até ao fim de Agosto, mediante certa quantia por cabeça, paga pelo respectivo dono — $110 réis, em tempos (1906) idos. Na serra da Estrêla, a câmara municipal de Ceia arrendava, noutros tempos, pastagens a 40 réis por cabeça.

Azinagre —   o mesmo que alpiche.

Azada — grande balde em que se recebe o leite dos ferrados para ser transportado para a leitaria.

Almuinha — antigo — horta.

Alvarelhos — bagos de uva.

Alvergue  ou Alguergue  — diz-se assim o prato da prensa que espreme o bagaço da azeitona.

Ameijoar — antigo — meter o gado na malhada.

Alcatruzes – nora que eleva a agua do poço

Acéquia – canal de agua. 

Almece – soro do leite  que se separa do leite colhado

Adiafa – refeição oferecida aos trabalhadores no fim da faina agrícola. Podia chamar bucha ou merenda.

 

 Cabeçadas / Cabeceiras - -conjunto de "cabeças" ou "lugares altos

Catraia e Venda – casa de abrigo de cavalgaduras

 


Baganha  — bagaço de azeitona.

Bailoto — B. Alta — batata miuda.

Bardo  — Douro — «parreira vertical»

Barranha - vaso de barro, espécie de alguidar.

Barrocos —    grandes massas de rocha granítica.

Barbechar - arrancar as raízes.

 

 Campo - designado por ter casa isoladas.

Congosta – canada, quelha , azinhaga, caminho apertado entre dois muros - português popular-

Caruma — folhas secas do pinheiro, denominadas agulhas, que, depois de caídas no pinhal, são utilizadas livremente pelos pobres da região.

Canada - caminho estreito, ou ¼ de liquido

Canitos — Beira Alta — o mesmo que ganchas

Carpim - o mesmo que meióte. -meias cobrestilhas,

Caruma  — Beira Alta — película que reveste as castanhas ainda verdes e tenras.

Cibana  — Beira Alta — carga de lenha miúda, formada por três feixes.

Coçar — Beira serrana — sachar.

v

Colheita completa -(centeio e batatas) que, no período de dois anos, se tira da sorte, que, em sorte, coube ao lavrador.

Compasso (plantar) - termo a distância entre as plantas que formam uma linha. Também se considera o intervalo ou vão entre duas linhas contíguas , designando-se essa distância por compasso das linhas ou entre as linhas.

Condoito ou conduto    o complemento duma refeição, além do caldo e do pão.

Conheiras —   vassoura de «giesta negral»

Coucões - quatro peças verticais de madeira sob o tabuleiro do carro de bois.

Conrrobia — aglomeração de gente, arraial.« todos com o seu  chifre  atestado de vinho  para beber na festa.  »

Cordadas — molhos de linho submetidos à maceração.'

 Curral — Antigo — espaço que na igreja era cercado por bancos e destinado às pessoas de distinção.

 E

Esoanganhar —   desengaçar.

 I

Insua  — terreno de cultura, com area relativamente pequena, situado nas margens dos rios.

 

Levada ou regadeira – rego construído para transportar agua. 

Terra de cava- alqueive, terra deserta

Pousios , restolhos e Maninhos – Baldio ou Inculto. 

Segada -  ceifa

 e

 

Espada ferrum.- Charrua em Medieval

 

 

J

 

jazigos de caolino  -  fabrico de  tijolos- situavam-se numa  formação granítica( rochas detríticas)

Jugo — dizia-se assim uma junta de bois utilizada em trabalhos agrícolas

G

 

Gabela  — Antigo — imposto sobre o sal.

Gadanho —   arpão.

Gorrilhos —.   porcos da raça alentejana

 

 

F

 

“Filho espúrio- considerada “além de gente vil e baixa também mulher de ruim fama.”

Figueira baforeira — figueira selvagem, que  produz figos rebaldios não comestíveis

Fórróbódó —  bailarico, pandiga.

Fintar o pão —  levedar o pão.

 

P

 

Patrulha — Beira-Alta — o acompanhamento especial de cada um dos noivos no cortejo do casamento.

