A tasca do Poço do Gato
Antes da actual subestação eléctrica do
Poço do Gato cruzavam-se os caminhos; o ponto de encontro dos amigos, dos
inimigos, dos gados da transumância, dos mercadores, dos batalhões de soldados e
onde se davam os assaltos. É local de lendas. Ponto de encontro dos irmãos e amigos
que nasceram nas redondezas e nunca se separaram. Os homens andam vagarosamente
pela estrada com todos os sentidos concentrados- sem noção das distâncias…
Não
deixam de vir de longe assomar no horizonte o Poço do Gato, efectuosos e
saudosos dos tempos de infância.
A
tasca do Poço do Gato, era onde se ouvia os segredos e se desvenda a amizade
dos anos somados. O espaço comercial não passava de um cubículo onde apenas
cabia a pipa do vinho, o fogareiro e com muita dificuldade se acomodavam os
frequentadores. Ali, comia-se e bebia-se à fartazana. Quem não tinha dinheiro
pagava no fim do mês, ou quando podia. A tasca celebrizou-se pelo seu bom peixe
frito e copo de vinho.
No cruzamento do Poço do Gato, na estrada
para Candosa havia uma Taverna sinalizada com dois ramos de loureiro, um
colocado junto à estrada e outro sobre a sobre a porta da tasca com espaço de
um cubículo, onde apenas cabia uma pipa de vinho, e outra de aguardente, o
fogareiro. O taberneiro mal se podia mexer ao partilhar o espaço com velhinha
de cabelos brancos, orbitas vermelhas e humedecidos, magra, corcovada, na
confecção do peixe frito fritar.
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A taberna do Poço do Gato estava identificada
por uma pernada de loureiro erguida
junto à margem da estrada.
A tasca no cruzamento do Poço do Gato com
o caminho para Candosa situava-se recuada do bulício da estrada. A minha mãe
recorda-se de mesas e bancos de pedra e outros de madeira.
Mãe
e filho trabalhavam quase sem descanso. A mãe cozinha e o filho atendia atrás
do balcão. Embora a tasca seja um barraco pequeno, dava muito trabalho. O local
tinha uns recantos destinados aos que traziam o farnel (merenda) e só compravam
o vinho. Dizia o meu tio que algum resto que caísse no chão era «varrido pelos
melros, pardais esquilos (desaparecidos) e mochos.
As
sobras da tasca ficavam à mercê dos animais nocturnos; gatos e da pega-rabuda.
A taberna do Poço do Gato era onde se podia
estender os braços e as pernas. Satisfazia-se o ventre refrescando-se a goela e
comprava-se um livro de mortalhas. A construção do barracão tinha um telhado
com um pequeno beirado que acomodava poucos clientes da chuva.
A tasca celebrizou-se pelo seu bom peixe
frito e vinho servido em copos estreitos e altos de vidro grosso (quarta ou
meia canada) acompanhado por uma fatia de pão de milho. Os dias em que havia
sardinhas, os viajantes sentavam-se no exterior sobre as pias vazias ou, no
chão a comerem uma batata e duas sobre um prato em cima dos joelhos.
O taberneiro contava histórias aos
viajantes que ali passavam, demorando-os para não pararem de bebericar.
O uso da expressão da sopa de feijão
queimado era muito vulgarizado na tasca do Poço do Gato.
A sopa com um trago sabor a feijão
queimado
por se ter pegado ao fundo da panela.
Cozer feijão consumia alguma lenha e uma
manhã inteira. Quem punha a panela ao lume depois ia à vida dela. Controlava o
tempo de voltar para casa. Levantava a tampa da panela, metia a colher de pau e
mexia muito bem para o feijão não pegar ao fundo. Por vezes por um minuto, o
feijão pegava ao fundo da panela.
Há quem dissesse no final de comer a sopa, que
ela tinha um sabor a queimado com a intensão de não a pagar, e outros para
enfurecer a cozinheira.
A estrada dos que vão e vêm no Poço do
Gato. O caminho da
fuga no tempo das invasões francesas, a poucos metros à frente, na direcção da Guarda
existe o caminho sulcado por burros e marcas fundas das rodas fundas dos carros
solitários por uma cautelosa descida a um vale baixo com pomares vinhedos, e
casinhas vistas á distancia.
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