segunda-feira, 16 de maio de 2022

Extravagâncias de D. Maria Pia

 

Extravagâncias de D. Maria Pia    

 

  Depois da morte do marido, o Rei D. Luís, em 1889, na Cidadela (Cascaes), surgem varias versões:

Quando D. Maria Pia abandona Cidadela, dizia-se que a viúva não querendo voltar ao Palácio decidiu comprar um chalé na marginal, Monte Estoril, onde passava longas temporadas com o seu filho mais novo, o infante D. Afonso. A verdadeira razão está na discórdia de D. Carlos em suportar os encargos do numero de  criados e reduzir as despesas da casa real. 

A Rainha-mãe, seguramente era a figura mais extravagante da família, em claro contraste com a nora. A documentação arquivadas das despesas da casa real provam que gastou uma fortuna em obras de arte, pratas, sedas e móveis para mobilar a sua nova residência de férias, apesar de as finanças reais estarem já em ruptura. Pediu então dinheiro emprestado ao conde de Burnay, o homem mais rico no fim da monarquia, e como caução deixou-lhe jóias, que recuperaria assim que saldasse a dívida – o banqueiro acumulou 369 peças de ourivesaria da Rainha-mãe, que foram leiloadas em 1912 para recuperar o dinheiro emprestado, segundo Eduardo Alves Marques, autor do livro «Se as Jóias Falassem.»

 

Numa altura em que D. Maria Pia já estava cheia de dívidas às ourivesarias Leitão & Irmão, estes solicitavam a regularização dos pagamentos que enviavam por carta. os recibos arquivados provam que a

  Rainha-mãe conseguiu pagar o que devia, e que de imediato contraiu novo empréstimo no valor de 350 mil reis à  ourivesaria Leitão & Irmão para comprar um faqueiro de prata, que ainda existia   no seu chalé da marginal,  Monte Estoril.

 o  serviço de prata era  o terror dos empregados sempre que a Rainha-mãe os mandava servir o jantar na praia. "Armava-se uma grande barraca de lona, mas era um castigo para nós, a enterrarmo-nos na areia, e sempre com medo de que lá ficasse perdida alguma colher de prata. (…) Às vezes fazia-se noite, cerrava-se o nevoeiro, e não sabíamos por onde andávamos, com o serviço às costas. A sr.ª D. Maria Pia não percebia as dificuldades por que passávamos. Não descia a certas coisas, e ninguém se atrevia a dizer-lhe nada", queixou-se Vital Ferreira Fontes,  moço da sala da casa real, criado da monarca, que   deixou um livro de memórias « Servidor de Reis e de Presidentes.»

 

Mas muitos outros dramas estão registados pelos seus serviçais nas deslocações do Palácio da Ajuda para o período de vilegiatura em Mafra:

      -  "Para fazer as coisas como a Sr.ª D. Maria Pia desejava, tinha de se andar dum lado para o outro com carrões de móveis e roupas, porcelanas e cristais, tudo enviado com dias de antecedência para estar já armado quando a Rainha chegasse. (…)

 

  Da Ajuda para Mafra ia um piano e o seu afinador por que com a Sr.ª D. Maria Pia tinha que andar tudo afinado"! - frisa Vital Fontes,  o criado da Rainha, que também se recorda da Rainha-mãe andar  de  patins em Mafra , ainda desconhecidos Portugal.   

 

O conde de Mafra, Tomás de Mello Breyner, confirma nas suas memórias que a família real mandava transportar para ali todos os anos os fogões de sala, as braseiras e o piano, que eram transportados  sobre carros puxados por bestas com   oito homens a  fazerem a viagem de 40 quilómetros a pé.

 

Outra excentricidade da época foi "o primeiro elevador que se conheceu em Portugal", referido pelas damas de D. Maria Pia, e pelo criado Vital Fontes que o descreveu: " subir com 10 pessoas, à custa doutros tantos homens que o puxavam à corda."

Este elevador construído no Palácio de Sintra era puxado por 16 homens. Quatro em cada corda.

  Raul Brandão contou nas suas memórias que D. Maria Pia estava constantemente a fumar charuto e a atirar as pontas para onde calhava, sobre os sofás e os tapetes, o que deixava sempre o criado em sobressalto, com receio de que deflagrasse um incêndio.