Os convidados são designados pela patrulha do noivo ou da noiva.

 Pé do vinho  — Vulgar — o mesmo que borra.

Pêgo do pão- côdea.

Peguilho — Beira Alta — o mesmo que condoito ou conduto.

Quando alguém  come pão sêco, diz-se-lhe : «apeguilha esse pão com qualquer coisa».

 Poejo — Beira Alta — a farinha mais fina, aquela que durante a moagem anda em suspensão no ar e enfarinha os moleiros.

Poia  — Beira Alta e Douro — pão ou bola com que se paga ao for- neiro do forno público ou particular onde se manda coser a fornada.

Pôrco branco — Antigo — «propina de 4S000 reis que pelo Natal se dava aos ministros da Mesa da Consciência».

Larica — Beira Alta — uma doença (qual ?) que ataca os cereais. pessoa enfezada.

Loja — curral ou  adega.

M

Morraça- Torrente de água que corre intensamente durante o período da chuva; terra negra misturada com  vegetação selvagem era  empilhada para ser utilizada como  estrume.

Meias cabrestilhas — Antigo — meias sem pé (

Meióte   — peuga para homem.

Meiuco —   meia para criança.

Merujar —   diz-se quando a água anda constantemente na terra de cultura, como sucede nos prados.

Miscaro — Vizeu — cogumelo comestível.

Moinhas – caruma , agulhas do pinheiro

Monda  — Antigo — pão pequeno que antigamente se dava de esmola aos pobres nas portarias dos conventos.

Mordiço — o mesmo que fatiga (fadiga)

 Manta morta -  terreno  desprovido de mato   -  Medas 

 

 

 

 

 

 

 

 

 MEDIDAS DE CAPACIDADE   Líquidos

1 oitava = 3 quartilhos

1 quarta = 1,5 canadas

1 cântaro = metade de um almude = seis canadas = 2 alqueires

1 tonel = entre 50 a 52,3 almudes

1 pipa = 25 almudes

1 canada = aproximadamente 1,5 litros

1 quartilho = 0,35 litros

1 almude = 16,8 litros

 

Sólidos

1 moio = 60 alqueires

1 arrátel = 459 gramas

1 alqueire = 13,8 litros

Comprimento

1 palmo = 22 centímetros

1 côvado = 66 centímetros

1 dedo = 1,8 centímetros

1 palma (1 punho) = 7 centímetros (4 dedos)

1 mão travessa = 11 centímetros (meio palmo)

1 palmo = 22 centímetros

1 pé = 33 centímetros

1 sexma = 55 centímetros (um pé e um palmo equivale a meia vara)

1 côvado = 66 centímetros (3 palmos)

1 vara = 1,1 metros

1 toesa = 1,98 metros (6 pés)

1 braça = 2,2 metros (2 varas ou 10 palmos)

1 légua = 5,5 quilómetros (5 mil varas)

1 chão = 6,60 x 12,20 metros (6 x 12 varas)

 

 Expressões 

 «Quem tem vinha em mau lugar, aos olhos vê seu mal».

Sem teres nem haveres – não tinha nada

«Comprar à cala ou tomar à cala: — comprar a olho 

(tomar a mulher em Camisa) — recebê-la em casamento sem dote.

 

«Andamos neste mundo para nos ajudarmos uns aos outros.» 

Os que não dão ajuda: Dão-se ajudas com o freio, o bridão e as pernas, além da voz, o assobio e o chicote.»

 Contar os dentes dos cavalos a fim de determinar qual a sua idade

Dar a vontade – prever o futuro. Fonte: D. Duarte, 1942, p. 146. LR

Dar ao cabo – voltar para trás. Fonte: D. Duarte, 1986, p. 133. AR

De so criaçom – da  sua criação

Decoada – cinzas fervidas em água, com a qual se limpa o estanho, a prata e a madeira.

Deixar as esperanças em agraço (frustrações)

Departidas cousas – diferentes coisas ou várias coisas

Deposla perfeiçom – atrás da perfeição.

