segunda-feira, 11 de abril de 2022

A tasca do Poço do Gato

 

 A tasca do Poço do Gato

 

 

     Antes da actual subestação eléctrica do Poço do Gato cruzavam-se os caminhos; o ponto de encontro dos amigos, dos inimigos, dos gados da transumância, dos mercadores, dos batalhões de soldados e onde se davam os assaltos. É local de lendas. Ponto de encontro dos irmãos e amigos que nasceram nas redondezas e nunca se separaram. Os homens andam vagarosamente pela estrada com todos os sentidos concentrados- sem noção das distâncias…

Não deixam de vir de longe assomar no horizonte o Poço do Gato, efectuosos e saudosos dos tempos de infância.

 

 

A tasca do Poço do Gato, era onde se ouvia os segredos e se desvenda a amizade dos anos somados. O espaço comercial não passava de um cubículo onde apenas cabia a pipa do vinho, o fogareiro e com muita dificuldade se acomodavam os frequentadores. Ali, comia-se e bebia-se à fartazana. Quem não tinha dinheiro pagava no fim do mês, ou quando podia. A tasca celebrizou-se pelo seu bom peixe frito e copo de vinho.

     No cruzamento do Poço do Gato, na estrada para Candosa havia uma Taverna sinalizada com dois ramos de loureiro, um colocado junto à estrada e outro sobre a sobre a porta da tasca com espaço de um cubículo, onde apenas cabia uma pipa de vinho, e outra de aguardente, o fogareiro. O taberneiro mal se podia mexer ao partilhar o espaço com velhinha de cabelos brancos, orbitas vermelhas e humedecidos, magra, corcovada, na confecção do peixe frito fritar.

- A taberna do Poço do Gato estava  identificada por uma pernada  de loureiro erguida junto à margem  da estrada.   

     A tasca no cruzamento do Poço do Gato com o caminho para Candosa situava-se recuada do bulício da estrada. A minha mãe recorda-se de mesas e bancos de pedra e outros de madeira.

Mãe e filho trabalhavam quase sem descanso. A mãe cozinha e o filho atendia atrás do balcão. Embora a tasca seja um barraco pequeno, dava muito trabalho. O local tinha uns recantos destinados aos que traziam o farnel (merenda) e só compravam o vinho. Dizia o meu tio que algum resto que caísse no chão era «varrido pelos melros, pardais esquilos (desaparecidos) e mochos.

 

 

As sobras da tasca ficavam à mercê dos animais nocturnos; gatos e da pega-rabuda.

   A taberna do Poço do Gato era onde se podia estender os braços e as pernas. Satisfazia-se o ventre refrescando-se a goela e comprava-se um livro de mortalhas. A construção do barracão tinha um telhado com um pequeno beirado que acomodava poucos clientes da chuva.

     A tasca celebrizou-se pelo seu bom peixe frito e vinho servido em copos estreitos e altos de vidro grosso (quarta ou meia canada) acompanhado por uma fatia de pão de milho. Os dias em que havia sardinhas, os viajantes sentavam-se no exterior sobre as pias vazias ou, no chão a comerem uma batata e duas sobre um prato em cima dos joelhos.

      O taberneiro contava histórias aos viajantes que ali passavam, demorando-os para não pararem de bebericar.

     

      O uso da expressão da sopa de feijão queimado era muito vulgarizado na tasca do Poço do Gato.

      A sopa com um trago sabor a feijão queimado por se ter pegado ao fundo da panela.

      Cozer feijão consumia alguma lenha e uma manhã inteira. Quem punha a panela ao lume depois ia à vida dela. Controlava o tempo de voltar para casa. Levantava a tampa da panela, metia a colher de pau e mexia muito bem para o feijão não pegar ao fundo. Por vezes por um minuto, o feijão pegava ao fundo da panela.

 Há quem dissesse no final de comer a sopa, que ela tinha um sabor a queimado com a intensão de não a pagar, e outros para enfurecer a cozinheira.    

 

     A estrada dos que vão e vêm no Poço do Gato. O caminho da fuga no tempo das invasões francesas, a poucos metros à frente, na direcção da Guarda existe o caminho sulcado por burros e marcas fundas das rodas fundas dos carros solitários por uma cautelosa descida a um vale baixo com pomares vinhedos, e casinhas vistas á distancia.

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