A toponímia must’arab atesta esta convivência, que se
prolongou muito para além das datas comummente definidas como balizas
históricas, pois estas populações continuaram entre nós, numa frutuosa
coexistência, muito depois de 1249 (conquista do Algarve) ou de 1496 (édito de
expulsão dos judeus de Portugal).
Devoção entre os moçárabes, São Félix, Santo Adrião e Santa
Natália,
https://stringfixer.com/pt/Mozarabic_rite
Assim, os cristãos moçárabes puderam venerar os
seus santos (Santa Maria, S.
Vicente, S. Brás, S. Cucufate, S. Sisenando, S.
Manços, Santa Iria, S. Paio, S.
Mamede…),
A única liturgia moçárabe referida na Sé Velha de Coimbra,
onde, em certas ocasiões, se celebra missa no rito hispânico. (Coimbra, Lorvão,
Vacariça, Anadia, Lafões, )
as comunidades falavam, na sua maioria, idiomas românicos tradicionais e,
simultaneamente, o árabe
Mesmo depois da
Reconquista, os milhares de árabes que viviam na península ficaram entre nós,
uns como escravos, outros como forros ou livres.
D. Afonso Henriques deu carta de fidelitatis et
firmitudinis às comunidades de Lisboa, Almada, Palmela e Alcácer do Sal.
: a partir do reinado de D. Pedro I, os
Mouros continuaram a residir na periferia das cidades, nas
cerca de vinte mourarias ou aljamas, de que há notícia nos séculos XIV e XV.
a longa convivência tornou inevitável a entrada de
numerosos arabismos na língua portuguesa, calculando-se que constituam cerca de
8% do nosso léxico.
Porta moçárabe, no interior do antigo mosteiro de S. Jorge
de Milreus (1084), em Coimbra
técnicas do tijolo na construção das paredes; ; os arcos de ferradura, os ogivados e os de
“pleno cintro”;
janelas geminadas ou de ajimez;
Pavimentos de tijolo e / ou de azulejo;
Telhas vidradas e polícromas de inspiração oriental; -
impossível
Ornamentação baseada em motivos florais estilizados e
geométricos;
Tectos de madeira
concebidos segundo a técnica do alfarge:
lavor de alfarge, também denominado almoçárabe, dominou, aliás, toda a
arte decorativa de interiores em Portugal, desde a conquista árabe até ao
primeiro terço do Século XVIII.
Alarifes mouros, ou inscrição (já pouco nítida) nas paredes
das igrejas.
A instabilidade
político-social e o clima de guerra civil que se vivia terá até levado algumas
figuras proeminentes da sociedade goda a encorajar os Árabes a entrarem na
Península. Alguns autores consideram que não terá havido “conquista da
Al-Andalus (Hispânia) mas uma ocupação, conseguida com base na entrega
espontânea das terras por visigodos no acordo motivado, pela vitalidade
inovadora da civilização muçulmana. a debilidade e a falta de coesão do estado visigodo-
Assim, na Hispânia, passaram a coexistir cinco grupos
etnicossociais: os baladiyym, provenientes da Arábia, senhores da Ibéria e do
norte de África;
Os muwalladim [muladis],
Disseminados um pouco por toda a toponímia
portuguesa, Arneiro(s), Arnado, Arnal, Arnela(s) e Arnosa (além de inúmeros
compostos) são nomes de lugar.
Continuadores e
derivados do latim ARENA ‘areia’, que também conservam -Nintervocálico, ao
contrário das formas galego-portuguesas areia, areal, areeiro,
areosa…, também muito
frequentes entre nós.
Moçárabes (de musta’rab que significa
“arabizados”), ou (entre os árabes), que são cristãos hispano-visigótica que
viviam em Al-Andalus, adaptados a
alguns costumes árabes sem se converter ao islamismo, territórios
conquistados pelos muçulmanos misturava-se com os muçulmanos no período que
compreende desde a invasão árabe da Península Ibérica (711) até ao final do
século XI.
( dom Juan Miguel
Ferrer Grenesche, vigário-geral da Arquidiocese de Toledo, especialista em rito moçárabe.)
Particularmente na
região do antigo reino visigodo de Toledo. Povo com uma liturgia
que nasceu no século IV, na península ibérica com o antigo reino
visigodo de Toledo com seu riquíssimo
património. chegou ao nosso tempo.
Alguns cristãos de
origem visigótica, não convertidos ao catolicismo pensaram em converterem-se ao
arianismo fazendo-se muçulmanos. Quanto às
tentativas de converter os muçulmanos ao cristianismo, foi uma
provocação.
A interrogação está na reforma gregoriana. Seria o fim do rito
moçárabe , em favor do rito romano?