Desagraciados – que não tem graça.

Dialauro – composição de pós feita à base de bagas e loureiro. Fonte: Bluteau, 1712-1728,

Dioso, diòso – que tem já muitos dias, e o que é  velho ou idoso

Dizimos a Deus – diz-se que os terrenos são «Dízimos a Deus »quando são   explorados  pelo lavrador,  tem a obrigação  de pagar o sustento  do  pároco (côngrua) da  Igrejas da sua freguesia.  Os Dizimos a Deus, ou  dizima  Eclesiástica -   a décima parte de todas as colheitas de  frutos , legumes da terra e criação de animais que se produzem. A  Doação, doaçam, doaçaõ, adoação –era um  acto público fora do  Dizimos a Deus  

Emparedadas –  de Galizes -  mulheres que viviam num recolhimento.

Enchedeira – espécie de funil que serve para encher chouriços |

Endoenças, andoenças – solenidades religiosas da Quinta-Feira Santa,

Fazer paço – fazer cortesia a alguém.

Gado à perca e ao ganho – é uma espécie de arrendamento pelo qual uma pessoa dá a outra um rebanho, bois, vacas, ou outros animais para esta guardar e pastar, com a condição de em tempo determinado, ou segundo o costume da terra, partirem o lucro.

Imposição de mãos do (…)– gesto litúrgico que consiste em estender ou pousar as mãos sobre a cabeça ou ombro de alguém. Exprime integração e bênção; é empregue no ritual do baptismo, da confirmação, da ordem, da santa-unção, da consagração de bispos,

Ir a fio – que seguem uns atrás dos outros, embora não devidamente alinhados

Ajuda de trabalho — auxílio dado pelos vizinhos nos serviços do campo, a quem por si só os não pode fazer por doença, nem tem dinheiro para pagar a quem lhos faça.

 Os camp0s eram os locais incultos e  o cenário  da ignorância e da miséria, onde se habitua a viver no meio da mais estéril apatia e ociosidade.

A lavoura converte desertos, onde reina a miséria, a fome e a doença, em regiões populosas, sadias e férteis.

 «Pelo S. João, arranhadela de cão».

O terreno se não  for limpo,   fica sujo durante um grande período do ciclo vegetativo da videira.

 Diz-se que a qualidade da terra tem a ver  com a qualidade do  homem que o cultiva. Diz-se no Norte, em relação à vinha:   «só admite a sombra do dono e até a agradece».

  a videira  não aceita estar perto  de qualquer planta durante o  seu período vegetativo. As  fileiras de videiras devem  estar  distantes umas  das outras quinze, vinte  palmos.

vinha de enforcado, vinha de pé, vinha rente ao chão, latada, parreira ramada

as vinhas  em altitude oferecem vinhos finos  e as restantes  «vinho de ramo»

o óptimo até ao muito ordinário

Arrêto = calco, combaro, geio —muro que divide propriedades de encosta em talhões, afim de as terras não escorregarem.

 Vou Arrobar um bom  gado -— Avaliar o peso do boi ou da vaca a olho, olhando para o jarrete da rez e esmando da grossura dêle as arrobas que tem.

A casa dos pesos -«Pesar o jarrete para achar o pêso em arrobas.

 Arrumar a vinha - abrir, com a charrua, um rego de cada lado dos linhois para aconchegar às cepas.  Por vezes,  a escava é feita à enxada, abrindo regos seguidos dum e outro lado de cada linhol.

 « vinho  d’Outra Banda» sumo da uva, muito  alcoólico, mas com o  verdor e a rascância reduzida dado ao engaço.

 «Pelas adiafas da ceifa, o Lavrador rico  depois  matava   um chibato barbão para fazer um  ensopado, findou a empreitada, o lavrador está satisfeito

É vulgar dizer-se quando vimos o perigo:

— «Julguei ser o último dia da minha vida».

Um feitor do Minho, em carta dirigida ao seu patrão, em Fevereiro de 1941, a propósito dos efeitos,  do ciclone que assolou o país nos dias 15 e 16 daquele mês:

  — «julguei ser a minha derradeira».

