Retirado do Correio de Coimbra
A
palmatória foi o mais importante instrumento punitivo usado pelos veteranos da
Universidade de Coimbra até à Revolução de 1910. Intimamente associada às
imagens disciplinares do ensino da gramática e primeiras letras pelos mestres,
a chibata e a palmatória em formato de espátula ocorrem na iconografia medieval
como símbolos de um dos saberes do Trivium, a Grammatica, ministrada nas
Faculdades de Artes Liberais. As palmatória primitiva seriam em formato de
espátula, com ou sem furos, algo próximas das espadelas do linho que em
Portugal sobreviveram até ao século XX.
O ensino à base da memorização, disciplina
e obediência à autoridade do mestre ficou longamente associada aos colégios da
Companhia de Jesus, onde se usava a palmatória, estabelecimentos abolidos pelo
Marquês de Pombal em 1759.
Este instrumento disciplinar esteve em
uso em Portugal nas escolas de instrução primária, colégios e seminários
católicos até meados do século XX. Conhecida na gíria escolar por “Santa Luzia” e “Menina
dos Cinco Olhos”, a palmatória
apresentava cabo curto trabalhado em torno de marceneiro e pá circular com
cinco perfurações (José Leite de Vasconcelos, Etnografia Portuguesa, VIII,
1982, p. 505). Era chamada “Santa Luzia”, uma vez que a sua forma lembrava a
bandeja onde Santa Luzia exibia ante os crentes os olhos que lhe haviam sido
arrancados no martírio.
A palmatória é abundantemente referida na
literatura coimbrã Até 1910 e aqui e ali nos processos disciplinares da
Polícia Académica como o instrumento mais utilizado na aplicação de
palmatoadas, boladas ou “bolas” nas palmas das mãos. Palmatórias havia que
tinham uma face coberta de couro e outra esculpida. Os furos funcionavam como
ventosas e formavam bolhas e hematomas nos sítios onde a pá fustigava a pele.
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