Mosteiro moçárabe de San Miguel Escalada
levantado em 913 no lugar de uma pequena capela visigótica. a planta e basilical , de três naves – inspirada
em igrejas pré-romântica . o ambiente
é muçulmano requintado – colunas e arquivoltas
de pedras , molduras de estuque ,
capiteis e ornatos das arquitraves. As
paredes e ladrilho de pedra em arquitectura moçárabe-muçulmano num átrio isolado - espaço
sagrado, distanciado de uma
aldeia de taipa com o reboco barro calcado com palha a descobrir-se sob ardência
da luz intensa do sol, transformado em tom dourado.
O Mosteiro de San Miguel de Escalada é um
mosteiro espanhol que se localiza no Caminho de Santiago, relativamente perto
da cidade de Leão, na província de mesmo nome, e do qual hoje apenas resta uma
igreja.
Em 973 o bispo de Astorga fez erguer numa
aldeia perdida dos arredores de Ponferrada o templo de santiago de Penalva no
meio da rusticidade de uma montanha com paredes de pedra solta que, contrastam
com as colunas, arcos de ferradura e rendilhados ornados de estuque. As colunas
são de rocha metamórfica do arcaísmo, extraídas das pedreiras locais.
(Crónica de D. João I,
parte I, p. 382).
qasr ‘fortaleza, palácio’,
Alenquer
- topónimos
híbridos em que o artigo árabe é anteposto ao nome latino, IUNCARIU ‘juncal’,
locativo que, na época proto-histórica, se revestiria da forma iunquerio.
Tejo, do latim TAGU, terá evoluído, nos dialetos moçárabes,
para *Tajo e Tejo,
Alvalade influência do árabe al-balat ‘zona plana, chão’.
Grândola, do latim GLANDULA, diminutivo de GLANDE
Latina PALATIU
‘palácio’,
PINU ‘pinheiro’
Espichel (Setúbal), nome
derivado de *espiche / espicho — Originário do cruzamento do latim SPECULA
‘atalaia’ e SPECULU ‘espelho’.
São Brás de Alportel - PORTELLU,
diminutivo de PORTU ‘abertura, passagem entrada de um porto.
‘bouça; mata de carvalhos
jovens’:- Carvalhosa
Alcolombal e Columbeira -
‘pombal’
(pomba)
Calveiras, Calvaria(s)
Calves, Quinta de Calvel - lugares de pouca vegetação, tal como sucede com a forma popular covo
‘lugar sem vegetação’
Alcácer, Alcaçarias, e Cacela são topónimos românicos arabizados. veiculado
pelo árabe qastallâ, deriva do latim CASTELLU
Alandroal e Barranco da
Alandroeira assentam no nome da planta loendro (LORANDRU), a que se aglutinou
a(l). a denominação dos lugares onde abundam
os alandros (‘arbustos ornamentais conhecidos por cevadilha’)
Feliteira, Feiteira, Feitos e Feitoso - testemunham a abundância de fetos no
nosso território.
Carapinha(s), Carapelhos,
Carapinheira, Carapinhal - *CARPA /
CARPINUS ‘espécie botânica arbustiva / arbórea’.
Alpendrada (Setúbal) e Alpendurada(s)
- morfologia
inclinada dos terrenos.
Sine (s), Messines SINU
‘curva, concavidade, baía’.
Moreno (s) deriva do latim MAURU ‘habitante da Mauritânia
( Mouro)
Espadana (s), Espadanal –
derivam da planta SPATHA -‘espátula;
espada’, reportando-se, provavelmente, à planta cujas folhas estreitas e compridas
se assemelham a uma espada.
Quando, em Abril ou
maio de 711, Tarique atravessou o estreito de Gibraltar e desembarcou no
promontório do Calpe, D. Rodrigo, o último dos reis godos reinava na Península Ibéria
- Al-Andalus –( nome que os
árabes davam) e três anos depois passou para a posse dos árabes
.
“A debilidade, a falta
de coesão por parte do estado visigodo, e a instabilidade político-social e o
clima de guerra civil que se vivia terá até levado algumas figuras proeminentes
da sociedade goda a encorajar os árabes a entrarem na Península. Alguns autores
consideram mesmo que não terá havido uma “conquista” árabe, mas uma ocupação
espontânea à civilização muçulmana. “
Hispânia,
passou a pertencer a cinco povos étnico-sociais: baladiyym, provenientes da
Arábia; berberes da Mauritânia, parcialmente islamizados; os muwalladim
[muladis], hispano-godos convertidos ao islamismo.
Os judeus e os moçárabes (must’arab ou
mustarib, que significa ‘submetido aos árabes, arabizado) com direitos
específicos regidos pela comunidade árabe. Hispano-godos também submetidos ao
domínio muçulmano, mas não assimilados. Viviam em comunidades separadas e
dispunham de instituições e autoridades próprias. Os descendentes dessas
populações homogéneas continuaram a viver em Al-Andalus muito depois de 1249
(conquista do Algarve) ou de 1496 (édito de expulsão dos judeus de Portugal).