Assim diziam das   trágicas consequências tinham

«Porcos com frio, homens com vinho fazem grande ruido». — Popular.

 A propósito de anedotas  …

Recordo-me, duma anedota que muito naturalmente se pode ter dado ou vir a dar-se:

 Beber sempre o branco e do tinto com assento;

  Escorripichar o copo até ao fundo até ficar com acréscimo.

 Fazia da garganta um rigueiro  até ficar farto ; inebria os lábios  de poesia,

 Quem  tomava o gosto  muito cedo nunca deixava de beber». 

 Tufo de palha que os mariolas e os Galegos  trazem ao pescoço e sobre ele   assenta a canga

 Eirada era a quantidade de milho que ao mesmo tempo seca e se escoanha na eira.

 

 

diz o nosso povo:

 

«Tu julgas ser mais do que eu

 Por teres mais olivais?

Debaixo da campa fria

 Todos nós somos iguais».

 

«Quem é pobre, sempre é pobre,

Quem é pobre nada tem ;

Quem é rico, sempre é rico,

E às vezes não é ninguém».

 

«Não há nada como a morte

 Pr’acabar a presunção,

Com quatro varas de chita

E sete palmos de chão».

      I

«O dinheiro e mais dinheiro

 Faz a paz e mais a guerra ;

Belos condes e marquezes,

Em morrendo, tudo é terra».

                               II

 «Homem rico tem dinheiro,

O pobre também n’o tem ;

O rico gasta o que quere,

O pobre gasta o que tem».

 

Vou para a  arrenda do milho é:   sacha com amontoa.

  andava uma orquestra dispersa a sachar os milharaes

Minha mãe, case-me cedo,

Enquanto sou rapariga,

Que o milho sachado tarde Não dá palha, nem espiga.

(Popular)

 

                III

Dizem que não sei sachar,

Que todo o milho arranco:

Ainda Deus me ha de dar

 Uma leirinha no campo.

(Popular)

      IV

«Eu sou sua filha (do vinho)

Gerada nos finos vapores;

Derrubo por três dias,

Quem se finta nos meus amores».

 

 

 

linguagem   algo confusa

 

A propósito, Severo Portela dá-nos conhecimento das seguintes «composições» populares da Beira Alta :

 

Padre-nosso pequenino,

Quando Deus era menino,

Subiu aquele outeirinho;

Viu lá andar um pastorinho,

Perguntou-lhe se era cristão:

 

Ele disse-lhe que nflo.

Puxou pelo seu cutelo.

Bateu-lhe no coração.

Oh ! cutelo tâo estimado,

Bendito e louvado».

 

— «Pastor do verde prado.

Quem vos deu novas da serra ? !

— Um anjo de Deus mandado

 Que desceu do ceu à terra ».

 


 Norça preta — Vulgar — uva de cão - As raízes, o tubérculo napiforme (em forma de cabeça de nabo) em cataplasma, curam contusões e feridas e em massagens aliviam o reumatismo, a artrite e a ciática; são rubefacientes e avermelham a pele. Recordo-me de serem apanhadas num  pinhal    húmido,  sombrios e  fresco.

 Olho da enxada — Vulgar — pequena cristã sôbre o alvado e oposta à pá.

Parreira  — Vulgar — o mesmo que latada.

 

                                       Dicionário do vinho 

 

 

A Dionisos — o deus campestre, o deus do vinho — foram dedicadas, em tôda a Grécia e em todos os tempos, festas várias, tais como os mistérios (as chamadas festas dos iniciados) e que constavam de procissões grotescas e de orgias de bacantes. Em todo o caso, eram objecto de culto especial, de predilecção singular do público, entre todas essas manifestações, as festas denominadas oscophorias, ou sejam as festas da vindima.

Foi nas Dionisiacas — as grandes e variadas festas em honra de Dionisos — que se representaram as obras principais do teatro grego. No século V antes de Cristo surge a religião de Bacco — sobrenome de Dionisos — que da Grécia irradiou e que Roma praticou desde a primeira república, celebrando culto público, ora a Bacco, confundindo-o com a velha divindade nacional — Liber pater — ora ao Dionisos helenico.

