terça-feira, 10 de maio de 2022

Cemitérios

 

Cemitérios medievais

 


     Os primeiros cemitérios medievais situavam-se nos montes, conhecidos como localização tranquila para o enterro de um túmulos de rei ou de cavaleiro. 

Geralmente o anglo-saxónica era enterrado com um manto, itens pessoais de joalharia ou ornamentos cristãos como cruzes.

     À medida que a religião católica se consolidou pela Europa, os túmulos em montes saíram de moda e os locais de descanso reais migraram para cemitérios ou túmulos junto ou dentro de igrejas e catedrais. Os bens mortuários deixaram de ser sepultados com o seu proprietário.

      Os enterros de gente com estatuto inferior até ao  seculo XV: eram fora da igreja. os  corpos envoltos em sudários eram depositados directamente na terra sem qualquer estrutura funerária associada.

 

São referidos crânios e esqueletos  diante   dos altares, lugar privilegiado dos ministros de Deus sepultados com  uma concha na boca –  os  monges com concha de vieira na boca pertencentes   aos mosteiros  de    Santiago de  Compostela.  

      Os enterro com uma moeda na boca, havendo fontes literárias gregas e latinas moeda na boca debaixo da língua.” – Remonta à Grécia e Roma antigas. Era um pagamento para Caronte  (óbolo de Caronte" utilizada pelos arqueólogos) o barqueiro que transportava almas através do rio que dividia os mundos dos vivos e dos mortos. De acordo com os arqueólogos, são encontrados sepultamentos de alguns adultos e num grande número de crianças do século XVI com uma moeda de pouco valor, oferecida como esmola.

Exemplos: sarilhos grandes; localidade de Jeżowe, na Polônia.

 Segundo algumas lendas e tradição oral, o cemitério infantil era um local separado, mas não há nada comprovado (escrito) nas paroquias .



Enterros em igrejas

      A ignorância dos ricos homens considerados mecenatos das igrejas, quer tudo faziam para decorar os templos, tendo contrapartida de instalar os jazigos da família dentro e fora da igreja, estando convencidos de que estavam perto de Deus.

      Enterros em igrejas foram prática comum até meados do século XIX, excepto os suicidas, sem o direito pela prática da sua morte não estar de acordo com os princípios da religião. Os cemitérios, chamados «campos santos» situavam-se no meio das cidades ou das vilas, normalmente ao lado ou atrás das igrejas sem qualquer muro a resguardar do perímetro habitacional que se acercava das sepulturas do exterior.  

     Os sepultamentos no interior, considerados locais sagrados estavam reservados aos nobres católicos, os mais prestigiados, lendo-se nos vários assentos de óbito o lugar: campa brasonada abaixo do altar era de pessoas de maior intimidade com a fé. Pessoas com algum destaque como um benfeitor, dono de um morgado ou um padre.

 

As minhas consultas aos livros de óbitos levaram-me a conhecer expressões do seculo XIX:

      «Sepultada em "cova própria" dentro da igreja, pedra junto à pia baptismal; sepultado em "cova própria" dentro da igreja, pedra diante da porta de entrada;  – e assim sucessivamente : - sepultado na capela,” cova da fábrica", junto ao altar.»

     A menção do local, sendo alguns em cova "própria" e outros em "cova da fábrica", concluo que a primeira tivesse sido adquirida para ali ficar para sempre, e segunda fosse provisoria para uma futura transladação.

Também existe a expressão: -« por já não haver mais lugar dentro da Igreja , cova própria situa-se no Adro   

E um documento assinalava: lápide de pedra, por não haver já memória da sua pertença.

      Possivelmente o valor a pagar era mais caro dentro do que fora, levantando-se então aqui a hipótese de o local do enterramento não ter só a ver com a distinção da pessoa, mas também a ver com disponibilidade financeira.

 Conforme rezam os assentos de óbito. As epidemias que varreram o país entre 1833 e 1855 reforçaram de modo contundente, a imperiosidade da medida e acabaram por condicionar o nascimento dos cemitérios fora dos espaços da igreja. A 21 de Setembro de 1835, foi publicado o decreto, assinado por Rodrigo da Fonseca, que determinava a criação de cemitérios públicos em todas as povoações. E, em 28 de Setembro de 1844 foi publicado o decreto que proibia os enterramentos no interior das igrejas.

     A guerra civil tinha acabado há apenas dez anos, nem todas as feridas estavam saradas e outras novas tinham sido abertas pelas políticas cabralistas.