Mouros
e sarracenos, Os topónimos de algumas vilas e aldeias com grandes comunidades são
testemunhadas a presença de norte a sul do país:
Vilar de Mouros (Caminha),
Eira dos Mouros(Monção), Mourosas (Cinfães), São Martinho de Mouros (Resende),
Meda de Mouros (Tábua), Cova dos Mouros (Palmela), Horta dos Mouros
(Almodôvar), Azinhal dos Mouros, Esteval de Mouros (Loulé), Cerro dos Mouros
(Silves), Presa dos Mouros (Lagoa), Moura, Cabeço da Moura (Tomar), Mourão,
Mouraria (Caldas da Rainha, Albufeira), Vale de Moura (Évora, Santarém), São Pedro
de Sarracenos (Bragança), Serrazim (Vila Verde), Serrazina (Oliveira de
Azeméis, Condeixa-a-Nova) …
A “pegada” dos mollites, ou seja, dos
muladis está igualmente marcada nos nossos nomes de lugar: Moldes (Arouca,
Paredes de Coura, São Pedro do Sul, Viana do Castelo, Vila do Conde, Vila Nova
de Famalicão), Cela de Moldes (Arouca) e Torre deMoldes (Barcelos).
Os
judeus nos legaram vários topónimos: Judeu (Loulé), Malhada do Judeu (Faro),
Malhada dos Judeus (Moura), Monte do Judeu (Moura, Serpa, Fronteira), Monte dos
Judeus (Arronches, Castelo Branco), Porto Judeu (Penela, Monchique), Vale de
Judeus (Setúbal), Vale Judeu (Loulé), etc.
a presença das populações
moçárabes está ainda assinalada na toponímia —Casal da Monservia (Loures),
Casal de Monservia (Sintra), Moçarria (Santarém), Monçaravia (Alenquer),
Monsarros, Vila Nova de Monsarros (Anadia), Monte de Monçarves (Viana do
Alentejo) — e na antroponímia antiga: Maria Mozaraba, Petrus Mosarabe (1167),
Dominicus Mozaravinus (1232).
Toponímia testemunha a
presença de mouros em Meda de Mouros
(Tábua),
A “pegada” dos muladis em São Pedro do Sul
E a presença das populações
moçárabes está ainda assinalada na toponímia — Casal da Monservia (Loures),
Casal de Monservia (Sintra), Moçarria (Santarém), Monçaravia (Alenquer),
Monsarros, Vila Nova de Monsarros (Anadia), Monte de
Monçarves (Viana do Alentejo)
— e na antroponímia antiga: Maria Mozaraba, Petrus Mosarabe (1167), Dominicus
Mozaravinus (1232).
Alandroal – planta
loendro que se aglutinou a(l)
Alandros ‘arbustos ornamentais
conhecidos por cevadilha’. qasr
‘fortaleza, palácio’.
O latim Altariu ‘altar; elevação onde se fazem
sacrifícios’ é continuado, na
Toponímia, do galego-português outeiro, que
contrasta com a forma moçárabe alter, presente em Alter do Chão e em Alter
Pedroso (Portalegre), onde se verifica aimela, passagem de [a] tónico a [e],
bem como a apócope da vogal final.
Alvalade -
topónimos híbridos, documentados a partir de 933: Albalat, Alualad,
Alualati. Campo de Alvalade Grande e Campo de Alvalade Pequeno
Carapinha (s), Carapelhos,
Carapinheira, Carapinhal e Carapeto(s)-
espécie botânica arbustiva /
arbórea’. Anaptixe de [a], amplamente documentada em fontes moçárabes, onde é
bastante frequente o aparecimento de uma vogal entre consoantes.
Qastallâ, deriva do latim
Castellu
Cabo Espichel (Setúbal), nome derivado de
*espiche / espicho
Pax Julia dos romanos era
vulgarmente conhecida por Pace,
TAGU, terá evoluído, nos
dialetos moçárabes, para *Tajo e depois Tejo,
Brejo - *Bragu ‘terreno
pantanoso, alagadiço’, de origem celta. documenta-se desde 1176
Benavente - é um nome que
continua Aventi, o genitivo do nome próprio românico Aventus, ao qual se
aglutinou o náçabe árabe ben.
Pai Viegas - Paio <- Pelaio
– PELAGIU
Monte Aiseque, numa inquirição
de D. Afonso III —
Monchique - está também
presente atípica terminação moçárabe -ique.
Ourique - nomes de lugar -radica no genitivo
do antropónimo godo Auricus com as
formas antigas Oric, Ouric, Ourich, Aurich e Aulich)
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