Mas, de par com isto, praticava-se também, secretamente, os mistérios. dionisos ou bacatiaes, segundo todas as lendas e atributos res- pectivos, o que tudo, por abusivo e escandaloso, foi proibido 168 anos antes da era Cristã.

 

Quanto melhor provido for o terreno de substâncias alimentares e melhores forem as suas propriedades físicas lhes dá boa nutrição».

Assim, tudo se reduz, tudo se transforma utilmente, como é sabido até na crença popular, como me parece, se verifica nesta afirmação que é corrente na Beira: «no princípio do mundo, quando o homem cavava a terra, esta abria a boca e gritava. O homem queixou-se a Deus e o Senhor disse à terra : Cala-te, que tudo criarás e tudo comerás».

 

  quadra popular :

 

«Se passares pelo adro,

No dia do meu enterro,

Diz à terra que não coma

As tranças do meu cabelo».

 

Segundo dizem os apreciadores, não se deve agitar o vinho do Porto Velho, contido em garrafa coberta com o pó. Limpa-se bem, a garrafa sem agitar para não perder as características incomparáveis do néctar. Deve-se verter no copo como está.

 

  Maneira de filosofar — que muitas vezes ouvi — tem sua razão de ser 

 

O nosso frei Lucas de Santa Catarina disse, em 1660, que «o vinho deve ser venerado por toda a gente, visto que é a muleta dos velhos, a bengala dos moços, o apito dos enfermos, as cócegas dos tristes, a gaita dos alegres, a esmola dos pobres, o melaço dos marotos, o cachimbo dos pretos, o chocolate dos lacaios, o mimo das damas, o beijo das frei- ras, a mecha das moças e o borralho dos velhos».

 

O vinho quanto mais velho melhor! O vinho que não perde a força, nem perde a cor... Tem o travor do pecado mas morre na boca. É mais doce que o vinho perfumado que bebido a  rigueiro  até ficar farto,  inebria os lábios  de poesia…

 

«Uma adega não pode prescindir das teias de aranha, onde êste insecto governa e dispõe com a liberdade de que gozavam os frades no interior dos conventos».

 

Os vinhos  eram  conservados em toneis encanteirados em adega fresca, durante 2 ou 3 anos, e ao fim desse tempo eram esses toneis expostos durante certo período de tempo à acção livre do ar, sol e chuva ;

 

Vinhos vigorosos,  eram envasilhados e mantidos em lugares frescos, a que chamavam cella vinaria,  eram enterradas  -  praticas romanas- velha uso que ainda vigora em Boticas, qual é a de enterrar os vinhos de melhor qualidade, depois de engarrafados. (Estufagem, Mortos de Boticas)

Passa pela casa do tio  Jacinto que sabe  o que há-de  dizer!

O rapaz passivo e vagaroso, quase sempre imperfeito, quer fugir da ignorância para pedir a sua amada em casamento. Não estando bem ciente como falar com o   pai dela, passou pela casa do casamenteiro      para  consulta-lo   como  empregar as palavras… e como era costume com todos bebeu o  vinho da  casa   que  entusiasma; alegra o ôlho, solta a língua e arranca as palavras certas.  

 

São referidas cenas alegres, manifestações de ternura, episódios trágico-cómicos… dom da inspiração profética…

O vinho pode pôr o homem com vários estados de espírito; revoltado ou mais simpático e sincero e deixa de ser quem era com a verdade que sempre ocultou. O dia seguinte esquece-se  de  ser quem foi. 

 Era habito Pinga de  vinho;  — Norte —vinho bebido por convite. «Beber uma pinga»-

É considerado obrigação oferecer «uma pinga» às visitas. Levar a visita á adega com  uma  mesa decorada por azeitonas ou uma lasca de bacalhau crú e   broa, -  que chamavam  «pu- xavante», para «fazer lastro» aconchegar  o estomago.

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