 D. Maria da Piedade Correia de Lacerda Lebrim de Vasconcelos [1857-1925] dama D. Maria Pia como a Marquesa do Unhão, Deixa-nos algumas informações.

 D. Maria Pia  era Vista como uma mulher nervosa, que reagia mal ao bater de uma porta, não usava perfumes, por lhe provocarem dores de cabeça. A sua despreocupação com o orçamento familiar foi ao ponto de, no dia em que nasceu o seu primeiro neto, o príncipe D. Luís Filipe (filho de D. Carlos e D. Amélia), ter oferecido relógios de ouro a todos os fidalgos.

 

     As festas faziam passar o mal humor da rainha velha. D. Maria Pia, estava visivelmente satisfeita, a receber os régios visitantes e personalidades no alto da escadaria principal em companhia das damas camaristas da sua comitiva particular: Marquês de Soveral, Luís Maria Pinto de Soveral, conde de Sabugosa, conde de Tarouca e Figueiró,  visconde de Asseca, p coronel Duval Telles,  major Garcia Guerreiro, condessa de Antrim e Figueiró,  condessa de Seisal, conde da Ribeira Grande,  coronel Duval Telles, visconde de Asseca e  conde de Arnoso. Seguiam atrás o coronel Benjamim Pinto, o conde de Sabugosa, o coronel Fernando Eduardo de Serpa Pimentel. A  rainha velha seguia na frente para  receber  as visitas  régias  estrangeiras no largo do pátio interior do Paço de Sintra (hoje exterior) com a sua  larga escadaria, encontrava-se a guarda de honra composta por 50 homens do   Batalhão de Caçadores 2 apresentando  armas sob o comando do capitão Chrysogono Pinto.

                                       O ascensor do Paço de Sintra

  Consta-se a existência de um elevador no palácio de Sintra  ao cimo da rampa à direita da escadaria, que fazia a ligação aos aposentos da rainha viúva: 

        - Prosseguindo pela rampa à direita da escadaria chegava-se ao “elevador”,  que fazia a ligação  entre o piso térreo e os aposentos da rainha viúva, no andar nobre, próximo da Sala dos Cisnes.- referido por  D. Maria da Piedade Correia de Lacerda Lebrim de Vasconcelos 

       O ascensor instalado num pequeno pátio de onde era puxado por um cabo com “guincho” controlado manualmente por vários criados. O interior da cabina e os dois bancos, um  de cada lado   “estofados em   seda adamascada”.

  O ascensor evitava a rainha e os seus convidados, duques de Connaught,, imperador da Alemanha e  presidente da República Francesa  em 1907 a  subirem cerca de sessenta degraus da escadaria da fachada principal e das duas escadas interiores, em pedra que ainda hoje levam os visitantes até ao andar nobre. Mas o restante séquito de convidados eram conduzidos para a Sala dos Cisnes.

     Os almoços eram servidos na Sala das Pegas. “onde sempre foi  a “casa de jantar dos reis. “Composta por uma mesa de Estado, para 40 pessoas, sempre com a mesma disposição de lugares. A Marquesa de Belas ficava entre o marquês soveral e o Conde de Sabugosa de um lado, e a Marquesa de Unhão do outro lado.   

 


Entre os criados da casa real , estavam os reconhecidos de maior confiança do rei D. Luís e da rainha-mãe , o Manoel Caetano da Silva, o “senhor Manuel” referido nos jornais, “primeiro cozinheiro e encarregado da Real Cozinha” no Paço da Ajuda, e o  “commendador Antonio Duarte” “encarregado do serviço das mezas de Estado  do Paço da Ajuda, não esquecendo o mestre-sala conde de Figueiró, sob as ordens do mordomo-mor da Casa Real, conde de Sabugosa.

. Jorge da Cruz Reis, almoxarife do Real Paço de Sintra, responsável pela gestão da equipa do almoxarifado, pela administração financeira da propriedade régia.  Fernando de Serpa Pimentel. Era o “Inspector-geral do Real Palácio”. 

      Os restantes funcionários experientes, ao serviço da Casa Real pertenciam a um escalão mais inferior como o conhecido Vital Fontes que nos descreve: - A casa real no tempo de D. Luiz contava com cerca de 80 criados, sendo o seu número reduzido a metade pelo rei D. Carlos.

 

Sem comentários:

Enviar um comentário