 O local de construção dos cemitérios continuou a ser objecto de debate no séc. XIX, dada a concentração populacional nas cidades. Em Lisboa, foi elaborado um parecer por uma comissão nomeada em 1878 para indicar a melhor forma de extinguir as valas (Ferreira, 1880), no qual se sugere a cremação como forma eficiente de resposta à escassez de terrenos nos limites da cidade. serão, muito provavelmente, encontradas sepulturas em recintos públicos ou privados.

                         Interdição dos enterros junto às igrejas   

 Decretada a interdição dos enterros junto às igrejas por higiene publica ofendeu os sentimentos religiosos da população, que acreditava a que o repouso dos mortos deveria ser perto dos santos, foi quanto bastou para eclodir uma Saturados de tantas injustiças uma faísca fez eclodir um barril de pólvora, assim que, a forte oposição popular à proibição dos enterramentos nas igrejas foi a causa imediata da Revolta dos velhos guerrilheiros absolutistas, conhecida pela guerrilha de «Maria da Fonte,» que, por sua vez, está na origem directa de mais uma guerra civil, «A Patuleia,» que assolou Portugal entre 1846 e 1847 e só terminou após intervenção militar inglesa e espanhola.

 Os desprestigiados eram comumente enterrados em valas colectivas, não tinham direito à sepultura eclesiástica, sem nenhuma assistência religiosa. nem todos  eram merecedores da alma eterna.

Lugar privilegiado para os sacerdotes e ministros da Ordem, debaixo do altar-mor, para quem muito pagou 

 As sepulturas eram cavadas com seis palmos de profundidade.  Para ajudar o processo de decomposição, cobriam-se os cadáveres com cal. Em seguida, jogava-se terra sobre

 Pobres tinham direito a serem soterrados nas igrejas, apenas com a diferença de se verem arredados para lugares incógnitos e sem direito a lápides sepulcrais.

 

                                     Os suicídios

Na verdade ninguém sabe o que vai na alma dos que premiam o gatilho do suicídio.

 Dona Francisca Colaça mulher que de Joaquim Cabreiro, não recebeo sacramento algum por se achar afogada em huma  lagoa do dito lugar    onde  vivia  como boa cristam e temente a Deos .

 “Perpetua Alves viuva de Joaquim Coelho de Everdal, moradores que erão na ditta Aldea da Varzea.  Esta, “fez testamento no Livro das Notas desta Villa  com testamenteiro parente Joaquim Alves, co mesmo apelido da testadora   

Costume antigo de enterrar vários corpos na mesma campa, dentro das igrejas, não se sabe, ao certo, a quem pertencem os ossos que hoje repousam nesses túmulos.

                                              A ascensão do cristianismo

      o século XVII, e durante o século seguinte, apesar de haver evidências do uso de caixões (pregos de ferro), a maior parte dos enterramentos terá sido feita directamente no solo ou, eventualmente, com sudário.

 A administração dos Reais Hospitais Militares estava entregue aos Hospitaleiros de S. João de Deus, que também recebiam outros doentes. 

A responsabilidade do tratamento de amortalhar o defunto e abrir a cova dos mortos recai sobre o casal de hospitaleiros, ou chamada hospitaleira que teriam trabalhadores civis geridos pela  ordem religiosa. 

 Alfinetes no sudário representam uma ritualização da forma de tratamento do morto, uma normalização. Este ato íntimo seria perpetuado pelos hospitaleiros de São João  de Deus, podendo conter rituais como a lavagem do corpo e rezas

 O planeamento das necrópoles de Época Moderna mostrava uma preocupação sociais, culturais e religiosas, tornando-se um problema de saúde pública devido ao número de corpos depositados em espaços pequeno, e em tão curto espaço de tempo a comprometer o tempo normal da decomposição do corpo.

Um relatório de maio de 1694, no pico de uma crise epidémica, da autoria do Comendador-Mor da Saúde, Domingos Nogueira de Araújo, descreve que as doenças no Castelo estavam provavelmente relacionadas com os corpos, já à superfície

 A ideia de instalar os cemitérios públicos longe dos locais de habitação tinha já sido defendida entre nós por Pina Manique, em 1787 mas recebera pouco eco junto das populações, tendo sido instituída unicamente em 1844, aquando da publicação da Reforma da Saúde Pública.

Sem comentários:

Enviar um comentário